Ex-tesoureiro de Dilma faz defesa prévia na Lava Jato

Estadão Conteúdo
03/07/2016 às 09:51.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:09
 (Elza Fiúza-Agência Brasil)

(Elza Fiúza-Agência Brasil)

Investigado por supostamente ameaçar empresários que tinham contratos com o governo federal em troca de doações para a campanha de Dilma Rousseff à reeleição, o ex-ministro da Comunicação Social da petista Edinho Silva decidiu se antecipar à Operação Lava Jato. A estratégia de sua defesa é diferenciar a função de Edinho, que foi tesoureiro da campanha em 2014, da atuação de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, na arrecadação de fundos para o partido.

A defesa do ex-ministro vai propor à força-tarefa da Lava Jato um depoimento espontâneo. O objetivo é evitar medidas duras como buscas e apreensões, quebras de sigilo, condução coercitiva e até prisão.

"Nosso objetivo é mostrar que não tem nenhuma relação nem com Vaccari nem com as condutas que ele praticou. Independentemente de fazer qualquer julgamento sobre as condutas de Vaccari, vamos mostrar que não era a mesma coisa e que eles não atuavam em conjunto", disse a advogada de Edinho, Maíra Beuchamp Salomi. Vaccari, detido desde abril do ano passado, foi condenado a 24 anos de prisão em dois processos da Lava Jato.

Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou um agravo regimental da defesa e manteve a decisão de remeter o caso de Edinho para a o juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Segundo a advogada, a expectativa é de que os autos cheguem ao Paraná ainda nesta semana.

"Nossa ideia é nos colocarmos à disposição, já marcar um depoimento perante a força-tarefa para oferecer elementos que possam sanar quaisquer dúvidas sobre os fatos que estão sendo apurados. A ideia é afastar qualquer elemento que leve as autoridades a entenderem ser necessária uma medida cautelar contra ele", disse a advogada de Edinho.

Segundo Maíra, a estratégia de demarcar diferenças em relação a Vaccari é uma forma de contrapor a acusação. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se baseou nas delações do senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) e de Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, além de material apreendido com os empreiteiros Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro, da OAS, para levantar suspeitas de que Edinho ameaçava empresários em troca de doações para Dilma - reproduzindo na campanha o método supostamente usado por Vaccari no PT.

"Em verdade, o pedido de pagamento para auxílio financeiro ao PT, notadamente para o custeio oficial e não oficial (caixa 2) das campanhas eleitorais, muitas vezes mediante ameaças de cessação das facilidades proporcionadas ao núcleo econômico pelos núcleos político e administrativo da organização criminosa, revelam-se como medida habitual, institucionalizada e centralizada, em parte, na pessoa de Edson Antônio Edinho da Silva", argumentou o procurador-geral.

Segundo Janot, os indícios "apontam, no mínimo, para a prática de crime de corrupção passiva qualificada".

A defesa de Edinho rejeita as acusações e afirma que o ex-ministro mantinha relações com empreiteiros e outros potenciais doadores eleitorais por contingência do cargo de tesoureiro. No agravo rejeitado pelo STF, o ex-ministro cita trecho da delação de Pessoa na qual o empreiteiro afirma que "em momento algum" se sentiu "ameaçado ou achacado" por Edinho.

O depoimento espontâneo do ex-ministro acontece no momento em que Vaccari e outros petistas presos pela Lava Jato demonstram insatisfação e cobram providências do PT. Conforme o Estado revelou, o ex-tesoureiro quer que o partido assuma a culpa pelos desvios na Petrobrás. Os primeiros rumores sobre a estratégia de defesa de Edinho causaram apreensão na direção do PT, que tenta acalmar Vaccari e teme uma reação negativa do ex-tesoureiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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