Estreias do cinema passam a ser às quintas-feiras

Flavia Guerra
13/03/2014 às 10:42.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:36

A máxima de que o boca a boca é a melhor propaganda nunca esteve tão atual. Pelo menos, se o assunto em questão for o cinema e o interesse causado pela recomendação popular dos filmes que estreiam toda semana nas cerca de duas mil salas do Brasil.

Para reforçar o ditado, as redes sociais ganharam força nos últimos anos e deram aos espectadores a oportunidade de amplificar sua voz e recomendar um bom filme para o maior número de amigos possível. O resultado? Seguindo uma prática que já deu certo em diversos países, a partir de hoje os filmes estreiam nas salas nacionais às quintas-feiras. "Os exibidores, através dos vários canais de comunicação com o espectador, principalmente as redes sociais, começaram a receber informações de que o público vinha perguntando por que os filmes não estreavam às quintas", comenta Paulo Lui, presidente da FNEEC (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas). "As concorridas pré-estreias nesse dia também demonstraram o interesse das pessoas. Percebemos que essa demanda era fruto de uma mudança de hábito dos brasileiros: a quinta-feira hoje é um dia quente em vários setores do entretenimento", completa.

Além de ouvir a voz do povo, a decisão dá atenção também aos exibidores e distribuidores, que buscavam uma solução para aquecer o dia mais fraco de público dos cinemas: a quinta-feira. "De fato, o brasileiro está antecipando o fim de semana de sexta para quinta. E já existe muita oferta de programação cultural de outros segmentos, como teatro, em que quinta é dia de estreia. Ao mesmo tempo, não é um dia de preço promocional no cinema. E por isso se tornava o pior dia. Era preciso fazer algo para melhorar o desempenho. A solução, a exemplo de outros países, foi mudar a data", observa Bruno Wainer, diretor da distribuidora Downtown Filmes.

Se a decisão é boa tanto para exibidores quanto para o público, por que o Brasil até hoje estreava seus filmes na sexta? "O País já teve a quinta como dia de lançamento de filmes até cerca de 25 anos atrás. Isso foi modificado pela necessidade de se estrear um filme depois do lançamento nos EUA, mas atualmente não há mais esse impedimento", diz Lui. "Era assim porque nos EUA a estreia é na sexta. E isso estava imposto. Mas estamos meio saidinhos e demos um grito de autonomia", completa Wainer.

Contrariando a lógica de Hollywood, além do Brasil, outros grandes mercados internacionais, como Peru, Alemanha, Austrália, Bolívia e Chile, já lançam os filmes na quinta. "É bom para todos. Para o exibidor, para o distribuidor, para o filme. Principalmente para os filmes melhores. Porque haverá um dia a mais para que o filme independente, que não tem verba para marketing, possa ser recomendado pelo espectador", analisa o distribuidor e exibidor Jean Thomas Bernardini, à frente da distribuidora Imovision e do multiplex Reserva Cultural.

É o caso de filmes como o dinamarquês Ninfomaníaca - Volume II, o brasileiro Alemão e o croata Os Filhos do Padre, os primeiros a estrear no novo calendário e que terão quatro dias para contabilizar o público de seu primeiro fim de semana.
A questão do primeiro fim de semana diz respeito principalmente aos números que medem o desempenho de bilheteria dos filmes em cartaz. "Hoje, é decisiva a bilheteria que um filme tem nos primeiros dias em cartaz. A alteração não muda muito para o blockbuster, que já chega impactante, mas muda para o filmes pequenos e médios, que poderão ter média melhor e brigar por sua permanência no cinema", explica Bernardini.

Apesar da expectativa ser positiva, a FNEEC não tem números sobre a projeção da bilheteria dos cinemas nacionais para os próximos meses. "Mas acreditamos num aumento de frequência. Como todo empresário, trabalhamos para otimizar cada vez mais nosso negócio e a ideia é aproveitarmos a oportunidade de oferecer lançamentos num dia em que o público está à procura de entretenimento", afirma Lui.

Em comunicado oficial, a rede de multiplex Cinemark apoia a mudança. "Os cinemas passam a entrar no cardápio de opções do espectador, agora com os filmes novos. Além disso, ter um fim de semana prolongado será benéfico para toda a cadeia produtiva do cinema no País."

Bernardini observa que o avanço não resolve, no entanto, o problema do espaço a ser conquistado pelo cinema independente, seja nacional ou internacional no circuito exibidor brasileiro. "O preço do ingresso às quintas vai continuar sendo cheio. Precisamos estar atentos sobre como isso vai se delinear para o público. E veremos como o exibidor em geral vai aproveitar esta nova chance de realocar os filmes em suas salas. É preciso aproveitar bem a oportunidade." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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