O governo federal já admite que não é zero o risco de faltar energia elétrica no Brasil neste ano, como havia afirmado há duas semanas, na véspera do último apagão, o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão. Sexta-feira passada, o próprio ministro declarou finalmente que há risco, embora insista que ele é “mínimo”.
Vai depender da entrada ou não de grande volume de água nos reservatórios das hidrelétricas, nos próximos meses. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde se localiza grande parte desses reservatórios, o período de chuvas geralmente acaba com as águas de março. E os reservatórios dessas regiões, que abastecem cerca de 70% das hidrelétricas brasileiras, estão com volume de água abaixo do normal nessa época do ano. Na quinta-feira, sua capacidade de armazenamento estava ociosa em mais de 64%. O volume de água das represas é o mais baixo desde fevereiro de 2001, quando foi decretado o racionamento de energia no Brasil pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
Não é o caso de decretar racionamento agora, porque hoje o país dispõe de número maior de usinas que não utilizam a força das águas para gerar eletricidade. Elas podem ser acionadas para poupar água dos reservatórios, mas a energia é mais cara e bem mais poluidora.
Há outra providência que o governo pode tomar sem mais demora: convocar a população para poupar água. Se avisadas do risco, certamente as pessoas vão colaborar. Em Belo Horizonte, por exemplo, é muito comum ver moradores desavisados varrendo despreocupadamente as calçadas com jatos de água tratada da Copasa.
É uma questão que não pode ser deixada exclusivamente por conta da empresa, para que faça uma campanha publicitária para alertar a população. Mesmo porque, diminuindo o consumo, cai o faturamento e o lucro de uma empresa que, embora controlada pelo governo de Minas, tem um grande número de acionistas privados e ações negociadas nas bolsas de valores.
No entanto, bem orientada pelo governo, a Copasa pode buscar soluções para um problema com potencial para afetar milhões de consumidores. Como fez a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), desde o começo deste mês. O Sistema Cantareira, formado por quatro represas, abastece mais de 8 milhões de moradores da capital e de outros 11 municípios da Região Metropolitana de São Paulo. O sistema registrava na semana passada nível de água de 18,8%, o mais baixo da história. Para reduzir o consumo, sem lançar mão do racionamento, a Sabesp, ligada ao governo paulista, está oferecendo 30% de desconto na conta de água para quem economizar. Segundo a empresa, somente na capital estão sendo economizados cerca de 500 litros por segundo. São Paulo e Minas são estados governados pelo PSDB e podem oferecer ao governo federal um bom exemplo nessa questão.