SYDNEY - Oficiais do Exército da Salvação sodomizaram com uma mangueira de jardim, trancaram em jaulas ao ar livre e espancaram brutalmente várias crianças na Austrália, segundo relatos de uma comissão que investiga o caso. A Comissão Real começou a ouvir nesta terça-feira (28) o testemunho de vítimas de abusos sexuais cometidos em quatro orfanatos do Exército de Salvação entre 1966 e 1977, em um caso descrito pelo advogado Simeon Beckett como "perturbador". A comissão foi criada pelo governo em resposta a uma série de escândalos de abusos sexuais de crianças por padres pedófilos e outros para além da Igreja Católica. O grupo examina as denúncias de abusos cometidos em locais de culto, orfanatos, grupos comunitários e escolas. Beckett indicou que nas instituições sob a direção do Exército da Salvação, "as crianças eram frequentemente espancadas pelos responsáveis até que sangrassem". "Um oficial deslocou o ombro de uma criança durante um castigo que consistia em atingir os testículos da vítima com um cinto de couro", relatou. Segundo o advogado, os abusos sexuais e castigos corporais eram comuns. Após uma tentativa de fuga, uma criança foi punida com a inserção de "uma mangueira no ânus" e "colocada em uma gaiola na varanda do centro por uma semana". "Ao ser libertado, foi violentamente sodomizado por um maior", acrescentou o advogado. Outras crianças foram obrigadas a engolir detergente, queimadas com cigarros e forçadas a engolir o próprio vômito, e uma delas foi arrastada de sua cama à noite e estuprada pelo major Lawrence Wilson, descrito por seus colegas como "brutal e diabólico". De acordo com Beckett, o Exército da Salvação pagou 1,2 milhões de dólares australianos em indenizações às vítimas de Wilson, que morreu em 2008. Wilson organizava todos os dias um "desfile repugnante" em que escolhia as crianças para serem agredidas sexualmente. "Outros agentes e funcionários do Exército da Salvação abusavam dos residentes, bem como membros da sociedade. Essas pessoas tinham acesso aos quartos das crianças", disse o advogado. Uma vítima de Wilson, Raymond Carlile, contou aos investigadores que o major "glorificava a punição e espumava pela boca". A polícia recebeu 157 denúncias contra o Exército da Salvação, 130 das quais resultaram em um pedido de desculpas e uma compensação financeira. Kate Eastman, advogada da instituição, ofereceu um "pedido de desculpas sem reservas" pela "terrível experiência das vítimas". "Admitimos que houve uma falha de maior magnitude", disse, explicando que hoje a organização mantém uma política firme para que "nenhuma criança tenha que passar por essa situação novamente".