Receita do sucesso dos clubes mineiros é ser diferente

Estadao Conteudo
23/11/2014 às 10:09.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:08

Os torcedores do Cruzeiro, a chamada metade azul de Minas Gerais, contam as horas para confirmar o bicampeonato brasileiro neste domingo (23) diante do Goiás. Já a outra metade, a alvinegra, aguarda ansiosamente pela quarta-feira, dia da decisão da Copa do Brasil, justamente contra o maior rival, quando o Atlético pode até perder por um gol de diferença que será campeão. Enquanto isso, o resto do País tenta entender os motivos que levaram os dois clubes grandes mineiros a dominar o futebol brasileiro desde o ano passado.

O sucesso da dupla mineira não tem uma única receita. Com orçamentos bem menores do que São Paulo, Corinthians, Flamengo e Internacional, por exemplo, cada clube adotou um tipo de estratégia para derrubar os rivais e se consolidar no topo.

O Cruzeiro, por exemplo, possui uma ampla estrutura no departamento de futebol com diretores, supervisor e gerente, confiou na continuidade do trabalho do técnico Marcelo Oliveira e em grandes públicos no Mineirão. Já no Atlético, o presidente Alexandre Kalil comanda o futebol praticamente sozinho, já teve três técnicos desde a conquista da Copa Libertadores do ano passado e joga no estádio Independência, onde não cabem mais do que 20 mil pessoas.

A história do Cruzeiro começou a mudar em 2012, quando Gilvan de Pinho Tavares foi eleito presidente após 15 anos de domínio dos irmãos Perrella. Depois de conquistarem todos os campeonatos possíveis - só faltou o Mundial -, a administração dos Perrella passou a dar sinais de desgaste e em 2011 o Cruzeiro só escapou o rebaixamento no Campeonato Brasileiro na última rodada.

Tavares assumiu o clube com a promessa de atrair o torcedor e, assim, trazer receitas. "Ele montou uma equipe para que não passássemos tanto susto como no ano anterior e adotou a política do sócio-torcedor. O entendimento era que, com uma equipe vencedora, você teria um número crescente de sócios-torcedores e, consequentemente, iria melhorar as arrecadações de bilheteria e patrocínio", contou o gerente de futebol, Valdir Barbosa.

A estratégia deu certo. O Cruzeiro fechou o ano de 2013 como líder em bilheteria no Brasil, com R$ 63,7 milhões. O segundo colocado foi o Flamengo, que tem a maior torcida do País, com R$ 15 milhões a menos. Todo dinheiro arrecadado foi investido no futebol. "Passamos a fazer contratações agressivas para montar um grupo de qualidade e não apenas um time de 11 titulares", disse Barbosa.

No Atlético, Alexandre Kalil assumiu o clube em 2008 com o desafio de conquistar um título de expressão, algo que o time não conseguia desde o Campeonato Brasileiro de 1971. O objetivo demorou, mas foi alcançado no ano passado com a Libertadores.

Kalil, do seu jeito centralizador, resolveu ignorar as críticas e apostar em um punhado de jogadores renegados. A fila, liderada por Ronaldinho Gaúcho, tinha Jô, Pierre e Rosinei. "Às vezes a gente trata o jogador com muita crueldade. Os atletas são adolescentes e cobramos maturidade de um senhor de idade. Aqui, o jogador é tratado como adolescente. Esse é o segredo para eu me dar bem com o elenco. É a mesma relação que tenho com meus filhos", disse Kalil.

Sob o comando dele, as receitas do Atlético saltaram de R$ 60,8 milhões por ano em 2008 para R$ 227,9 milhões em 2013 - a quinta maior arrecadação do País, superando o arquirrival Cruzeiro, oitavo colocado no ranking. "O problema é que apequenaram o clube. O Galo não era tratado como time grande. Eu não fiz nenhum milagre, apenas coloquei o Atlético no lugar que sempre foi dele", gabou-se Kalil.

Na esteira do bom momento do futebol mineiro, o Tombense, da cidade de Tombos, na região da Zona da Mata, foi campeão da Série D do Brasileiro. Na Série B, Boa, de Varginha, e América, de Belo Horizonte, estão no pelotão de frente da tabela de classificação.
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