Relação de J. Hawilla com a CBF começou no primeiro mandato de Ricardo Teixeira

Estadão Conteúdo
27/05/2015 às 18:12.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:14
 (TRAFFIC)

(TRAFFIC)

Para entender as relações entre CBF, a empresa Traffic e José Maria Marin, detido nesta quarta-feira (27) na Suíça, no escândalo da Fifa, é preciso recorrer ao surgimento de Ricardo Teixeira no futebol brasileiro e todas implicações que vieram a seguir. Teixeira apareceu em 1989 quando venceu as eleições à presidência da CBF, apadrinhado por João Havelange, então o dono do universo do futebol na condição de presidente da Fifa desde 1974. Teixeira era genro de Havelange. Nada mais natural do que por alguém da "família" para continuar no poder.

Eleito presidente da CBF, Teixeira encontrou a entidade sem caixa. Na campanha, ele havia assumido compromissos com federações estaduais e clubes e precisava de recursos para pagar a conta. A saída foi recorrer a dois amigos, os ex-repórteres esportivos J. Hawilla e Kleber Leite, que começavam a crescer no mundo dos negócios do marketing do esporte. Hawilla era dono da Traffic e Kleber, da Klefer. Os dois se tornaram parceiros no negócio de venda de placas de publicidade nos estádios. Foram ao mercado e conseguiram arrancar da Pepsi-Cola um investimento de US$ 1 milhão (R$ 3 milhões em valores atuais) para a CBF.

Com esse dinheiro, Teixeira quitou as "dívidas" que tinha com seus eleitores. Grato à dupla Hawilla e Kleber, Ricardo Teixeira passou a operar os contratos de marketing da CBF com os dois pupilos. A primeira grande operação foi o contrato com a Nike, firmado em 1996. Na época, era o maior contrato de patrocínio de uma empresa de material esportivo com uma entidade de futebol - a bagatela de US$ 200 milhões (R$ 600 milhões em valores atuais).

Hawilla, mais do que Kleber, foi um dos principais articuladores na negociação com a Nike. Ganhando assim mais prestígio com Ricardo Teixeira. Hawilla ampliou sua parceria com o futebol estendendo seus vínculos com a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), agora nos negócios dos direitos de transmissão da televisão dos principais campeonatos do continente.

Para não ficar de escanteio, em especial na Argentina, Hawilla fez da Traffic sócia da Toneyos y Competencias, empresa argentina que reinava absoluta na venda dos direitos de televisão. Estava criada a T&T Sports Marketing, responsável pelos direitos da Copa Libertadores e Copa América.

Kleber Leite não acompanhou seu velho amigo J. Hawilla nessa empreitada. Por desavenças nos negócios, Kleber perdeu espaço na CBF de Ricardo Teixeira. Hawilla continuou presente e ampliando sua teia. Virou parceiro do Grupo Águia, de Wagner Abraão, então um amigo de Teixeira. Esse Grupo Águia é o encarregado das viagens e hospedagens da CBF (cartolas e seleção brasileira) há 30 anos. Está nesse mercado desde 1982. Hawilla e Abraão montaram uma sociedade e compraram por US$ 40 milhões (R$ 12 milhões em valores atuais), da suíça Match Hospitality, os direitos exclusivos da venda dos ingressos vips e corporativos da Copa do Mundo de 2014.

Enquanto isso, José Maria Marin, então vice-presidente mais velho da CBF, já havia assumido o trono na presidência da CBF, com o afastamento de Ricardo Teixeira, em 2012, envolvido em escândalos de corrupção tanto na CBF quanto na Fifa. Quando Marin de fato assumiu a cadeira de Teixeira, Hawilla já não tinha ligação direta com a CBF. Seus negócios eram mais com o Grupo Águia, de Abraão, o mesmo que vendeu um luxuoso apartamento na Barra da Tijuca a Marco Polo Del Nero, pouco antes de o cartola virar presidente da CBF, no último dia 15 de abril.

Fora da CBF, a Traffic, de Hawilla, abriu espaço para a volta de Kleber Leite, com sua Klefer. Marin e Del Nero passaram a se entender melhor com Kleber que, não por acaso, comprou os direitos de televisão da Copa do Brasil no período de 2015 a 2022. Os direitos pertenciam à Traffic até 2014. A Copa do Brasil faz parte das investigações da FBI e Justiça Americana no escândalo da Fifa deflagrado nesta quarta-feira. J. Hawilla, por acordo de delação premiada, devolveu cerca de R$ 400 milhões à Justiça Americana.

Ricardo Teixeira, até a tarde desta quarta, não tinha seu nome envolvido no escândalo. Amigos próximos dizem que estava na Europa. Teixeira tem duas residências: uma no Rio e outra no Uruguai. Ele deixou Miami, onde se refugiou em 2012, há pelo menos um ano.

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