O deputado Tiririca (PR-SP) entrou para a história das campanhas eleitorais no Brasil em 2010 ao disputar uma vaga no Congresso Nacional pelo Estado de São Paulo com o bordão “Vote no Tiririca, pior que tá, não fica!”. Satirizando o descrédito da classe política, o comediante chegou a Brasília como recordista de votos em todo o país naquele ano. Mais de 1,3 milhão. O parlamentar não decepcionou seus eleitores e se reelegeu em 2014, mas a profecia não se concretizou. Infelizmente, a situação piorou. E muito.
Nos últimos meses mergulhamos em uma das piores crises econômicas já registradas e estamos vivendo um caos político sem precedentes. Às vésperas da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, o governo responde ao processo que pode abreviar o mandato da petista com a mesma estratégia adotada pelo Partido dos Trabalhadores em seus 13 anos de poder. Impera a manipulação das informações e cooptação de aliados políticos por meio da distribuição amoral de cargos e vantagens.
Os atuais ocupantes do Palácio do Planalto tentam dividir a opinião pública com a falácia de que o impeachment é golpe. No mínimo, essa afirmação é um desrespeito aos milhões de brasileiros que, espontaneamente, foram às ruas para exigir mudanças e diariamente manifestam insatisfação por diferentes meios, principalmente as mídias sociais. É uma afronta às diversas entidades empresariais e sociais que se apresentaram publicamente contra a imoralidade impregnada na administração dos recursos nacionais. Acima de tudo, significa profundo desprezo aos valores definidos por nossa Constituição Federal, como demonstra claramente o pedido de impeachment formulado pelos advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal.
O embaraço político brasileiro se completa com a própria tramitação do impeachment na Câmara, sob influência de um presidente envolvido em diversas suspeitas de corrupção e que é réu em uma ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF).
Tenho manifestado constantemente minha indignação, e também da maioria dos cidadãos do país, em relação à permanência de Eduardo Cunha na presidência da Câmara. Sua presença contamina todo tipo de processo legislativo com manobras e artimanhas para obstruir os trabalhos e utilizar nossa estrutura política em benefício próprio. Para piorar, em caso de deposição de Dilma, sendo substituída pelo vice Michel Temer, o presidente da Câmara passará a ser o segundo na linha de sucessão presidencial.
A interferência de Eduardo Cunha nos procedimentos de investigação é evidente. Há cinco meses a Comissão de Ética da Casa analisa pedido de afastamento do deputado por quebra de decoro, mas até agora não superamos a fase de oitiva das testemunhas. Para se ter uma ideia da protelação, o processo que resultou na cassação de José Dirceu, do qual fui relator em 2005, foi totalmente concluído em exatos cinco meses.
Vale lembrar que proposta semelhante contra Cunha foi apresentada ao STF em dezembro passado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Mas o caso também permanece sem resolução.
Na opinião da grande maioria dos brasileiros, a única saída para esse imbróglio político e econômico é a formação de um novo governo. O caminho mais curto ainda parece ser o impeachment, mas também não podemos descartar a possibilidade de convocação de novas eleições gerais. Desde já deixo claro que concordo com o fim dos mandatos atuais, para que a população possa escolher nas urnas uma nova configuração política nacional. Estou ao lado daqueles que querem mudanças, o mais rápido possível. Do contrário, o mais provável é que o Brasil fique mesmo cada vez pior.