(FREDERICO HAIKAL)
De um lado, proteção e valorização ao mais simbólico cartão-postal de Belo Horizonte, a Igrejinha da Pampulha. Do outro, mudanças no trânsito do principal corredor viário da região, que têm deixado moradores e comerciantes apreensivos. Prevista para o próximo mês, a criação de uma esplanada integrando o templo religioso à praça Dino Barbieri divide opiniões.
O tráfego de veículos fica proibido na avenida Otacílio Negrão de Lima (sentido Mineirão/Zoológico) em frente à igreja São Francisco de Assis. O fluxo será desviado para a parte de cima da via, próximo ao Parque Guanabara. A alteração afeta apenas 300 metros de pista, mas cria mão dupla no trecho e extingue 111 vagas de estacionamento, a maioria em 45 graus. Um canteiro central será construído.
“Além de oferecer melhorias ao pedestre, sobretudo ao turista que visitar a igrejinha, a restrição de veículos no local ajudará, e muito, na preservação da capela”, destaca o presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas Oliveira.
De acordo com ele, parte da dilatação das juntas da estrutura em forma de abóbada, que sofre com constantes infiltrações, é causada pelo tráfego de automóveis. “Estamos protegendo uma construção histórica e de valor inestimável para a cidade”, completa Leônidas.
A praça Dino Barbieri passará por uma requali-ficação. Estão previstas nova pavimentação e melhorias no paisagismo e acessibilidade. A ciclovia da avenida passará a integrar a futura esplanada e uma passagem elevada de pedestres será criada. A intervenção integra um conjunto de obras na Pampulha, orçado em R$ 5,5 milhões. O valor exato a ser investido na Dino Barbieri não foi informado.
Gargalo
Apesar da proteção dada à igrejinha, há quem tema por um possível gargalo no trânsito. O trecho a ser modificado na avenida Otacílio Negrão de Lima (sentido Zoológico/Mineirão) é um dos principais acessos ao estádio e outros espaços de lazer do bairro. A circulação de veículos é intensa em horários de pico e fins de semana, principalmente em dias de jogos de futebol.
Além disso, parte das vagas de estacionamento extintas é ocupada, atualmente, por quem frequenta a igreja. Vans e trailers que vendem alimentos e bebidas também não poderão ocupar a pista. Motoristas deverão estacionar os carros nas ruas Benvindo Belém de Lima ou Expedicionário Mário Alves de Oliveira. Próximo à orla, existe apenas um estacionamento privado, distante do templo religioso.
“Será um caos. O trecho é pequeno, mas teremos congestionamentos generalizados”, diz o comerciante Roberto Marques, que trabalha na região há 16 anos. Outro alerta vem do diretor do Parque Guanabara, Reinaldo Pereira. Segundo ele, assaltos e arrombamentos são constantes no entorno. “Com mais carros parando por aqui, precisaremos de mais segurança”.
Associações de bairro ficam de fora da discussão sobre as alterações no trânsito
A Pampulha conta com várias associações de bairro que representam o interesse dos moradores da região. Próximo à igrejinha, o grupo mais atuante é a Associação dos bairros São Luís e São José (Pró-Civitas).
Um dos diretores do Pró-Civitas e integrante da Comissão Regional de Transporte e Trânsito da Pampulha, ligada à BHTrans, o morador Hélder Novais pondera ao analisar as mudanças. Para ele, independentemente dos possíveis benefícios e transtornos, o que mais chama atenção é a falta de comunicação entre a prefeitura e os moradores.
"Nenhuma associação foi procurada. Nem mesmo na comissão o assunto chegou a ser tratado. Tudo que sabemos até o momento é de conversas paralelas e sem fontes oficiais. Os moradores deveriam ter sido consultados”, diz Hélder.
Segundo ele, a mudança privilegia o turismo da região e ajuda na conservação da igreja São Francisco de Assis. Porém, congestionamentos serão inevitáveis. “Para o trânsito local, que envolve os moradores, acredito que os impactos serão irrelevantes. Mas visitantes, turistas e até frequentadores do parque de diversões viverão um caos na hora de estacionar”.
Morando há 35 anos na Pampulha, Ana Cândida Christo, de 69, também questiona a modificação viária. “A igreja está com infiltrações e outros graves problemas. Deveriam, primeiro, pensar exclusivamente na revitalização do espaço”, afirma.
Por enquanto, apenas o interior da praça Dino Barbieri está em obras. Procuradas, a BHTrans e as secretarias de Obras e de Planejamento Urbano não disponibilizaram fontes para falar sobre o assunto.
Em nota, o Planejamento Urbano informou que as vagas “serão removidas para ampliar o espaço de lazer e circulação” e que novos espaços de estacionamento “visando mitigar a retirada” serão criados próximo à rua Expedicionário Mário Alves de Oliveira, atrás do Parque Guanabara.