Três pessoas morreram segunda-feira (28) após realizarem exames de ressonância magnética no hospital Vera Cruz, em Campinas (SP). A Secretaria Municipal de Saúde determinou na manhã desta terça-feira a suspensão de todos os exames desse tipo e de tomografias, feitos com uso de contraste, nos hospitais e clínicas da cidade, até que sejam descobertas as causas das mortes.
Nem polícia, nem as autoridades de saúde, nem o hospital sabem as causas das mortes. "O que nos intriga é que outras pessoas realizaram o mesmo exame, o produto utilizado nos contrastes das vítimas eram de laboratórios diferentes, os equipamentos de ressonância também foram distintos e os funcionários não foram os mesmos", afirmou a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas, Brigina Kemp. Ela encabeça um grupo multidisciplinar formado para investigar o caso.
As vítimas não eram idosos, tinham entre 25 e 39 anos, e não apresentavam problemas de saúde, segundo a direção do hospital. O ponto em comum foi que os três - dois homens e uma mulher - passaram pelo mesmo tipo de exame: uma ressonância magnética do crânio com uso de contraste. Minutos depois dos exames, as vítimas passaram mal e tiveram uma parada cardiorrespiratória, dentro do Vera Cruz, um hospital particular, referência nesse tipo de exames em Campinas. Uma das vítimas, Mayra Cristina Monteiro, de 25 anos, chegou a voltar ao trabalho, mas acabou retornando para o hospital.
O corpo de Mayra foi enterrado no final de tarde desta terça no Cemitério dos Amarais, em Campinas. Familiares disseram estar revoltados com a possibilidade de um erro cometido nos exames. O corpo de Pedro Ribeiro Porto Filho, de 36 anos, foi enterrado também em Campinas, na tarde desta terça. O corpo da terceira vítima, o zelador Manuel Pereira de Souza, de 39 anos, será enterrado na Bahia, em Santa Rita de Cássia.
Exames
"Não conseguimos achar uma explicação para isso. Chegamos a ligar para os demais pacientes que fizeram os exames mais cedo e nenhum relatou ter reações", afirmou o diretor administrativo do Vera Cruz, Gustavo Sérgio Carvalho. Segundo ele, outros 83 pacientes fizeram exames de ressonância magnética na segunda-feira. O hospital, que tem três equipamentos do tipo, realiza em média de 1,8 mil a 2 mil exames do tipo por mês. "Em 22 anos do Centro Radiológico de Campinas, que funciona dentro do Vera Cruz, nunca houve registro de um problema desse tipo", conta Carvalho.
Na segunda-feira, o próprio hospital comunicou as autoridades de saúde do município e a Polícia Civil sobre as mortes. Todo material usados nos exames, medicamentos, soro, inclusive o lixo hospitalar, foram recolhidos para perícia. Parte do material foi levado para o Instituto Adolf Lutz, em São Paulo, para análise, informou o delegado Alessandro Marques. As famílias das vítimas registraram boletins de ocorrência para apurar responsabilidades do hospital no caso. "Nós levantamos na literatura médica e é um caso extremamente raro. Há registros de reações no caso do uso do contraste, mas as mortes são raras", afirmou o secretário de Saúde de Campinas, Carmino Antonio de Souza.
Medidas
Na noite de segunda-feira, a Vigilância em Saúde já havia interditado o setor responsável pelos procedimentos no Vera Cruz para investigar as possíveis causas das mortes. Entre as linhas de investigação, uma delas seria problemas na matéria-prima do contraste usado nos exames - composto químico a base de gadolínio, usado para melhorar a definição das imagens e o diagnóstico.
O secretário de Saúde chegou a pedir ajuda à Secretaria de Estado da Saúde para apurar as causas das mortes, em especial problemas no medicamento. Nesta terça, uma equipe especializada em farmacovigilância e radiação ionizante esteve em Campinas para acompanhar e auxiliar nas apurações das autoridades de saúde locais e da polícia.
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