Esses alemães ruins de papo, mas bons de carro

29/09/2017 às 20:47.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:48

A turma mais crescidinha há de se lembrar de um anúncio da Volkswagen que dizia que “as alemães são muito rigorrossos (sic)”, uma tentativa de arranhar um português com um forte sotaque germânico que virou piada – e esse era justamente o objetivo da publicidade. A turma do “carro do povo” foi a primeira a se instalar por aqui e, por muito tempo, reinou em berço esplêndido oferecendo produtos que são um retrato do país europeu: austeros, sólidos, confiáveis e de mecânica simples. Uma receita que deu certo por muito tempo até que a concorrência fincasse o pé e o cenário de reabertura das importações se encarregasse do resto.

A liderança nas vendas passou às mãos da Fiat (Palio), dela para a Chevrolet (Onix) e a resposta germânica vinha sendo discreta, como eles, ao tentar prolongar indefinidamente a vida útil do Gol, apostar no Fox e no !up. Passavam a sensação de que estavam satisfeitos com o novo cenário e não ousariam. Sim, veio a Amarok, que (literalmente) emplacou em um segmento novo, a qualidade e a confiabilidade dos produtos seguia impecável mas...

Pois os alemães “rigorrosos” se mostraram não tão rigorosos assim ao admitir que adotaram métodos nada recomendáveis em seus principais mercados: falo do Dieselgate, a manipulação dos softwares nos motores diesel da marca que, apenas quando controlados no banco de provas, registravam a emissão de poluentes dentro dos limites legais. No restante do tempo, jogavam mais gases nocivos na atmosfera do que o permitido. E isso em seus principais mercados, EUA, Alemanha e Brasil incluídos.

Manobra devidamente descoberta e punida de modo exemplar – multas, indenizações, recalls e trocas de propulsores e veículos responderam, no ano passado, por cerca de US$ 20 bilhões ­– o jeito foi procurar se reinventar, o que parece ter feito bem à VW. Além do compromisso com as energias sustentáveis, a montadora parece ter acordado para a nova realidade do mercado e descido do pedestal.

Uma boa prova é a vinda do Polo (a sexta geração do hatch) apenas três meses depois de seu lançamento global, com tecnologia de ponta e preços competitivos – muito embora o discurso seja de que um VW nunca será o mais barato, mas o de melhor custo-benefício. Se o modelo é “o embaixador de uma nova era”, como propagam os executivos, ela tem tudo para ser bem mais interessante. E com potencial de levar os alemães novamente ao topo (a promessa é de 20 lançamentos até 2020, com Virtus, T-Roc e uma nova picape média a caminho).

O mais engraçado depois de todo esse tempo de Brasil é ver como a cúpula da montadora ainda sofre para arranhar um português e se mostra completamente sem jogo de cintura ao falar das novidades. Por outro lado, se mostra capaz de oferecer produtos que façam sucesso por aqui. E é bom que sejam mesmo, já que “rigorroso” agora, bem mais que nos tempos de Fusca e Kombi, está o consumidor...

 

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