FBI indicia Del Nero e Ricardo Teixeira por corrupção

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03/12/2015 às 14:03.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:11
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

Marco Polo del Nero e Ricardo Teixeira foram indiciados nos Estados Unidos por corrupção, enquanto a Fifa abre investigações contra o presidente da CBF por violações ao código de ética e pode suspender o dirigente do futebol. Mas, diante de uma decisão judicial no Brasil que impede a cooperação com os EUA, Del Nero não será preso e nenhum pedido de cooperação pode ser apresentado ao Ministério Público Federal.

De acordo com o jornal The New York Times, Del Nero e Teixeira estariam entre os 16 executivos indiciados nesta quinta-feira (3), dia em que autoridades da Suíça e dos EUA prenderam mais dois cartolas da Fifa, no mesmo hotel de Zurique em que foram feitas a prisão de sete dirigentes, em maio.

O Departamento de Justiça dos EUA vai publicar o indiciamento de mais um grupo de cartolas, apoiando as prisões dos vice-presidentes da Fifa, Alfredo Hawit e Juan Ángel Napout, nesta manhã. O documento confirma o que a reportagem do jornal O Estado de S.Paulo havia revelado com exclusividade em 15 de setembro: Del Nero estava sendo investigado pelo FBI.

Agora, ele é indiciado formalmente por receber propinas em contratos comerciais envolvendo a CBF. A reportagem apurou que o governo americano estava costurando um pedido de cooperação com o Brasil para que Del Nero fosse preso ou pelo menos ouvido pela Justiça.

Mas, conforme a reportagem revelou com exclusividade, uma decisão de uma juíza no Rio de Janeiro suspendeu todo o tipo de cooperação entre americanos e brasileiros envolvendo o escândalo da Fifa. Com isso, o MP brasileiro fica impedido de cumprir qualquer solicitação do FBI relacionado com o caso.

Nos EUA, a apuração sobre Del Nero se debruçava sobre pagamentos feitos por José Hawilla, dono da Traffic. A Justiça apontava como o empresário brasileiro foi obrigado a compartilhar um contrato que tinha com a CBF para os direitos da Copa do Brasil com a Klefer a partir de 2011. Para o período entre 2015 e 2022, a Klefer pagaria à CBF R$ 128 milhões pelo torneio, minando a posição privilegiada que Hawilla tinha desde 1989.

Para evitar uma guerra comercial, Hawilla e a Klefer entraram em um entendimento. Mas só neste momento é que a Klefer informou que havia prometido o pagamento de uma propina anual a um cartola da CBF, cujo nome não foi revelado.

Essa mesma propina teria de ser elevada a partir de 2012 quando dois outros membros da CBF entrariam em cena. Um deles é José Maria Marin, preso em Zurique e extraditado aos Estados Unidos. O outro, segundo os americanos, seria Del Nero.

Dois documentos revelados ainda no dia 27 de maio pelo Departamento de Justiça dos EUA confirmavam a suspeita. Del Nero negava que ele fosse a pessoa indiretamente apontada nos informes.

Num deles, um empresário "informa Hawilla que o pagamento de propinas aumentou quando outros dois executivos da CBF - especificamente o Co-Conspirator #15 e Co-Conspirator #16 - pediram propinas também".

O documento explicava que o co-conspirador 15 era membro do alto escalão da CBF e membro da Fifa e da Conmebol - a descrição apenas pode ser preenchida por José Maria Marin. Naquele momento, ele era o presidente da CBF, era membro da Fifa e da Conmebol.

Já o co-conspirador 16 seria membro do alto escalão da Fifa e da CBF. Nesse caso, apenas Del Nero mantinha um cargo na CBF (vice-presidente) e na Fifa (membro do Comitê Executivo).

"Hawilla concordou em pagar metade do custo da propina, que totalizava R$ 2 milhões por ano, para ser dividido entre Co-Conspirator #13, Co-Conspirator #15, e Co-Conspirator #16", indicou o indiciamento do empresário.

O mesmo caso é contado no documento que serve de base para o indiciamento de José Maria Marin e, neste caso, o nome do ex-presidente da CBF é apresentado. No indiciamento, a Justiça traz até mesmo um diálogo entre Marin e Hawilla, em que o cartola insiste que o dinheiro precisa ir para ele também. A reunião gravada ocorreu nos EUA em abril de 2014.

