(Riva Moreira)
Medicamentos gratuitos e obrigatórios para pessoas que passaram por transplantes estão em falta em Minas. Sem os remédios, pacientes correm o risco de morrer. Em alguns casos, a espera tem durado até seis meses. Os imunossupressores são fundamentais para que os novos órgãos não sejam rejeitados.
Os principais estoques zerados são do Tacrolimo, Ciclosporina e Cicofenolato de Sódio, informou a Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT). A compra dos produtos é feita pela União, que repassa aos governos estaduais. Segundo a Secretaria de Saúde mineira (SES-MG), a pasta já está com as medicações. A distribuição começa hoje, mas a regularização de todas as farmácias públicas deve levar mais uma semana.
Quem depende dos remédios conta que a situação é muita sofrida. Paciente de um transplante renal há dois anos, Paulo Augusto Vieira, de 24, precisou aguardar por 180 dias. Durante esse tempo, chegou a ficar internado.
“Foi assustador”, resume o jovem morador do Barreiro, que contou com o apoio do pai, José Pereira, de 59, para reunir forças nesse período. “Ficamos angustiados até que, na quinta-feira passada, nos disseram que o medicamento estaria disponível. Mas não sabemos até quando. Ficamos receosos”, diz o pai, que foi em busca de doações para ajudar o filho.
Risco
Um dos diretores da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Gustavo Fernandes Ferreira explica que a falta dos imunossupressores tem sido constante e requer compromisso efetivo dos responsáveis. “É uma situação muito grave, porque a pessoa pode perder o órgão, uma vez que o corpo pode rejeitar”, afirma.
O vice-presidente da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante, Marcos Vieira, acrescenta que isso pode ocorrer de duas maneiras. “Corre o risco de perder de forma aguda, quando deixa de tomar a medicação, ou crônica, quando toma sem a frequência e a dosagem necessárias”, explica Marcos.
Fornecimento
O desabastecimento das substâncias de uso contínuo tem se arrastado em Minas desde o ano passado, conforme o Hoje em Dia já mostrou em outras ocasiões. Falhas em licitações, falta de recursos, atrasos na entrega e no pagamento a fornecedores são alguns dos motivos para a escassez.
Dos remédios citados, a SES disse que apenas o Ciclosporina de 50mg está com o estoque reduzido devido a uma pendência financeira com a empresa que faz a entrega. A situação também deve ser resolvida até a semana que vem.
“A SES-MG entende que é de suma importância o fornecimento regular do medicamento em questão e, tão logo o item seja entregue em nosso almoxarifado, será autorizada a distribuição a todas regionais de saúde do Estado”.
A reportagem não conseguiu contato com gestores nem secretários que participaram do governo anterior. O Ministério da Saúde informou "que tem encaminhado os medicamentos para o estado de Minas Gerais. As remessas foram enviadas entre abril e junho, sendo que o quantitativo atende toda a demanda aprovada, até o momento, para o estado", disse em nota.
A pasta detalhou que foram encaminhadas 2.241.850 unidades do tacrolimo 1mg, 94.950 de tacrolimo 5mg, 194.520 unidades de micofenolato de sódio 180 mg e 839.640 unidades do micofenolato de sódio 360 mg e que a responsabilidade de programação, armazenamento e distribuição de medicamentos "adquiridos de forma centralizada pela União é das Secretarias de Saúde dos Estados".
Já sobre ao medicamento Ciclosporina, o Ministério esclareceu que "o fármaco pertence ao grupo 2 do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, que é de responsabilidade das Secretarias de Saúde dos Estados a aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação".