Preconceito na base e salvo por um jornalista: as histórias de Blanco, novo reforço do Atlético

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
29/06/2017 às 17:49.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:19
 (Divulgação/América)

(Divulgação/América)

Preconceito sofrido pela boa situação financeira da família, olhares tortos por ser o único das categorias de base do Bahia a ir treinar de carro, vício em leite em pó, e dificuldade para atingir o mesmo nível físico dos atletas da equipe principal. Prestes a ser anunciado como novo reforço do Atlético, o volante Gustavo Blanco, emprestado pelo clube nordestino ao América, coleciona histórias de superação no mundo da bola.

Revelado pelo Tricolor da Boa Terra, Blanco, de 22 anos, precisou suar a camisa em dobro para vingar no esporte que escolheu como profissão. Chegar à equipe principal, inclusive, só foi possível devido a um "anjo da guarda".

Lesionado quando estorou a idade de juniores, e sem a devida atenção do Bahia, o volante usou o plano de saúde pessoal para se tratar do problema muscular. Ao voltar das férias e se reunir com a diretoria para renovar o vínculo, descobriu que não estava mais nos planos. Porém, com apoio de Éder Ferrari, ex-gerente do clube baiano, e respaldo do treinador, Sérgio Soares, recebeu nova chance. No final de 2015, inclusive, figurava entre os titulares.

"Eu era jornalista e, no papel de setorista do Bahia, me sentia na obrigação de acompanhar tudo do clube mesmo que não fosse pauta. E nessa, eu sempre ia assistir aos jogos da base. O Bahia tinha um juvenil 1994 muito bom, que dava gosto de ver. Gustavo era titular desse time, que também tinha Talisca, por exemplo, e me chamava atenção demais", relembra Ferrari.

"Porém, quando subiu para o Sub 20, Blanco passou por momentos complicados. Sofreu preconceito por ser de família com boa condição financeira. Era o único que tinha carro próprio, um Hyundai I30. Nessa foi perdendo espaço, ficando praticamente três anos sem jogar na categoria", completa. 

O automóvel, segundo relato do "anjo da guarda", foi dado pelo pais após um assalto sofrido por Blanco, que morava no Cidade Jardim, um dos bairros mais luxuosos da capital baiana. Ir de ônibus até o Fazendão, Centro de Treinamentos do Tricolor, se tornou uma rotina bem arriscada.

Questionado sobre a condição física do meio-campista, o ex-dirigente rechaça qualquer problema. Segundo ele, o problema físico de Gustavo Blanco, já na equipe principal, era simplesmente falta de jogo. "Qualquer jogador que ficar três anos sem jogar, vai sentir a parte física quando tiver a primeira sequência de partidas. Ele não jogava 90 minutos completos desde o juvenil", afirma.

Nas graças de Sérgio Soares, Blanco recebeu tratamento especial no clube baiano. Para atingir o mesmo nível físico dos demais atletas, ele realizou trabalhos específicos e teve acompanhamento de nutricionista. O pote diário de leite em pó, antes insubstituível, deu lugar a suplementos e outros tipos de alimentos.

"Ele sentiu muito a carga nos primeiros dois meses, mas depois se acostumou. Tivemos até que controlá-lo, porque ele chegava em casa e ia fazer atividades na academia do prédio onde morava. Ele achava que tinha treinado pouco. Deu para perceber o jeito dele, né?" brinca Ferrari.

Gerente do Bahia até o meio do ano passado, Éder Ferrari segurou Blanco no clube

Chance no Atlético

Prestes a ser anunciado como novo reforço do Atlético, com contrato até dezembro de 2018, Blanco chega para brigar pela titularidade. Pelo menos, na opinião daquele que não o deixou ser esquecido no mundo da bola. A versatilidade, maior característica, pode ser a principal arma para cair nas graças do comandante gaúcho e da Massa atleticana.

"É um menino com bastante intensidade e entrega no jogo. Parece que está no campo todo. Ele tem a característica que o Atlético não tem hoje. Vai bem ao ataque, infiltra pelo lado direito, tem um bom passe, marca muito e não desiste nunca das jogadas", analisa o ex-gerente do Bahia.

"Com o passar do tempo ele corrigiu a ansiedade de querer estar em todos os lugares sem pensar no posicionamento. Tem tudo para virar um grande jogador e tem uma inteligência de jogo muito grande. Ele chega para brigar para ser titular no Galo", conclui.

Blanco chegou ao Bahia aos 16 anos e encontrou barreiras nas categorias de base

 Ficha Técnica:

Gustavo Blanco Petersen Macedo 
DATA DE NASCIMENTO: 1994-10-03(22 ANOS)
NATURALIDADE: Salvador (BA)
​ALTURA: 1,73m PESO: 64 kg

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