(Lucas Prates/Hoje em Dia)
Financeiramente não dá para competir com América, Atlético e Cruzeiro. Seduzir bons jogadores com orçamento reduzido também é um grande desafio para os clubes menores. Então, qual é a solução para os "pequenos" vingarem em uma competição como o Campeonato Mineiro? A resposta é o planejamento e a estratégia diferenciada, segundo a opinião de Alexandre Barroso, técnico do Villa Nova.
O comandante do time de Nova Lima aposta na organização e na informática para se adiantar aos rivais e conseguir dar alegrias ao torcedor do Leão do Bonfim. Barroso tem uma série de ferramentas para moldar o seu time e escanear os adversários. Armas que serão usadas para fazer bonito no Campeonato Mineiro.
Na primeira destas ferramentas, Barroso usou para montar a equipe através de contratações. Um banco de dados com quase 80 jogadores e os níveis que a conversa atingiu durante o processo de avaliação e conversas para o acerto. Neste primeiro passo, o treinador sabia até o valor que o elenco custaria aos cofres alvirrubros.
"O sistema é mto simples. Vou marcando com um X a evolução da conversa - se está no primeiro contato, discussão de salários, etc. Aqui, eu tenho data de nascimento e dados básicos e contato. Então, entro no sistema da CBF e vou pesquisar o atleta, sei se ele está com contrato encerrado ou então é vinculado a alguma equipe. Aí já vou montando um mapa da minha equipe, com quem já tenho e possibilidades de contratação. Na maneira que penso em montar o Villa, vai custar R$ 150 mil mensais em salários, que é a realidade do clube", destacou.
"Dentro da perspectiva, eu já tenho média de idade, altura do elenco... Sei, por exemplo, se meus atacantes estão novos e preciso encorpar mais, com um reforço mais experiente", disse.
Avaliando o rival
Com passagens pelas categorias de base de Atlético e Cruzeiro e tendo participado da revelação de atletas do nível de Luisão e Maicon - ambos com passagem pela Seleção Brasileira -, o treinador encara o desafio de trazer o Villa Nova de volta ao protagonismo no cenário estadual. Para isso, além do mapa de contratações, Barroso também se programa para gerenciar os treinamentos da equipe e deixar o time voando no Campeonato Mineiro.
"Tenho uma planilha de treinamentos com uma série de exercícios desenvolvidos e vou montando meu mapa de atividades, já sabendo a intensidade dos treinos. Divido em ciclos e vou trabalhando os exercícios. No final, tenho um Raio-X de tudo que fiz e que pretendo fazer, podendo controlar minha carga de trabalho", explicou.
Mas a grande sacada na visão de Alexandre Barroso é o sistema que lhe permite enxergar além dos muros do Castor Cifuentes. Com uma ferramenta com mais de 92 itens por equipe, o treinador mapeia cada característica do seu rival, além de observações de todos os jogadores e treinador do adversário.
"Tenho aqui todos os meus adversários, com os jogadores deles listados. Faço um comentário técnico sobre cada um dos atletas e mensuro em uma escala de 0 a 6 a qualidade dele. Acontece o mesmo com o treinador. Nos sites oficiais do clube, eu pesquiso informações internas", disse Barroso.
Mas o sistema abrange muito mais do que a avaliação de cada um dos atleta disponíveis no elenco do seu rival.
"Então, tenho informações de todos os times do Mineiro. Avalio como o time reage quando perde, o que pode desestabilizar, esquema tático predileto. Faço análises psicológicas da equipe e se precisar faço observações nos campos que me tragam informações importantes. Daí, analiso aspecto físico do time", comentou, complementando na sequência.
"Também entra uma avaliação da parte tática do time, com variações de funções de cada jogador. Assim, tenho uma visão de como o rival joga, analisando de forma geral cada setor e em cada um dos quadrantes do campo. Analiso o posicionamento em escanteio, falta lateral, falta frontal. Disseco como se posicionam defensiva e ofensivamente. É uma maneira de entender meu adversário", sinalizou.
Desconhecidos
Cruzeiro, Atlético e América são mais tranquilos para a obtenção de informação, devido à cobertura diária nestes clubes. Sendo assim, uma rede de contatos no mundo do futebol pode ser benéfica para conseguir informações dos rivais mais "escondidos", além da presença in loco do próprio treinador, é claro.
"Os outros times têm duas coisas. Primeiro, você ver jogando pela televisão, sento pego o DVD e analiso tudo. Segundo, eu estando presente no estádio e, em um gravador, vou fazendo anotações do time. Para times do interior, procuro informações fidedignas, por causa da dificuldade em encontrar informações", revelou.
Planos para 2013
Questionado se todas essas estratégias extracampo dão retorno com vitórias, Barroso é sucinto.
"Isso não ganha jogo, mas ajuda. É melhor que ir cego para o campo. Só acredito em trabalhar assim, com planejamento", comentou.
O treinador, contudo, tem um objetivo bem definido para o Villa Nova no Campeonato Mineiro. Alexandre acredita que o Leão vive uma competição à parte, disputando vaga na Série D com outros seis times.
"O meu objetivo é, basicamente, classificar o time para a Série D do Brasileiro. É o Villa contra seis equipes (Araxá, Tombense, Nacional, Guarani, América -TO e Caldense). Depois, é ficar entre os quatro primeiros. Uma vez nessa posição, muda o campeonato, é mata mata, podemos aspirar coisa maior. Entre os quatro, o céu é o limite. Mas, realisticamente, é ficar na Série D e, posteriormente, ficar entre os quatro", disse.
Mas o trabalho de Alexandre Barroso não deve terminar com o apito final do juiz na decisão do Campeonato Mineiro. O comandante revela que o planejamento no Leão é a longo prazo, mas entende a necessidade de um bom trabalho para que isso seja cumprido.
"A ideia é fazer um trabalho a longo prazo, de reestruturação do Villa. Mas tem a questão do resultado. No Brasil, a busca é pelo imediatismo. Não tem treinador que resista a quatro derrotas, às vezes menos", pontua.
"Sei que meu trabalho está sendo avaliado com base no resultado final. Ganhou, você é bom; perdeu, é ruim. Isso vai pela qualificação cultural e acredito que vai mudar no futuro. Ao final do Mineiro, pode ser um resultado esperado, além e aquém. Se for o esperado, a tendência é que eu continue. Se for aquém, com certeza, vou sair. Se for além, também", afirmou.
Sem vaidade
Alexandre Barroso tem em seu currículo o domínio de três línguas - espanhol, inglês e português -, além de arranhar o árabe -, uma série de ferramentas da tecnologia para auxiliar nos treinos, avaliação de atletas para contratação e mapeamento dos rivais. No Oriente, possui um bom relacionamento, resultando em palestras no exterior.
Mesmo assim, o comandante prega a humildade e não transparece qualquer tipo de arrogância com o trabalho que desenvolve. Porém, Barroso alerta que o uso da tecnologia é um caminho sem volta no mundo do futebol e apenas o diferencial vai manter os bons profissionais no mercado.
"Única coisa que quero salientar é que não tem nada demais no que estou fazendo. Mas fazer o que todos fazem é fácil. A excelência está na distinção. Eu entendo desta forma. Também não adianta copiar os outros. Dentro desta visão, eu desenvolvi meu próprio caminho", disse.