(FOTO: Washington Alves/MPIX/CPB)
Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e vice-presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), o jornalista carioca Andrew Parsons, de 38 anos, iniciou a trajetória no paradesporto nacional ainda em 1997, como estagiário de comunicação do próprio CPB. Eleito presidente da entidade em 2009 e reeleito em 2013, ele é o principal responsável pelos ótimos resultados que o país tem alcançado nas principais competições paralímpicas. Focado nos Jogos do Rio, em 2016, ele diz que sairá da entidade com a sensação de dever cumprido ao final do mandato, em março de 2017. Desde que começou no CPB, o Brasil deu um salto do 24º lugar na Paralimpíada de Sidney (2000) para a sétima colocação em Londres (2012). Após a primeira colocação no Parapan de Toronto encerrado no último dia 15, com direito a recorde de medalhas (257, no total), Parsons, nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, ratifica a meta do CPB de o Brasil terminar entre os cinco primeiros na Paralimpíada do Rio.
O Brasil superou no Parapan a meta estabelecida pelo CPB. Até que ponto isso surpreendeu você? Fizemos um ótimo trabalho de preparação para chegar em Toronto e alcançar nossas metas que eram: ficar com o maior número de medalhas de ouro, maior número de medalhas no quadro geral, superar o desempenho dos Jogos Parapan-americanos de Guadalajara, em 2011, e do Rio, em 2007. Ou seja, não foi uma surpresa, conseguimos extrair o máximo possível deste grupo de atletas.
O que gostaria de destacar sobre esse desempenho no Parapan? Quais atletas e/ou equipes surpreenderam mais? Acho que o grande destaque são para as modalidades que deram um salto de resultado em relação ao Parapan anterior, como o tiro com arco, halterofilismo, golbol e tênis em cadeira de rodas, que deram um salto representativo. Além disso, tem que ser destacado os resultados que tivemos no atletismo e na natação, que já eram esperados. Outros esportes como o vôlei sentado, o futebol de cinco e de sete também merecem destaque, já que a competição no Parapan era de alto nível.
O resultado no Parapan é um termômetro para a Paralimpíada?
Não chamo de termômetro, mas temos que fazer uma leitura e análise em cima de cada resultado, em cada modalidade. Por exemplo, no atletismo, na natação e no ciclismo, que são modalidades por tempo ou distância (nos arremessos), é só fazer uma projeção em cima do ranking mundial. Mas nas disputas que envolve um time ou atleta contra outro, o fato de ser uma competição apenas do continente americano tem que ser levado em consideração, como é no tênis de mesa, no tênis em cadeira de rodas, no judô, entre outras modalidades. De uma forma geral o resultado que tivemos no Parapan de Toronto, nos dá confiança de que estamos no caminho certo e que temos que continuar seguindo o planejamento que traçamos para a Paralimpíada.
Para a Paralimpíada no Rio, em 2016, o objetivo do CPB é o quinto lugar no quadro de medalhas. Esse excelente resultado no Parapan é suficiente para mudar essa meta? Dá para sonhar mais? Apesar de ter sido um grande resultado, não muda a nossa meta do quinto lugar na Paralimpíada. Acredito que essa já seja uma meta muito agressiva que traçamos. Se olharmos o nosso resultado em Londres, quando terminamos em sétimo, com 21 medalhas de ouro, isso significa que precisaríamos além de repetir as conquistas somar mais 12 medalhas de ouro, para ultrapassar Estados Unidos e Austrália, que são potências paralímpicas. Além disso, são países com estrutura muito mais avançada que a nossa, sem falar da política e cultura esportiva. Por isso, continuo achando que esta meta do quinto lugar já é extraordinária.
Quais serão os astros em 2016? Tem apostas?
Temos destaques em praticamente todas as modalidades mas os principais nomes são Terezinha Guilhermino (atletismo), Verônica Almeida (natação), Petrúcio Ferreira (Atletismo), Alan Fonteles (Atletismo), Yohansson Nascimento (Atletismo), Shirlene Coelho (Atletismo), Lucas Prado (Atletismo), Felipe Gomes (Atletismo), Daniel Dias (Natação), André Brasil (Natação), Joana Neves (Natação), Tito Sena (Maratona), Talisson Glock (Natação), Roberto Alcalde (Natação), Bruna Alexandre (Tênis de mesa), Danielle Rauen (Tênis de mesa), Márcia Menezes (Halterofilismo), Jovane Guissone (Esgrima), entre outros. Além disso, também temos vários destaques nas disputas por equipes.
Após o Parapan, houve um aumento de 233% (de R$ 39 milhões para R$ 130 milhões) na verba anual paralímpica. Isso ocorreu por conta do ótimo resultado do país no Canadá?
