Falta pouco para o país se tornar inviável

29/06/2016 às 09:01.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:05

Os monetaristas que comandam a economia desde janeiro do ano passado estão quase lá: falta pouco para o país se tornar inviável. Mais um empurrãozinho no mergulho recessivo e não conseguiremos mais voltar à tona.

As contas do governo em maio, divulgadas ontem, não me deixam mentir. O déficit primário, de R$ 15,493 bilhões, é o maior desde o início da série histórica em 1997. No acumulado do ano, o déficit alcançou R$ 23,770 bilhões, o que representa 1% do PIB e é também o maior da série. Em 12 meses até maio, o resultado negativo chegou a R$ 144,999 bilhões, o equivalente a 2,4% do PIB.

São números assombrosos, mas não para a atual equipe econômica de Henrique Meirelles (Fazenda) e Ilan Goldfajn (BC). Para eles, tudo corre dentro do normal, já que conseguiram aprovar a meta fiscal absurdamente elástica de déficit de R$ 170 bilhões para o fim do ano. Mas não é normal.

A questão é que o governo tenta cortar gastos para reduzir o déficit, mas não consegue fazê-lo na velocidade da queda das receitas que ele mesmo provoca. É o cachorro correndo atrás do rabo. Cortar na máquina é complicado e lento, então passa-se o facão nos investimentos. Mas como esses investimentos são o motor da economia, a atividade econômica encolhe e, consequentemente, cai a arrecadação. E, então, o déficit cresce.

No acumulado do ano até maio, o governo somou uma receita líquida total de R$ 456,233 bilhões, o que representa queda de 5% (real, ou seja, descontada a inflação) na comparação com o mesmo período do ano passado. Somente em maio, a queda da receita foi de incríveis 9,9%. Já as despesas subiram 1,4% em termos reais nos cinco primeiros meses do ano e atingiram R$ 480 bilhões.

Praticamente todas as ordens de despesa do governo federal aumentaram, menos os investimentos, que caíram e muito. No acumulado do ano, somaram R$ 23,003 bilhões, o que representa 12,8% a menos que no mesmo período do ano passado. E, em maio, a queda foi de 36,1%, para R$ 3,054 bilhões. Ou seja, o governo está progressivamente garroteando os investimentos, onde estão incluídos o Programa de Aceleração do Crescimento e o Minha Casa, Minha Vida.

A perseguição obsessiva do superávit está aos poucos enterrando o país. E chegará o momento, não muito distante, em que uma mudança na política econômica estará inviabilizada. Hoje o governo não investe porque não acredita no investimento. Amanhã não poderá investir por pura inanição das contas públicas, independentemente de quem esteja na cadeira que hoje é de Meirelles.

O problema é que, com os déficits primários sucessivos e crescentes, a dívida pública federal cresce a um ritmo alucinante. E para tal também contribui o luxo que o Brasil se dá de pagar a maior taxa de juros do mundo. Em maio, o estoque da dívida pública federal atingiu R$ 2,878 trilhões, quase 3% a mais que no mês anterior. Mas como os comandantes da economia enxergam o Brasil como um país de segunda classe, acreditam que precisamos de pagar 16,67% de juros ao ano para atrair investidores (que é o juro médio pago em maio pelos papéis do tesouro).

Fazer déficit não é pecado, mas fazer déficit sem uma política de desenvolvimento é crime. É possível ficar no vermelho por algum tempo, desde que o governo não abra mão de seu papel de indutor do crescimento. O círculo virtuoso é o seguinte: investimento do governo, reativação econômica, aumento da arrecadação e geração de superávit. É o contrário do que se faz hoje.

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