Eleito em 2007 o melhor jogador africano dos últimos 50 anos em pesquisa organizada pela Confederação Africana de Futebol, o camaronês Roger Milla, 63, não se empolga muito com o mandato interino de seu conterrâneo Issa Hayatou, 69, como presidente da Fifa.
Vice-presidente mais antigo do Comitê Executivo da Fifa, Hayatou assumirá no lugar de Joseph Blatter por 90 dias, prazo durante o qual o suíço ficará suspenso da presidência da Fifa por determinação do Comitê de Ética da entidade. O Ministério Público da Suíça investiga Blatter por supostas irregularidades num contrato de direitos de transmissão na América Central e em um pagamento de 2 milhões de francos (R$ 8,3 milhões) a Michel Platini, pré-candidato a presidência da Fifa que também foi suspenso.
"É difícil afirmar que ele será presidente da Fifa, já que será só por 90 dias, três meses. Não há muito o que se possa fazer nesse prazo. Tudo vai continuar igual, ele não poderá fazer nenhuma mudança de grande porte. Para isso, ele precisaria de quatro anos", disse Milla em entrevista à reportagem nesta quinta-feira (8), horas após a confirmação da "promoção" de Hayatou.
Para Milla, que durante a maior parte de sua carreira de jogador conviveu com Hayatou como presidente da Federação Camaronesa de Futebol (1985 a 1988) e da Confederação Africana de Futebol (1988 até hoje), o ideal seria que ele ficasse mais tempo no cargo.
"É importante termos o primeiro africano ocupando cargo, certamente. Mostra que a presidência da Fifa não é só para sul-americanos e europeus. Mas o ideal seria que ele ficasse quatro anos, para ter tempo de tomar as medidas necessárias", afirma o lendário ex-atacante camaronês, que diz que Hayatou foi um ótimo presidente da Federação Camaronesa.
Nesse sentido, ele acredita que poderia ser interessante se Hayatou ganhasse as próximas eleições da Fifa, marcadas para fevereiro. Nesta quinta-feira (8), o camaronês disse que não se candidatará à posição.
"Por que não [desejar que Hayatou se torne presidente]? O futebol é feito por jogadores e confederações do mundo todo. Um presidente africano poderia servir a todos", explica Milla.
No passado, Milla teve desentendimentos com Hayatou, especialmente por considerar que os ex-jogadores não recebiam o devido reconhecimento da Confederação Africana. Além disso, ele fez críticas veladas a membros da Confederação que estariam tirando proveito de seus postos para auferir vantagens pessoais.
Em entrevista ao jornal francês "Le Monde" em 2013, ele disse que Hayatou sabia que havia pessoas que trabalhavam contra a Confederação, e se não fazia nada é porque aceitava a situação. Desde então, no entanto, a tensão entre ambos se dissipou.