Esse aumento já estava sendo discutido no Congresso Nacional há mais de dez anos, e somente este ano entrou na pauta. Tivemos que fazer um trabalho de convencimento tanto no Legislativo quanto no Executivo para modificar a Lei (Agnelo-Piva). Essa mudança foi na arrecadação das loterias. Agora, ao invés de 2% ir para o esporte, passou a ser 2,7% – e desses, 37,4% vai para o CPB, e 62,6% para o COB. Com esse aumento de R$ 91 milhões, pelos estudos que fizemos, não teremos necessidade de mais recursos públicos, seja do Ministério dos Esportes ou do Governo, para administrar o CPB e o Centro de Treinamento.
Enquanto o CPB alcança ou supera os resultados objetivados, o COB, não. O esporte paralímpico é o Brasil que dá certo? Não gosto de generalizar. O esporte paralímpico no Brasil dá certo, mas não é a única coisa que dá certo. Não gosto de ficar comparando o que é feito no COB com o que fazemos no CPB, prefiro olhar para os modelos de outros países nos esportes paralímpicos.
O seu sucesso à frente do CPB é reconhecido até no exterior, tanto que você é vice-presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC). O que é mais plausível: você assumir a presidência da IPC ou, quem sabe, migrar para o esporte olímpico e suceder Nuzman no COB? Ainda é muito cedo para eu definir quais são meus planos. Sei que há uma especulação sobre a minha possível candidatura à presidência, já que eu sou o vice-presidente do IPC, e o mandato do atual presidente vai até o final de 2017. Então, por enquanto não penso nisso, estou no CPB ajudando a preparar a delegação brasileira para a Paralimpíada do Rio, também faço parte do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016. Enfim, é uma possibilidade que existe, mas só vou pensar nisso posteriormente aos Jogos. Tenho certeza de que a minha história continuará ligada ao esporte paralímpico. Hoje não tenho qualquer interesse relacionado ao COB, ou a qualquer confederação brasileira que não seja ligada ao esporte paralímpico.
O Brasil já é uma das potências mundiais paralímpicas. O céu será o limite após a construção do centro de treinamento em São Paulo? Acredito que o centro de treinamento próprio será o eixo fundamental para o desenvolvimento do esporte paralímpico no Brasil. Ele tem um potencial para fazer uma diferença enorme a longo prazo. Logicamente que para o Rio está muito cedo, mas já devemos colher os frutos dele em Tóquio (2020). Mas isso também depende de uma boa gestão e, claro, a ajuda financeira que conseguimos com a Lei Agnelo/Piva também será de extrema importância para este sucesso.
Em dezembro ficará pronto em Belo Horizonte o Centro de Treinamento Esportivo da UFMG, que terá 100% de acessibilidade. Existe alguma projeto paralímpico aqui? Ainda não tivemos nenhuma conversa concreta com o Governo de Minas, nem de prefeituras mineiras para levar eventos. Atualmente, em Minas, nós temos apenas uma parceria, com a UFMG, para a realização do nosso Congresso que é o maior de esportes paralímpicos do mundo, e será realizado depois da Olimpíada do Rio, em Belo Horizonte. Quem sabe, até lá, não teremos um projeto, já que agora há um parque esportivo adaptado de alto nível.
Minas não se destaca no esporte paralímpico, diferentemente do eixo Rio-São Paulo e de estados do Sul. O que falta para o CPB se aproximar mais de outros estados e descentralizar as parcerias e investimentos? Claro que o CPB tem interesse de ter um trabalho forte no estado que é celeiro de grandes atletas paralímpicos como a Terezinha, Ádria, Daniel Rodrigues. E, agora, com este centro, o estado entra definitivamente em nossos projetos de desenvolvimento nas diversas modalidades. E, quem sabe, em breve não faremos etapas do nosso circuito de atletismo, natação e halterofilismo. Chegamos bem perto de ter o time Minas, há alguns anos, que inclusive chegou a ser anunciado, mas nunca foi efetivado. Mas Minas é um estado que temos todo o interesse de estreitar a relação com o CPB.
Boa parcela dos atletas paralímpicos chegou nessa condição após sofrer acidentes de trânsito. O que você pensa a respeito disso? É algo expressivo que tem que ser olhado pelas autoridades responsáveis pelo trânsito, já que estes números mostram que há um grande problema no país. Por exemplo, da nossa seleção masculina de vôlei sentado que esteve em Londres, nove dos 12 jogadores sofreram acidentes de trânsito. É preciso criar uma política melhor de prevenção de acidentes tanto nas estradas quando nas cidades. Não interessa pra ninguém, nem ao movimento paralímpico, ter mais atletas por conta de acidentes. Mas também temos que ter uma estratégia mais eficiente para atrair essas pessoas acidentadas para o esporte, primeiro para a prática esportiva, que ajuda na reabilitação e inserção na sociedade, depois com programas que levem essas pessoas para o alto rendimento.