A Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) colocou em dúvida o controle dos atletas brasileiros na preparação para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e criticou a decisão do laboratório brasileiro de ter suspendido os testes durante as semanas em que foi descredenciado da entidade mundial.
No dia 24 de junho, a Wada suspendeu o Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), antigo Ladetec, que deveria ser responsável pela realização dos exames antidoping colhidos durante a Olimpíada. Depois de passar por mudanças e até a troca no comando da Agência Brasileira de Controle de Doping, o laboratório voltou a ser aceito.
Mas, durante 27 dias e justamente às vésperas das Olimpíadas, os testes foram suspensos e não foram realizados. O Ministério do Esporte explicou que a falta de testes ocorreu por conta da impossibilidade de encontrar um parceiro para realizar as provas.
Uma tentativa foi feita para que as amostras fossem enviadas para Lisboa. Mas o laboratório português havia sido suspenso. Em Bogotá e Barcelona, os centros reconhecidos pela Wada também se recusaram a ajudar, alegando que estavam saturados de testes.
Para o vice-diretor da Wada, Rob Koehler, a suspensão dos testes foi "inaceitável". "Mandamos uma carta ao ministro do Esporte e ao diretor-executivo da ABCD, alertando sobre nossas preocupações e demandando saber o motivo pelo qual os testes foram interrompidos no Brasil", disse.
"A resposta não foi satisfatória. A explicação de que foi por conta da mudança na gestão no Ministério e na ABCD não foi aceita por nós", disse.
Segundo ele, a Wada já informou a força-tarefa que faz o controle de doping no Rio-2016. "Dissemos a eles para aumentar os testes", admitiu. "Foi inaceitável que os testes tenham sido parados. Não foi um bom gesto. O fato de que nenhum teste ocorreu é preocupante", completou.
Nesta semana, o jornal Lance! publicou uma entrevista com o médico Luis Horta - ex-membro da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD). Ele acusou o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o Ministério do Esporte de "sufocarem" o combate ao doping no Brasil. Segundo ele, havia um desejo do COB e do ministério de que o Brasil ganhe medalhas "sejam elas limpas ou não".
Na quarta-feira, o presidente do COB e do Comitê Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, se recusou a responder as acusações de Horta. "Eles foram demitidos", alegou.
No final de 2015, o autor das investigações sobre o doping russo, Dick Pound, indicou que a Wada já havia suspeitado dos atletas brasileiros na preparação para os Jogos de 2016. À reportagem, ele não hesitou em apontar que existiu uma preocupação de que, para garantir resultados positivos em casa no maior evento já organizado pelo país, as equipes brasileiras usassem de métodos ilegais.
"Sim, existia essa suspeita", confirmou. Segundo ele, esse teria sido o motivo pelo qual o único laboratório credenciado no Brasil pelo COI foi suspenso em 2014. "Não havia confiança alguma", indicou o canadense.
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