“Este não é um país sério”? perguntaria Charles De Gaulle

15/12/2012 às 07:22.
Atualizado em 21/11/2021 às 19:36

“Este não é um país sério”. Assim teria o presidente Charles De Gaulle definido o Brasil em 1962, irritado por causa da proibição da pesca de lagostas por barcos franceses no mar territorial brasileiro. É possível que a frase atribuída ao herói da resistência aos nazistas tenha sido inventada por opositores do presidente João Goulart, mas há momentos, como agora, em que se duvida de nossa seriedade.

De quinta-feira até hoje, temos como presidente da República o senador José Sarney, que reassumiu o cargo depois de 22 anos do fim de um mandato que lhe caiu no colo, como vice, porque o presidente eleito, Tancredo Neves, veio a falecer antes de ser empossado. Sarney deveria ter sido presidente por quatro anos, mas ficou cinco no cargo. E agora ele voltou à presidência pela segunda vez, por um acontecimento raro na política.

Dilma Rousseff viajou domingo último para Paris, deixando a presidência com o vice, Michel Temer. Este transferiu o cargo para o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, na noite de quarta-feira, na Base Aérea de Brasília, antes de embarcar para Portugal. E Maia passou-o para Sarney, na manhã de quinta-feira, e viajou para o Panamá.

Nenhuma dessas viagens era inadiável. Uma explicação possível para a desistência de Temer e Maia de exercer o mais alto cargo da República é que eles quisessem homenagear Sarney que vai deixar logo a presidência do Senado. Outra é que se tratava de uma tentativa de esvaziar a sessão do Congresso Nacional que iria votar o requerimento de urgência para a derrubada do veto de Dilma Rousseff à lei que prejudica Rio de Janeiro e Espírito Santo na distribuição dos royalties do petróleo do pré-sal. Se a razão era essa, a manobra fracassou. Na próxima semana, o veto será derrubado, como reconheceu, em Moscou, a presidente Dilma Rousseff, ao declarar que “não tem mais o que fazer”.

O contribuinte brasileiro que paga por todas essas viagens das autoridades ao exterior não tem a quem reclamar dessa pouca seriedade na condução do país. Mas o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, anunciou que vai reclamar ao Supremo Tribunal Federal. Logo que o veto for derrubado, entrará com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a nova lei de distribuição dos royalties.

Enquanto isso, Sarney contava feliz, no primeiro dia de sua volta ao Palácio do Planalto, que uma vidente do Maranhão havia previsto que ele seria presidente duas vezes...

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