Relação com o time do coração evidencia diferença entre brasileiros e argentinos no fim da carreira

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
27/06/2016 às 08:16.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:04
 (Alejandro Pagni/AFP)

(Alejandro Pagni/AFP)

A famosa cerveja Quilmes não perdoou a precoce eliminação do Brasil na Copa América e lançou uma propaganda satirizando o espírito do jogador brasileiro. Para a famosa marca de bebidas argentina, não há lugar mais indicado para se gelar uma cerveja que o peito do brasileiro. Somos todos “pecho fríos”, para os hermanos. Em tradução contextual: “jogador sem alma”. Sem saber, os publicitários da empresa tocaram em outro ponto que afasta a cultura argentina da brasileira, a do “amor à camisa”.

No Brasil que se orgulha dos “filhos que não fogem à luta”, faltam “filhos pródigos” no futebol. A ida do atacante Fred para o Atlético é um exemplo. Mesmo realizando o sonho do pai, o camisa 99 deu às costas àqueles que sempre pediram o retorno do jogador. Afinal, ele estourou para o mundo na Raposa. O próprio Galo abriga outros “desertores”.

Robinho abriu mão de um terceiro retorno ao Santos. O clube a quem ele declara amor ficou a ver navios. Antes, porém, o Atlético recebeu de braços abertos Ronaldinho. R10 perdeu a segunda chance de se redimir com a torcida gremista e virou nome proibido por lá.

Defender cores de outros times e até mesmo de rivais não é algo proibido lá pelas bandas de Buenos Aires. Pelo contrário, o que não faltam são exemplos de “vira-casacas”. Entretanto, na mesma proporção são os jogadores que abriram mão de destinos mais lucrativos para retornar às origens ainda com combustível no tanque.

O mais recente caso foi o de Carlos Tévez. O camisa 10, abatido pelo banzo, pediu para sair da Juventus e voltar a respirar ares azul y oro. O mesmo aconteceu com Martín Palermo e Riquelme, ídolos da geração antecedente à de Carlitos. Isso para não aprofundar em Diego Maradona. O rival do Boca, River Plate, não perde esta disputa. Pelo contrário, a lista milionária é até mais extensa. Francescoli e Marcelo Gallardo, dois ex-camisas 10 de Núnez, surgiram no River, fizeram carreira na Europa, retornaram ao clube, se aposentaram e hoje ocupam cargos administrativos: diretor de futebol e treinador, respectivamente.Boca Juniors / Site Oficial

Ainda com mercado na Europa, Carlos Tevez preferiu encerrar ciclo no Boca Juniors

“Quando um jogador argentino vai embora, ele já faz o planejamento para voltar. ‘Meu sonho é aposentar no clube onde fiz minha estreia’, é uma frase comum entre eles. O sonho da Europa é bonito, serve para acumular dinheiro, mas a identificação pelas cores é muito mais forte. Ao contrário do pensamento da grande maioria dos países latino-americanos, o argentino não gosta de deixar sua terra natal. Futebolistas não são exceção”, explica Federico Nogueira, do Diário Olé.

Maior exemplo
Em La Plata, a ligação de amor incondicional elevou a relação entre jogador e clube ao cume. Juan Sebástian Verón é um 'pincharrata' até a medula. La Brujita é filho de Juan Verón, ídolo do Estudiantes tricampeão da Libertadores (1968, 1969, 1970).

Ele próprio construiu uma história tão rica quanto a do pai. Surgiu na base, foi vendido à Europa após passagem pelo Boca e retornou aos 31 anos. Venceu a Libertadores de 2009, virou diretor e alcançou o degrau máximo do clube, o de presidente.

“A diferença entre a Argentina e outros países é que lá os ídolos acabam jogando no clube que mais dá dinheiro. Aqui se joga muito o sentimental e o desafio de levar o clube de origem ao topo. É isso que leva os jogadores a terminar a carreira ‘em casa’”, completa Martin Lemos, da Rádio Cadena Uno, de Buenos Aires.

Em 2016, um clube do Brasil promoveu o retorno de um antigo ídolo, mas não se tratava de um brasileiro: foi o uruguaio Diego Lugano que pediu ao Cerro Porteño para vestir de novo a camisa do São Paulo.Editoria de Arte

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