No documento de maio que cita Marin, Del Nero não é citados nominalmente na acusação. Mas a Justiça explica que um "co-conspirador 12" teria também recebido parte da propina. Esse co-conspirador 12 seria um "alto funcionário da Fifa e da CBF". Uma vez mais, apenas Del Nero se enquadra nessa descrição.

CONTAS - Para chegar ao atual presidente da CBF, a Justiça americana tem examinado depósitos e pagamentos feitos pela Traffic nos EUA, assim como pela Klefer. Já na justificativa para pedir a extradição de José Maria Marin, os americanos apontaram dois depósitos como exemplos de como o sistema financeiro americano estava sendo usado no esquema entre os cartolas da CBF.

Uma das contas, porém, chama a atenção do FBI. Trata-se de uma transferência da Klefer, avaliada em US$ 500 mil no dia 5 de dezembro de 2013 a partir de uma conta no banco Itaú Unibanco de Nova York para o HSBC em Londres, em nome de uma empresa fabricante de iates de luxo. O que a Justiça quer saber é quem teria sido o beneficiado pela compra do iate ou pelo pagamento.

SUSPENSÃO - Del Nero ainda passou a sofrer um processo na Fifa, que abriu uma investigação. Se punido, Marco Polo Del Nero poderá ser suspenso do futebol e terá de deixar a CBF. Com base nas informações enviadas pela CPI do Futebol no Senado, a Fifa abriu um processo investigativo e Del Nero poderá ser suspenso do futebol, o que significa que ele terá de deixar a CBF.

O brasileiro não viaja ao exterior desde maio, quando José Maria Marin foi preso em Zurique. Na semana passada, o cartola obrigou a Conmebol a realizar sua reunião no Rio de Janeiro para que um substituto fosse escolhido para seu lugar no Comitê Executivo da Fifa. O escolhido foi Fernando Sarney.

A reportagem apurou que a CPI do Futebol enviou dados sobre Del Nero para o Comitê de Ética da Fifa no dia 11 de novembro deste ano. No pacote foi enviado suspeitas de como Del Nero teria influenciado votos para sua eleição graças a um contrato de patrocínio da Chevrolet com as federações estaduais. Os acordos vigoraram entre 2013 e 2014, período em que o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, era vice-presidente da entidade.

O primeiro contrato da Chevrolet ocorreu com a Federação Paulista de Futebol na época em que Del Nero era seu presidente e quando o dirigente passou a ocupar a vice-presidência da CBF, a montadora passou a patrocinar federações estaduais por todo o País. Entre 2013 e 2014, 22 destas entidades tiveram contrato com a empresa.

Mas, neste ano, quando Del Nero assumiu a presidência da CBF - venceu as eleições em 2014 -, a Chevrolet passou a patrocinar apenas a entidade nacional, que rompeu anos de parceria com a Volkswagen.

Um dos contratos com uma federação estadual, obtido pela reportagem, revela o compromisso da montadora de pagar R$ 320 mil em patrocínios para 2013 e outros R$ 320 mil para 2014, num total de R$ 640 mil em dois anos.

O que chama a atenção dos investigadores da CPI é o valor de R$ 40 mil que seria destinado para "ativações e ações promocionais". No contrato, a empresa confirma que o patrocínio é de R$ 600 mil.

Mas, numa carta-acordo de intermediação de patrocínio, outros R$ 40 mil são adicionados. O documento aponta que o valor deve ser passado para a SG Marketing e Comunicação Ltda., representada por Sergio Luis de Sousa Gomes. O montante coincide com o valor final indicado no contrato principal de patrocínio, elevando o total para R$ 640 mil.

Pela carta, a empresa de veículos explica que o pagamento de R$ 40 mil ocorre "por razões operacionais internas" e ordena que a federação estadual repasse o dinheiro da "seguinte forma": direito de intermediação comercial e ativação do patrocínio. E indica que a SG Marketing é a detentora exclusiva desses direitos.

Na avaliação da CPI, os valores citados abrem a suspeita de que a inédita cobertura de uma mesma marca em tantas federações pode ter beneficiado Del Nero na eleição para presidente da CBF. Ele obteve 44 dos 47 votos possíveis (votaram as 27 federações, mais os 20 clubes da Série A do Brasileiro). Seu mandato termina em 2019.

Outro aspecto destacado pela CPI para a Fifa foram compras de imóveis a preços atípicos e que poderiam apontar para lavagem de dinheiro.
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