Finanças fazem cidades mineiras cancelarem ou reduzirem investimento na folia

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
15/01/2017 às 08:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:25

A crise econômica e a mudança de prefeitos na maioria dos municípios de Minas farão do Carnaval deste ano uma festa mais enxuta. Em algumas cidades, como Uberlândia (Triângulo), Pouso Alegre e Passos (Sul), a programação já foi cancelada. Em várias outras, os novos gestores avaliam a situação do caixa para decidir se terão condições de pôr, literalmente, o bloco na rua. 

Na segunda maior cidade mineira, Uberlândia, o prefeito Odelmo Leão publicou um decreto instaurando estado de calamidade financeira. No texto, há um artigo que dispõe sobre a suspensão de investimentos públicos em eventos festivos ou comemorativos por 180 dias. Ou seja, não haverá uma programação oficial de Carnaval em 2017 na cidade do Triângulo Mineiro. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, a decisão foi repassada para a Associação das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos de Uberlândia (Assosamba).

Em Pouso Alegre, no Sul de Minas, também houve o cancelamento da festa por problemas financeiros. A intenção é a de que os desfiles das escolas de samba sejam retomados apenas em 2018. Mesmo assim, por meio de nota, a prefeitura garante que vai oferecer segurança aos blocos de rua independentes. Por meio de nota, a Prefeitura de Passos, no Sul de Minas, afirmou que “não há recursos e nem prazo para a licitação de serviços”.

Incerteza

Como muitos prefeitos ainda não tomaram pé de toda a herança administrativa, decisões sobre como será o Carnaval ainda não foram tomadas em várias localidades – mesmo que restem apenas 40 dias para a folia. 

Segundo a prefeita de Pirapora, no Norte de Minas, a decisão só poderá vir depois de um estudo. “Assim que finalizarmos esse levantamento poderemos definir prioridades e, talvez, realizar o Carnaval, desde que isso não prejudique áreas importantes como a saúde e a educação”, afirma Marcella Machado Ribas.

Em Nova Lima, na Grande BH, o momento também é de indecisão. “As secretarias municipais têm se reunido e estudado quais as melhores ações a serem efetivadas no sentido de não gerar custos para o município, mas que possam oferecer estrutura mínima para os foliões”, informou o município, em nota.Eugênio Moraes

OURO PRETO – Prefeitura vai negociar com patrocinadores tradicionais para manter a festa, que é uma das maiores de Minas



Licitação

De acordo com o secretário-adjunto de Estado de Turismo, Gustavo Arrais, é comum que as festas de boa parte dos municípios sejam diminuídas ou canceladas nos anos seguintes às eleições municipais. “Temos que lembrar que 75% dos municípios mineiros estão com novos prefeitos. Muitos não têm experiência e não sabem que é preciso fazer um chamamento ou licitação logo ao assumir, pois um processo licitatório demanda cerca de 45 dias. Por isso, muitos não conseguem fazer uma festa ou fazem de forma acanhada”, explica. 

Segundo ele, a grande maioria dos municípios mineiros aposta em festas pequenas, voltadas para um Carnaval mais tranquilo e familiar – algo que tem atraído os turistas nos últimos anos.

Negociação com empresários e patrocinadores é boa solução

Frente à crise financeira, vários prefeitos vão trabalhar o poder de negociação para realizar o Carnaval da melhor forma possível. Em Ouro Preto, na região Central, a intenção é manter a realização de um grande evento, mas com recursos captados junto a patrocinadores, que já foram parceiros em edições anteriores. 

“O Carnaval faz parte da alma do ouro-pretano. Um bom exemplo dessa tradição é que o bloco do Zé Pereira está celebrando 150 anos”, afirma Felipe Guerra, secretário de Turismo da cidade.

Em Camanducaia, no Sul de Minas, houve uma negociação com fornecedores para que a estrutura da festa pudesse ser mantida com um investimento menor. Ano passado, o Ministério Público recomendou o cancelamento do Carnaval na cidade, mas o promotor local reverteu a situação. O investimento na época foi, então, reduzido de R$ 236 mil para R$ 137 mil. Neste ano, a prefeitura deve aplicar R$ 120 mil na festa.

“Muitas prefeituras não estão fazendo Carnaval ou estão gastando cada vez menos. Com isso, temos uma margem de negociação muito boa com fornecedores”, afirma o prefeito Edmar Dias. Segundo ele, a cidade de 23 mil habitantes costuma receber mais de dez mil visitantes no feriadão, especialmente no distrito de Monte Verde.

Popular

Caxambu, no Sul de Minas, foi uma das cidades impedidas pela Justiça em 2016 de realizar o Carnaval. Mesmo assim, a população colocou os blocos na rua. “Foi uma festa até melhor do que os modelos que vinham sendo implantados e isso inspirou a nova administração. Por ideologia e contenção financeira, a prefeitura vai fazer uma folia popular, com marchinhas, samba e estrutura para os blocos”, diz o prefeito Diogo Couri. 

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