Filme peruano em cartaz nos cinemas aborda aumento de seitas na América do Sul
Seita criada numa cidadezinha litorânea pobre acredita que, abaixo da superfície do mar, está o esconderijo de discos voadores (Pandora/Divulgação)
Não vemos em nenhum momento seres extraterrestres em “Contatado”, produção peruana em cartaz nos cinemas. O filme passa longe dos códigos de uma obra de ficção científica, embora a crença na presença de seres de outros planetas sirva de combustível para questões sociais, como a manipulação da fé das pessoas em torno de uma promessa sobre vida paradisíaca fora da Terra.
A narrativa recapitula a história de uma seita numa cidadezinha litorânea pobre do país sul-americano, que acreditava abrigar, abaixo da superfície do mar, o esconderijo de discos voadores. Alguma coisa dá errado, seguidores morrem e o líder dela desaparece. Ele é o personagem principal, com a história encontrando-o num momento de estagnação, esforçando-se apenas em tentar apagar as pegadas religiosas.
O “alienígena” é de outra ordem, um desconhecido que encontra o ex-líder e entra em seu caminho de maneira abrupta, transformando a vida dele. A construção dessa relação é o ponto alto do longa, dirigido por Marité Ugás, montadora de um dos mais instigantes trabalhos venezuelanos lançados recentemente, “Pelo Malo”, de Mariana Rondón, que tem certa relação com “Contatado”.
Ambos carregam uma condução documental quando exibem as relações sociais de uma comunidade pobre e atravessam a história com um retrato sobre diferentes formas de dominação. Mergulhado num mundo de autoexílio, Aldo vê, impassível, as paredes desabarem ao seu redor, de forma figurada e literal – a sua casa sofre com os constantes abalos de uma construtora que está demolindo todo o quarteirão.
Essa recusa em sair do lugar ou tomar uma posição é emblemática desse momento na vida de Aldo. Questões importantes batem-lhe à porta sem que ele dê ouvido, incluindo um chamado espiritual. É quando surge Gabriel, um jovem que reacende o passado do profeta dos OVNIs. Gabriel é um nome bastante sugestivo, ligado a um anjo que é sinônimo de “mensageiro de Deus” e “ressurreição”.
Inicialmente um admirador de Aldo, Gabriel progressivamente revela outros propósitos, mimetizando o mestre. Num campo mais amplo, Gabriel é o sintoma da força política que os líderes religiosos assumiram no continente, inclusive no Brasil. Dentro da história, representa um divisor de águas para Aldo. Na última imagem do filme, o profeta sente um forte tremor, prevendo que algo que está por vir.
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