Filmografia de Alfred Hitchcock ganha formato Blu-Ray

Alfred Hitchcock voltou ao centro das atenções neste ano, com a eleição dos "melhores filmes de todos os tempos" pela revista inglesa "Sight and Sound", promovida a cada dez anos. O filme "Um Corpo que Cai", dirigido pelo mestre do suspense em 1958, desbancou "Cidadão Kane" do topo da lista.

Uma das razões é que parte de sua filmografia só ganhou reexibição a partir da década de 1980, gerando um crescente fascínio pela obra do britânico. As novas tecnologias também ajudam a popularizar o trabalho. A Paramount acaba de disponibilizar, em Blu-Ray, box com 14 filmes, incluindo 15 horas de extras.

"Um Corpo que Cai" está presente, assim como outros longas fundamentais na história do cinema, como "Janela Indiscreta", "Os Pássaros" e "Psicose". A revisão é importante para entender os porquês de o filme superar uma obra que, indiscutivelmente, inovou em vários aspectos da linguagem cinematográfica.

Reconstrução

Curiosamente, "Um Corpo que Cai" e "Cidadão Kane" têm aspectos em comum ao fazer a reconstrução de um morto e colocarem verdades e mentiras como algo indissociável, próprio do homem, conclusão a que chegam um jornalista (no filme de 1941, assinado por Orson Welles) e um detetive, vivido por James Stewart, ator-fetiche de Hitchcock.

Stewart interpreta um homem apaixonado por uma morta e que tenta trazê-la à vida em outra mulher, fazendo-a vestir da mesma maneira. É uma grande ironia, porque a segunda já tinha feito esse papel antes. Não é o que ela quer, porém, aceita, esperando ser amada por quem é de verdade.

Essa troca diz muito sobre uma história que, em essência, tem como grande tema a culpa, um dos assuntos preferidos do diretor. O detetive participa diretamente de três mortes, em momentos diferentes da narrativa. É como se voltasse ao mesmo lugar, condenado a esse destino.

Situação que se relaciona com a personagem de Kim Novak. Ela é uma entediada mulher rica que incorpora o espírito de sua bisavó, passando a exibir um comportamento estranho.

Representação

Stewart é chamado a resolver o caso e se apaixona por ela (a mulher e sua representação). Quando esta assume a sua verdadeira identidade, o que o detetive quer é a imagem anterior. É a grande discussão provocada em "Um Corpo que Cai", chamando a atenção do público (pelos sortilégios do destino) e dos críticos (por conta de seu jogo de representação).

Dobradinha com a Universal teve início em 1942

Lançada pela Universal, a caixa "Alfred Hitchcock – The Masterpiece Collection" é uma edição limitada (R$ 499) que reúne os filmes dirigidos pelo mestre do suspense entre 1942 e 1976 (veja títulos nos detalhes). Da fase muda e inglesa do cineasta não há nenhum representante. Hitch foi para os Estados Unidos em 1939, estreando em Hollywood com "Rebecca, a Mulher Inesquecível", ganhador do Oscar de melhor filme.

A razão de o longa mais antigo da caixa ser "O Sabotador" (1942) se deve ao fato de esse trabalho marcar justamente a dobradinha do diretor com a Universal, que perdurou até o fim de sua carreira (embora tenha feito filmes para a RKO e Warner também).

O período considerado áureo de Hitchcock, nas décadas de 1950 e 1960, quando teve grande liberdade criativa, está quase todo presente, tirando apenas "Disque M para Matar" (19540 e "Ladrão de Casaca" (1956).

Também em várias listas de melhores de todos os tempos, "Janela Indiscreta" (1954) é um dos maiores sucessos do realizador e teve, como par central, James Stewart e Grace Kelly, seus atores mais recorrentes.

Ele tinha predileção pelas loiras, como Doris Day ("O Homem que Sabia Demais"), Tippi Hedren (de "Os Pássaros" e "Marnie – Confissões de uma Ladra") e Janet Leigh ("Psicose"). Mas sua despedida das telas foi com uma morena, Karen Black, que protagoniza "Trama Macabra".