De repente, o formato de ensino superior remoto - que era prática complementar ao método presencial, pensada para o enriquecimento do processo de aprendizagem - virou regra. A pandemia de Covid-19 forçou a mudança de rotinas e modos de ensinar em faculdades privadas mineiras, que passaram a ter que entregar aulas de qualidade em meio virtual. Após quatro meses do formato, as instituições avaliam positivamente o desafio e se preparam para um retorno físico seguro, ainda sem previsão. Nessa quarta-feira (1), o Ministério da Educação (MEC) divulgou orientações para a retomada em universidades federais.
Com métodos de ensino que integram o presencial ao ambiente digital há alguns anos, a Faculdade Promove suspendeu as aulas dois dias antes da publicação do decreto estadual que interrompeu o ensino presencial, em março. Elas foram retomadas poucos dias depois, com uma transição que, além de não prejudicar, potencializou o processo de ensino.
"O contato físico faz muita diferença e eu amo as aulas presenciais, mas o ensino remoto trouxe resultados sensacionais, com aulas ao vivo e que ficam gravadas para revisão, criação de grupos de discussão, suporte e liberdade de acesso aos professores, mural de recados no Class [Google for Education], além de demonstrações, como o Ilustrator [software de edição de imagens] em tempo real, coisas que a professora não conseguiria fazer na sala de aula", opinou Andréia Oliveira Paiva, estudante do segundo período de jornalismo da instituição.
Com aulas on-line e contato próximo ao corpo docente, os alunos fazem as provas finais e entrarão em recesso no dia 15 de julho, com retorno em agosto. Na opinião do professor e diretor-geral da Faculdade Promove, Dante Pires Cafaggi, os resultados positivos devem-se à expertise da faculdade com o meio digital, uma prática pensada para promover o processo de ensino fluido. O próximo passo é a retomada segura, situação para a qual a instituição também já se preparou.
Retomada segura
"Todos os alunos, professores e profissionais administrativos estão trabalhando de casa. Acompanhamos as orientações do MEC, vamos nos espelhar nelas, mas queremos melhorá-las um pouco mais", afirmou Dante. Segundo o gestor, as faculdades Promove e Kennedy criaram o 'Quarentena', um comitê de gestão de ações para a pandemia, que se reúne constantemente e prevê diretrizes para a volta segura às aulas.
Entre as ações, estão a disponibilização de álcool em gel em todas as salas, repartições e corredores; a compra de máscaras para disponibilização a alunos que tentarem entrar sem o EPI nos prédios das instituições; a desinfecção frequente dos espaços; e o escalonamento de aulas nos períodos da manhã, tarde e noite, nos auditórios das unidades das faculdades, no Prado (Oeste), Venda Nova (Norte) e João Pinheiro (Centro-Sul).
"Em nossas faculdades, temos diversos auditórios. Só na João Pinheiro, são cinco, para 200 pessoas. Por isso, ao invés de colocar 30 pessoas em uma sala, é uma possibilidade colocarmos 50 em um auditório onde cabem 200 pessoas. Elas estarão bem separadas entre si", explicou o gestor.
Outra medida importante anunciada pelo diretor em caso de retomada das aulas presenciais é a manutenção de profissionais pertencentes aos grupos de risco, como pessoas acima de 60 anos e gestantes, em teletrabalho.
"Essa é a nossa responsabilidade. Fomos uns dos primeiros a liberar os alunos das aulas presenciais. Nós queremos, exatamente, preservar as vidas. A pressa para voltar não temos. Nós só queremos voltar com muita segurança. Mesmo que as federais voltem em agosto, e mesmo que o prefeito ou governador falem que está liberado, antes de nós sairmos correndo para liberar, vamos nos reunir para que tenhamos garantia absoluta", disse.
Avaliação de alunos
Na Faculdade Kennedy, também em Belo Horizonte, a análise é positiva para o processo. De acordo com o diretor geral, Setembrino Lopes Junior, a instituição se adaptou rapidamente à situação e desenvolveu um trabalho de acolhimento dos alunos, que servirá de exemplo para o aumento na inclusão de processos on-line na aprendizagem.
"Essa situação, que ninguém queria que ocorresse, vai acabar trazendo grande aprendizado para todos. O estudo não foi prejudicado e, daqui para frente, essa forma de aula será empregada com maior frequência. Os alunos receberam bem. Em pesquisa que fizemos com os alunos, 75% deles avaliaram como bom ou ótimo a forma que nós conduzimos a situação atual", explicou.
Segundo o gestor, o mesmo estudo foi feito na Faculdade Promove, com os mesmos resultados. Como dificuldades do processo, Júnior relembrou a realidade de alunos que não têm bom acesso à internet. Para solucionar o problema, as faculdades Kennedy e Promove estudam uma parceria com operadoras de telefonia celular para a oferta de banda com preços mais acessíveis.
Para Kleber Lorenzini, coordenador de extensão da instituição, a aprovação dos alunos é resultado, além do preparo das faculdades com a tecnologia, do trabalho que a área de extensão realiza com os estudantes e a comunidade. Segundo ele, entre eles, estão os seminários on-line já desenvolvidos pelas instituições, abertos ao público e gratuitos.
"A extensão é um apoio social, de direitos humanos, e que leva toda a tecnologia estudada na instituição, como equipamentos e processos de aprendizagem, à comunidade", disse. Um dos congressos programados pela instituição, que será divulgado em breve, será realizado entre os dias 13 e 24 deste mês e tratará justamente do "novo normal" pela qual toda a sociedade está passando. As novas formas de frequentar a faculdade também deverão ser discutidas.