Falta de chuva já castiga 760 mil mineiros; 25 municípios enfrentam racionamento

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
12/09/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:31
 (LEONARDO QUEIROZ/DIVULGAÇÃO)

(LEONARDO QUEIROZ/DIVULGAÇÃO)

A seca que castiga várias regiões mineiras coloca em risco o abastecimento de água no Estado. Pelo menos 25 cidades já tiveram o racionamento decretado pela Copasa, um impacto para mais de 760 mil pessoas. Outros 135municípios são alimentados por rios em situação de risco e também podem entrar em rodízio de fornecimento.

Atualmente, 20 pontos ao longo das bacias mineiras estão em um dos três estágios de risco: alerta, atenção ou restrição, conforme classificação do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Apenas duas áreas analisadas são consideradas “normais”. 

“As bacias estão na situação mais crítica dos últimos seis períodos chuvosos”Jeane Dantas de CarvalhoGerente de monitoramento do Igam

Para chegar a essa divisão, o Igam considera as condições dos rios por sete dias consecutivos. Quando as vazões ficam abaixo do valor estipulado como referência, que leva em conta a série histórica de dez anos, é decretada situação de restrição. Pouco antes de chegar a esta condição, que é a mais crítica, entram em estado de alerta e atenção. 

Diminuição

Na prática, atingir nível de restrição significa que a quantidade de água a ser retirada diariamente para os diversos usos deve ser diminuída. Para consumo humano, a redução obrigatória é de 20%. Já para irrigação, a diferença é de 25% e no atendimento às indústrias, de 30%. 

“Se a captação de água tem que diminuir nos rios, as concessionárias precisam tomar atitudes para conseguir essa redução. Uma das alternativas é o rodízio”, afirma a gerente de monitoramento hidrometeorológico e eventos críticos do Igam, Jeane Dantas de Carvalho. 

Problema

Montes Claros, no Norte de Minas, adotou o racionamento. A cidade é abastecida pelo rio Juramento, curso d’água em estado de restrição. Segundo o secretário de comunicação da prefeitura, Alessandro Freire, as residências têm ficado pelo menos 48 horas sem abastecimento. 

O rodízio reflete na economia local. “Vivemos uma crise sem precedentes. As indústrias chegaram no limite e apontam para o risco de ter que parar a produção e os pequenos produtores rurais estão impossibilitados de plantar”, observa Freire.

Para a população, o racionamento é sinônimo de mudança de rotina. “A água tem caído na minha casa de três em três em dias. Com o tempo seco, meus dois filhos, de 10 e 13 anos, têm tido crises alérgicas”, conta o frentista Arley Junior Rodrigues Cardoso, de 39 anos.

Em nota, a Copasa afirma que, além dos rodízios, são adotadas medidas emergenciais nas cidades em condições de risco como perfuração de poços, apoio de caminhões-pipa e melhorias operacionais dos sistemas. 

Na Grande BH, a Copasa já descartou a chance de racionamento; para o presidente da Granbel (Associação dos Municípios da RMBH), Vitor Penido, é necessário investir na conscientização em nome da economia de água

Escassez hídrica antecipada intensifica trabalho assistencial

Se antes os períodos mais críticos de escassez hídrica eram os meses de setembro e outubro, neste ano, a marca passou para julho. Já no início do segundo semestre foi necessária uma intensificação no trabalho de distribuição de água, feito pelo governo do Estado, Defesa Civil e Copasa em Minas Gerais. 

“No ano passado, quando começamos os trabalhos de atendimento aos impactados pela seca em setembro, atendemos 39 cidades. Já neste ano, iniciamos em julho e foram 28 municípios. A perspectiva é aumentar muito mais até dezembro”, aponta o superintendente administrativo da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), major Welvisson Gomes Brandão. 

Desde 5 julho, já foram gastos R$ 1,676 milhão pela Defesa Civil na distribuição de água para comunidades que sofrem com a seca. Foram 38 caminhões-pipa de dez mil litros cada, totalizando 380 mil litros. É o maior investimento desde que essa política pública foi criada, em 2012. 

Segundo o coordenador da Defesa Civil do Estado, coronel Fernando Antônio Arantes, os esforços têm sido concentrados no semiárido mineiro, área que mais sofre com a crise hídrica. 

Emergência

Até o momento, 78 cidades tiveram decretada situação de emergência pela Defesa Civil em função de seca e estiagem. A maior parte delas no Norte do Estado.

“O clima da região é mais quente e seco historicamente. Mas agora a situação está ainda pior com vários córregos e rios completamente secos. Sem alternativa, muitas pessoas estão saindo da zona rural para a urbana porque em muitos locais não tem água nem furando poços artesianos”, coloca o secretário de Estado de Desenvolvimento e Integração do Norte e Nordeste de Minas Gerais, Epaminondas Miranda. 

Para amenizar a situação, a secretaria tem furado centenas de poços artesianos e milhares de cisternas na região. A expectativa é de que até o meio do ano que vem as obras já estejam prontas, o que poderá amenizar os impactos do período seco na região. 

“Formamos uma força tarefa com a Defesa Civil e Copasa. Cada um trabalhando para amenizar os impactos da seca no Estado”, afirma Miranda.Editoria de Arte / N/A

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