O envolvimento de conselheiros do Cruzeiro em ações da Operação Lava-Jato, dentre eles o ex-presidente do clube Zezé Perrella, deixou a comunidade cruzeirense com um sentimento de pesar pelo envolvimento, mesmo que de forma terceirizada, do nome da agremiação em denúncias de corrupção. E justamente por isso, faixas anônimas foram afixadas durante a madrugada de terça para quarta-feira (24) em frente ao prédio da sede administrativa estrelada no Barro Preto, região Centro-sul de Belo Horizonte, questionando principalmente o trabalho do conselho administrativo da instituição.
Nas faixas, o presidente do conselho celeste, João Carlos Gontijo, é questionado sobre um possível afastamento dos conselheiros envolvidos nas denúncias que "explodiram" na última semana. São eles, além de Zezé Perrella, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, Mendherson Souza Lima, assessor parlamentar de Perrella, Frederico Pacheco de Medeiros, primo de Aécio Neves, Gustavo Perrella, filho do ex-presidente do clube, e Euller Nogueira Mendes.
"João Carlos Gontijo, o que você fará com os seis conselheiros investigados que caíram na Lava-Jato? Providências já!", diz uma das faixas.
O Hoje em Dia ouviu o atual presidente do conselho deliberativo cruzeirense, que respondeu aos questionamentos de cada faixa.
"Venho com grandeza e caráter pedir que, aqueles que quiserem fazer qualquer tipo de manifestação em relação à minha pessoa, que faça diretamente a mim e não por meio de faixas apócrifas. Vamos assentar, discutir, ouvir todas as ponderações de cada lado de uma forma tranquila e transparente. Tenho convicção de que, como advogado que sou, não posso tomar qualquer decisão sem respeitar o pleno exercício da lei", disse Gontijo em entrevista ao HD.
Além dessa faixa, outras foram afixadas em pontos estratégicos da rua Timbiras, onde está localizado o imóvel da sede administrativa cruzeirense, cujo prédio leva o nome do ex-presidente Zezé Perrella, um dos citados nas últimas delações da Lava-Jato que se tornaram públicas. Todas direcionadas ao conselho do clube, principalmente ao seu presidente, João Carlos Gontijo.
"O conselho age por impulso e, portanto, qualquer conselheiro que quiser pode encaminhar proposta, ofício com seu questionamento que vamos responder e encaminhar a situação da forma mais transparente possível. Eu estou tranquilo, não vi ainda as faixas, mas sei que elas foram instaladas nos arredores da sede administrativa. Estava em Brasília em reunião com ministros e cheguei nesta manhã a Belo Horizonte. Já recebi mais de 30 ligações só nesta manhã, de conselheiros natos, me dando total apoio pela forma como tenho conduzido o conselho do clube. Estou tranquilo", comentou o presidente do conselho deliberativo.
Embate ideológico
Por ser um apoiador antigo de Zezé Perrella, Gontijo também foi questionado sobre sua opção política em uma das faixas. "O presidente do conselho deveria ser isento, mas apoia descaradamente o Zezé Perrella".
Desde a última semana um embate ideológico acirrou ainda mais o clima entre conselheiros pró-Gilvan de Pinho Tavares e os que se entitulam oposição. Membros do conselho deliberativo apoiadores de Gilvan enviaram e-mail aos conselheiros solicitando que os interessados assinassem documento de inscrição na chapa "Pelo Cruzeiro tudo, do Cruzeiro nada". As imagens circulam desde o começo desta semana no WhatsApp.Reprodução
Essa chapa, que tem o atual presidente do clube e seu "braço direito" José Francisco Lemos como grandes mentores, segundo fontes ouvidas pelo Hoje em Dia, já trabalham visando às eleições presidenciais no fim do ano. Além de tentar capitanear conselheiros para a aprovação da mudança do estatuto do clube.Reprodução
No entanto, o próprio presidente do conselho enviou mensagem eletrônica dizendo que o e-mail enviado pelos apoiadores de Gilvan extrapolava o limite estatutário no que diz respeito às eleições para o conselho deliberativo, marcadas para dezembro. E que como ainda não foram inscritas chapas para a eleição do conselho, e-mail como os enviados pelos apoiadores de Gilvan não poderiam ter sido encaminhados aos conselheiros. Reprodução
Perguntado se esse movimento apócrifo seria uma resposta ao embate ideológico ao qual o conselho está imerso desde a última semana, João Carlos preferiu não entrar muito no mérito.
"Não posso afirmar que foi por isso e nem posso dizer quem foram os responsáveis pelas faixas. O movimento foi anônimo. Espero que essas brigas internas parem de acontecer e que todos pensem no bem único e exclusivo do Cruzeiro. Aproveito para falar com todos os cruzeirenses, que possamos criar uma unidade em prol do clube. Essas brigas não nos levarão a lugar algum". comentou.