Tombense faz sucesso como ‘time de aluguel’ e mira título da Série D

Gláucio Castro - Hoje em Dia
31/10/2014 às 08:26.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:50
 (Marcos Bezerra)

(Marcos Bezerra)

Lá se vão exatos 100 anos desde sua fundação, em setembro de 1914. Engana-se quem pensa que o Tombense Esporte Clube, que acaba de subir para a Série C do Campeonato Brasileiro e briga pelo título da Série D, é um novato no mundo da bola. Apesar da história centenária, foi só após uma parceria bem sucedida com a Brazilsoccer, de propriedade de Eduardo Uran, um dos maiores empresários de jogadores do país, que o clube da Zona da Mata se tornou conhecido.

Atualmente, quase todos os 30 atletas do elenco profissional do Tombense têm parte dos direitos divididos com Uran. Entre eles o zagueiro Wellington, o meia Joilson e o atacante Francismar, com passagens por vários clubes do futebol nacional. Mas a parceria vai muito além.

Dono de um staff com mais de 100 jogadores, em todas as regiões do Brasil, o empresário usaria o clube também para registrar atletas de sua empresa e depois negociá-los com outros clubes.

Uma pessoa ligada ao Tombense, que prefere manter o anonimato, garante que apenas cerca de 10% dos atletas que já foram registrados na CBF em nome do clube passaram pela pequena cidade mineira, na divisa com o Rio de Janeiro, onde moram parentes da mulher de Uran.

O goleiro Bruno, preso e condenado pela morte da modelo Elisa Samúdio, e o lateral Léo Moura, do Flamengo, são exceções e realmente tiveram passagens rápidas pelas categorias de base do clube.

Parceria

Presidente do Tombense, o ex-jogador Lane Gaviolle rechaça a alcunha de clube de empresário, ou “encubador”. “Não é um time de empresário. É um clube que tem 100 anos de história, sempre sobreviveu e vai sobreviver sem a ajuda de empresários. Temos uma parceria, o que é diferente. Se essa parceria acabar neste sábado (1º), o clube não acaba. As vezes os jogadores não ficam porque são negociados”, afirma o dirigente.

Ele está no comando do clube desde 2000. Segundo o cartola, pelo estatuto do Tombense, não há limites para a reeleição do presidente, que tem mandato de quatro anos. Procurado pela reportagem, Eduardo Uran não atendeu as ligações.

“Temos um aporte financeiro da Brazilsoccer, que nos ajuda a trazer bons jogadores, além de contribuir com melhorias em nosso centro de treinamento e estádio. É uma parceria boa para os dois lados. Tem empresário que só quer fatiar o bolo e ficar com os lucros, mas no nosso caso é diferente. A Brazilsoccer coloca jogador no clube e claro que depois eles terão um percentual na venda destes atletas”, completa Lane Gaviolle.

Além da verba investida pela empresa de Uran, as receitas do clube vêm das cotas do direito de transmissão da televisão, patrocínios na camisa e no estádio Antônio Guimarães de Almeida, o Almeidão, onde o Tombense treina e manda suas partidas. Totalmente reformado graças a essa parceria, o estádio tem capacidade para 5 mil torcedores, mas está liberado para 3 mil.

O empresário Nenê Zini, ligado a Eduardo Uran, conversou com a reportagem e garantiu que, apesar da parceria, tudo o que diz respeito ao futebol do clube é de responsabilidade do presidente Lane Gaviolle. “É uma parceria apenas financeira em alguns atletas. Mas a parte de contratações fica a cargo do presidente”, explica.

Caso avance à final da Série D, o time, que disputa a semifinal no próximo domingo, jogará em Muriaé, já que a CBF determina que a decisão aconteça em estádios com capacidade superior a 10 mil expectadores.

Diretoria aguarda regra anunciada por Blatter para se adequar à lei

No mês passado, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, anunciou em Zurique, na Suíça, que os investidores serão banidos dos clubes em no máximo quatro anos. A medida, que pode complicar a situação do Tombense, é vista com cautela pelo presidente Lane Gaviolle.

“Ainda não recebemos nenhum comunicado oficial e não sabemos exatamente como essa situação vai funcionar. Vamos esperar a determinação da Fifa e tentar nos adequar dentro do que a lei determina”, garante o dirigente.

Enquanto isso, a diretoria planeja a próxima temporada. Com o acesso à Série C do Campeonato Brasileiro garantido para 2015, a equipe da Zona da Mata terá uma visibilidade maior no cenário nacional.

Com isso, os gestores do futebol do clube esperam ampliar a receita do Tombense para reforçar o elenco e conseguir realizar o grande sonho de chegar à Série B.

Dos três clubes de Minas Gerais que iniciaram a Série C, o de Tombos é o único que prossegue na disputa. Villa Nova, de Nova Lima, e Betim ficaram no meio do caminho e não passaram da primeira fase.

“Com a vaga da Série C assegurada, a visibilidade do Tombense já é outra. Tem muitos empresários da região nos procurando. Apostamos nesta valorização para podermos montar um time cada vez mais forte e chegar à Série B do Brasileiro, que é nosso grande sonho. Na Série B, a valorização seria ainda maior”, completa o dirigente.

Despesas

As despesas totais do clube da Zona da Mata giram em torno dos R$ 150 mil. “Tem mês que a gente fecha no vermelho, mas tentamos equilibrar isso no mês seguinte”, assume Gaviolle.

Segundo o dirigente, os salários mais altos variam entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. “A gente não paga muito, mas paga em dia. Isso acaba atraindo o jogador, pois tem muito clube atrasando salário hoje e não é segredo para ninguém”, conclui.

Com a vitória por 1 a 0 sobre o Confiança/SE no duelo de ida das semifinais da Série D, a equipe mineira entra em campo em Aracaju, no próximo domingo, pelo empate.

Coroar a estreia na Série D com o título da competição seria um grande feito para os jogadores, mas o acesso à Série C logo em sua primeira participação é motivo de muito orgulho para torcedores, jogadores, comissão técnica e diretoria do clube, que completou 100 anos no último dia 7 de setembro.

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