Um dos pais do Plano Real, que em julho comemora 20 anos, o economista Gustavo Franco, presidente do Banco Central entre 1997 e 1999, afirma em entrevista publicada domingo pelo Hoje em Dia que não está totalmente destruída a integridade de certos princípios básicos da estabilidade, tais como o superávit primário, o câmbio flutuante e o cumprimento das metas inflacionárias.
Essa integridade, criada no governo Fernando Henrique Cardoso, vinha sendo mantida até dois anos atrás, conforme Gustavo Franco, até que fosse introduzida nova matriz econômica a pretexto de fomentar o crescimento econômico brasileiro. O governo falhou e, na verdade, provocou mais inflação. Um exemplo mais próximo é o da Argentina, que em janeiro registrou inflação mensal de 3,5%.
Embora não seja comparável com a inflação da véspera do Plano Real, que atingiu a taxa de 4.922% em 12 meses, o índice atual de inflação preocupa, porque “hoje as pessoas estão muito menos protegidas da inflação”, alerta o ex-presidente do Banco Central. “É uma inflação pequena, mas que pode causar muito estrago, diferentemente do passado”, diz Gustavo Franco.
Henrique Meirelles, que presidiu o BC nos oito anos do governo Lula, escreve num artigo publicado no fim de semana que a expansão impressionante do mercado de consumo brasileiro não tem sido acompanhada nos últimos anos de crescimento compatível do investimento em produtividade e infraestrutura. “Esse é o nó górdio do nosso desenvolvimento”, diz. Para desatá-lo, é preciso conhecer e usar os mercados, formulando políticas que viabilizem investimentos.
São políticas conhecidas, mas de difícil implementação, sobretudo em ano eleitoral. Conforme Gustavo Franco, seria necessário reiniciar com mais vigor e convicção as reformas “tributárias, previdenciária e, sobretudo, as reformas que melhoram o clima para o empresário investir”.
É menos complicado manter firmeza em relação à responsabilidade fiscal, introduzida na gestão pública do país pelos mentores do Plano Real.
Na entrevista desta segunda-feira, a secretária de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, garante que Minas tem cumprido, nas operações de crédito, os indicadores da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ao recorrer a outros empréstimos bancários, o governo se esforça por diversificar a estrutura produtiva do Estado, hoje dependente dos preços das commodities. É razoável, desde que não haja um retorno ao passado. Com o mesmo objetivo de promover o desenvolvimento – por exemplo, ao investir pesadamente na construção da Açominas –, o Estado acabou quebrando seus bancos, à exceção do BDMG.
O real, moeda que surgiu como consequência daquele passado terrível, não pode desaparecer como tantas outras moedas brasileiras, por decisões equivocadas como as que são atribuídas ao governo Dilma.