Rafael Silva comenta sobre adversário "fenomenal" e aposta no sucesso do judô no Rio 2016

Wallace Graciano - Hoje em Dia
05/04/2015 às 10:57.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:30
 (Daniel Ramalho/AGIF/COB)

(Daniel Ramalho/AGIF/COB)

O judoca Rafael Silva, o Baby, vive uma situação curiosa. A liderança no ranking mundial do peso-pesado (+100 kg) e o bronze conquistado nos Jogos de Londres, em 2012, colocam-no como uma das maiores esperanças brasileiras de medalha para a Olimpíada do Rio de Janeiro. Porém, poucos acreditam que ele conseguirá tirar o ouro do francês Teddy Riner, fenômeno que está invicto desde 2010.   Isso, entretanto, não atormenta Rafael, que conquistou a prata na última semana, no Grand Prix de Samsun, na Turquia. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Baby mostrou confiança em seu trabalho visando aos jogos de 2016 e fez questão de enaltecer Teddy Riner.    Você é um ‘guarda-roupa’, mas tem o apelido de Baby. Explique isso. (Risos)... Quando cheguei em São Paulo, tinha cara de novinho e era grandão. Aí colocaram pela semelhança com o Baby, da “Família Dinossauro”. Estou tentando me livrar dele (do apelido), mas não ligo. Até porque, é fácil de lembrar e todos me chamam assim. É até divertido.   Nesse último Grand Prix de Samsun, você teve a chance de voltar com o ouro, mas perdeu para o tunisiano Jaballah por shidôs (punição). O que faltou para vencer?  Foi uma luta bem parelha. Ele entrou golpes que a arbitragem achou mais efetivos. Por isso, perdi por punição. Quando chega a final, a chance da luta ir para o shidô (punição) é grande, porque tudo é bem equilibrado, o nível de força é parelho. Ganha o atleta que chega ali e consegue colocar um ritmo maior. Achei que consegui colocar esse volume de jogo maior, mas não interpretaram assim. Tenho que aprender a lidar com a arbitragem. Mas tenho que me preparar para a sequência. O que faltou na final foi uma mudança de estratégia no meio da luta.   Deu pra pegar algo dos adversários do seu peso? Por ser a primeira competição, foi um grande teste. Fiz um período de treinamentos bem intenso em janeiro e fevereiro, já pensando nesse torneio. E o resultado até que veio e deu para estudar bem os adversários. Esse ano é um ano definitivo, pois antecede a Olimpíada. Assim, os principais atletas vão estar nessas competições, com nível técnico muito alto. Não acredito que mude muito o estilo de jogo deles. Os novos já ganharam experiência. E aqueles que estavam no ciclo desde o início estão em crescente também.   O Brasil vai levar a equipe principal no Pan-Americano de Toronto?  Com toda a certeza vai a equipe principal do judô. Vamos buscar essas medalhas.   Você é tratado como a nossa maior esperança de medalha na Olimpíada, mas quem deposita essa confiança sabe que você tem um adversário acima da média, o Teddy Riner. Isso incomoda? Ter o Riner como adversário na categoria é um privilégio. Já pensou se venço ele no Brasil? Meu nome fica para a história. Ter um atleta como esse só me enobrece na categoria. E estou bem tranquilo. Vou fazer minha parte. Estou treinando muito para ir bem nas competições. Quero sair de consciência tranquila, porque estou trabalhando para ter uma curva de evolução. Ter adversários como ele na categoria só é bom para o esporte. Quanto maior a rivalidade, maior a pressão e, consequentemente, melhores lutas teremos.   Qual é o diferencial dele para ter se tornado esse fenômeno? Ele é diferenciado mesmo. Você consegue acompanhar uma evolução técnica desde 2010, a variação de técnicas, a movimentação e as pegadas. E ele mudou o perfil da categoria. Antes, éramos mais lentos, usando mais a força. O Riner é forte, mas se movimenta muito. Usa um judô mais dinâmico. Ele é o alvo da nossa categoria. Está todo mundo correndo atrás dele. Se ele pisar errado, piscar, ele vai perder. Ele é um fenômeno do esporte, mas uma hora ele pode perder e espero essa oportunidade.   Você mudou seu estilo de luta pensando no Riner? Meu golpe preferido é o O-Soto-Gari. Estou trabalhando várias situações para chegar nele. Tenho me focado bastante em sequências para chegar nele. E pensando no Riner, minha principal dificuldade é a pegada, que ele domina demais a luta com esse fundamento. Estou estudando as posições que ele faz. Mas não estou mudando meu judô por inteiro só pra lutar com ele. Estou buscando estratégias para chegar ao meu golpe forte.   