(Agência Brasil )
As apostas no tratamento da febre amarela com um remédio para a hepatite C devem ser reforçadas nos próximos meses. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai desenvolver um medicamento genérico para ampliar a oferta que hoje é dificultada, principalmente, pelo preço de importação da substância. No mercado, uma caixa com 28 comprimidos do Sofosbuvir custa entre R$ 60 mil e R$ 85 mil.
O valor elevado para bancar a nova terapia remete ao rombo já deixado nos cofres públicos na batalha contra a febre amarela. Em menos de dois meses, o Estado já gastou cerca de R$ 11,8 milhões no enfrentamento à doença. Para efeito de comparação, o montante equivale a 85% de tudo o que foi aplicado ao longo de 2017 para a mesma finalidade. Até o momento, 86 pessoas já morreram em Minas.
Uma das razões para o aumento dos custos na luta contra a febre amarela no território mineiro é a proliferação da doença em 2018. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), as condições climáticas e de circulação do vetor são mais intensas nessa época, o que demanda maior aporte de recursos.
Além disso, a pasta afirma que os investimentos são compatíveis com a necessidade do momento. Conforme a SES, a epidemia atual abrange áreas com grande concentração populacional, como é o caso da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Em teste
Referência no atendimento a pacientes com doenças infecciosas, o hospital Eduardo de Menezes, no Barreiro, na capital mineira, já oferece o Sofosbuvir a pessoas que contraíram a febre amarela. Apesar da eficácia ainda necessitar de comprovação científica, a expectativa de sucesso é grande.
Tanto que a Fiocruz já trabalha em cooperação com empresas do setor farmacêutico e o registro do genérico – ainda sem nome definido – junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deverá ser feito até o fim de fevereiro.
Resultado
Se, de um lado, os testes do Sofosbuvir contra a febre amarela ainda não foram concluídos, de outro, o caso de um morador de Juiz de Fora, na Zona da Mata, que foi submetido ao remédio no início deste mês, pode ser a prova de que a terapia funciona.
O empresário Wander Rocha Côrtes, de 43 anos, foi levado às pressas para o Rio de Janeiro depois de apresentar os sintomas da doença no último dia 13. Internado na Fiocruz, ele começou fazer uso do medicamento e, em menos de uma semana, foi liberado para terminar o tratamento em casa, já que não corria mais risco de morrer.
“Nós tomamos a decisão conjuntamente pois não sabíamos o que poderia acontecer naquela hora. Foi um desespero e ainda não temos a confirmação de que o remédio foi o responsável pela cura dele, mas acreditamos muito nisso”, explica Andrea Creosol, esposa do empresário.
Mais do que tratar a febre amarela, o novo medicamento é esperança também para pacientes com hepatite C. A Fiocruz estima que, em um universo de 1,6 milhão de pessoas infectadas pelo vírus, somente 30 mil recebam o Sofosbuvir.
Previsão
Os direitos de produção do Sofosbuvir são, até o momento, da empresa norte-americana Gilead. Por esse motivo, desde 2015, o Ministério da Saúde é obrigado a importar o remédio para uso no Sistema Único de Saúde (SUS).
No entanto, a Anvisa se posicionou contra a renovação da patente do medicamento para que a produção pudesse ser iniciada também pela Fiocruz. Agora, cabe ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) a decisão definitiva sobre o caso.
Em fevereiro, o Inpi indeferiu a patente em nome da Gilead que entrou com recurso. No momento, o órgão federal analisa os documentos. Se o posicionamento do Inpi for mantido, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), órgão vinculado à Fiocruz, poderá iniciar a distribuição do produto já no segundo semestre deste ano.
“Isso será possível porque, inicialmente, o medicamento será fabricado na (farmacêutica) Blanver. À medida em que a tecnologia for transferida, a produção passará a ser gradualmente compartilhada com Farmanguinhos”, afirmou, em nota, a Fiocruz. Ninguém da Gilead foi localizado até o fechamento desta edição.Editoria de Arte