Acha que ainda vai encará-lo antes da Olimpíada?  É difícil você conseguir um treinamento que ele compareça. Ele esteve em Saquarema, em São Paulo, no início do ano. Mas ele machucou o cotovelo e voltou para a França. A única chance de encontrar com ele vai ser no Mundial do Cazaquistão, em agosto. Outra chance pode ser o Grand Slam de Paris. E vou estar lá para atrapalhá-lo.   Essa “escolha” de competições dele tem dificultado seu trabalho? Quando você compete, você aproxima e tem a chance de ultrapassar. E ele tem uma boa estratégia, escondendo o jogo, fazendo poucas competições. Quando você fica muito tempo sem lutar, é complicado voltar em alto nível. Mas a equipe técnica dele tem o gabarito para fazer com que ele volte com força. O que temos é tentar adaptar ao seu estilo e tentar surpreendê-lo. Cada um usa suas armas. E ele está fazendo isso bem.   Além dele, quais são seus maiores adversários? Meu primeiro adversário é do Brasil, o David Moura. Estou brigando pela vaga olímpica com ele. Estou muito bem no ranking (em 1º), mas o David não está muito atrás (11º). É um atleta forte, que me faz me manter no topo, pois sei que tenho um grande concorrente. Lá fora tenho o georgiano (Adam Okruashivili), o tunisiano que enfrentei no Grand Slam (Faicel Jaballah), que está muito forte, por sinal, e o japonês (Ryu Shichinohe), que evoluiu. Ele é extremamente perigoso.   Já que você citou o Japão, uma coisa curiosa é que eles perderam a hegemonia da sua categoria e do meio-pesado. Eram os grandes trunfos deles. Por quê isso? A gente fala muito da questão de geração. Eles tiveram uma geração de ouro com atletas fora do gráfico. Você acaba criando grandes expectativas, mas tem que dar tempo para o atleta florescer. Acho que é questão de safra e esperar um pouco para levar a base ao alto rendimento. É uma questão de renovação. Mas acho que eles chegarão fortes. Para 2012 não deu certo, mas acho que 2016 eles serão perigosos.   A CBJ se tornou um dos modelos nos esportes especializados, até mesmo com centro de treinamentos próprio. Qual o impacto direto nessa estrutura na vida de um atleta? Para a categoria pesado, uma iniciativa como essa é excelente. Temos dificuldades para treinar com atletas da mesma categoria. Quando se tem o centro, conseguimos manter uma seleção permanente e, consequentemente, treinos específicos. Temos estrutura para dormir, fisioterapia, nutricionista, entre outros. É um ambiente propício para se ter uma grande evolução técnica e física. Assim como o vôlei desenvolveu Saquarema e teve um grande legado, o judô tem tudo para ir muito bem para ter uma renovação na seleção.   Pelo histórico de ganhar medalhas desde Los Angeles, o judô se tornou o carro-chefe do COB para o Brasil chegar ao top 10 dos jogos em 2016. Essa pressão incomoda? Na verdade, a gente tenta deixar essa pressão para os dirigentes. Podem especular, mas o atleta tem que se preocupar em preparar-se muito e chegar com vontade de ganhar e colocar em prática tudo que treinou. Temos que nos esquecer das coisas que podem atrapalhar. O atleta, quando entra com pressão, não consegue desenvolver tudo o que pode. Por isso, queremos chegar apenas com a missão de vencer o adversário, nos blindando.   Até quando lutar em casa fará a diferença nesta Olimpíada? Jogar em casa só favorece. Estamos próximos da família, nos sentimos em casa, conhecemos aqui, o clima, comemos o que estamos acostumados. Só temos vantagens. Isso ajuda no desempenho. Apesar de ter a pressão, sim, mas é uma pressão também para o adversário, pois consegue intimidar. Mexe com ele. Estamos ansiosos pelos jogos olímpicos aqui. E vai ser bom o brasileiro sentir essa chama olímpica, porque é um ambiente diferente.    O masculino tem uma geração forte com top 10 em quase todas as categorias e dois campeões mundiais à frente. O que dá para projetar para 2016? Acho que dá para projetar uma seleção muito forte e homogênea. Todas as sete categorias com chance de medalha. Assim como ocorreu em 2012, com atletas figurando entre os melhores do mundo. Mas a Olimpíada é um evento diferenciado, não dá para prever medalhas. O que posso dizer é que masculino e feminino estão com chances reais de ganhar medalhas em todas as categorias. E vamos batalhar por isso.

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