(Pixabay/Divulgação)
Flores bem nutridas e, portanto, com maior durabilidade e beleza para encantar o consumidor. Mas, com um atrativo extra: sem nenhum tipo de agrotóxico. É o que a professora e pesquisadora Elka Fabiana de Almeida, do campus Montes Claros da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), está conseguindo oferecer aos produtores e ao mercado.
Doutora em fitotecnia, a agrônoma desenvolveu um método diferente do convencional para cultivar flores no Norte de Minas. O objetivo dela é substituir os defensivos químicos por adaptações no plantio, cuidados na irrigação e uso de substâncias naturais para garantir a “saúde” das flores da forma mais natural possível.
“Já percebemos que é possível cultivar as flores reduzindo os defensivos químicos e até mesmo excluindo-os por meio de produtos alternativos como extrato de café, bicarbonato de sódio e até óleos essenciais na pós-colheita de rosas, por exemplo”, revela a pesquisadora da UFMG.
Segundo a bióloga, já foram obtidos resultados com orquídeas em consórcio com ervas aromáticas, já que a presença de outras espécies aumenta a diversificação na área, ajudando, assim, a reduzir o número de pragas.
Selo
O principal objetivo do estudo é estimular os produtores, não só de Minas, como do restante do país, a obter a certificação dos produtos por meio de um selo. O certificado servirá para diferenciar flores produzidas convencionalmente das cultivadas de forma orgânica ou agroecológica.
A pesquisa vem sendo desenvolvida em Montes Claros e em Nova Porteirinha, no Norte de Minas, e em São João del-Rei, no Campo das Vertentes.
Produto valorizado pela beleza, as flores não podem apresentar defeitos na hora da comercialização. Dessa forma, os produtores precisam se empenhar para evitar que pragas e doenças prejudiquem o resultado final, recorrendo, na maioria das vezes, a grandes quantidades de agrotóxicos no cultivo, explica a pesquisadora.
Cuidado amplo
Conforme Elka, para cultivar flores de qualidade e sem agrotóxicos é necessário pensar desde a preparação do solo à escolha das mudas e ter um intenso monitoramento até a colheita.
Além de preservar o meio ambiente, pois o uso de agrotóxico contamina o solo e pode chegar ao lençol freático, as flores orgânicas podem ser utilizadas para consumo humano, em receitas, mantendo também o ecossistema equilibrado.
Elka Fabiana pontua que no método desenvolvido em Montes Claros são cultivadas plantas que fornecem alimentos e são abrigo para os inimigos naturais das pragas – chamados “insetos do bem”. Ela explica que os organismos se alimentam de pragas, que, geralmente atingem as flores, ajudando, assim, a eliminar a necessidade de agrotóxicos.
“O método para cultivar flores orgânicas é semelhante ao utilizado em produtos da horticultura. É necessário fazer o controle de pragas e doenças com produtos alternativos, como caldas preparadas na propriedade do produtor rural e utilização de boas práticas agrícolas. Além disso, é preciso utilizar mudas sadias e cuidar para que o solo seja fértil e forneça os nutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas”, explica Elka Fabiana.
Rosas e crisântemos estão entre as espécies mais sensíveis e que, portanto, necessitam de maior controle.
“O método tem proporcionado resultados bastante favoráveis, principalmente neste momento em que as flores comestíveis estão em evidência, sendo utilizadas na culinária para adornar pratos e inovar os sabores”, destaca a pesquisadora.arquivo pessoalTRABALHO COMPLETO - Cultivo sem agrotóxico inclui escolha de mudas saudáveis, preparação do solo e intenso monitoramento das espécies até a colheita
Mercado no Norte de Minas ainda é novo, mas promissor
A pesquisa conduzida na UFMG de Montes Claros identificou que o Norte de Minas tem potencial para a produção de flores e plantas ornamentais, atividade ainda pouco explorada na região. No município-sede da pesquisa, são cultivadas diversas espécies de corte, como helicônia, bastão-do-imperador, gengibre ornamental, hortênsia, copo-de-leite e rosa, entre outras.
Comercializadas principalmente de forma direta, isto é, de produtor para decorador, por exemplo, as plantas também são vendidas no Mercado Municipal de Montes Claros, no Centro da cidade. Em Janaúba, também são cultivadas suculentas e rosas-do-deserto, variedades que caíram no gosto do brasileiro, além de mudas para jardins.
Em Capitão Enéas, um grupo de mulheres iniciou a produção de flores e plantas com incentivo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG). As espécies são vendidas em feiras da cidade.
No Brasil, a cadeia produtiva das flores movimenta R$ 10 bilhões por ano, conforme o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor). A expectativa é de que a expansão do mercado de orgânicas se transforme em importante gerador de emprego e renda.
O Norte de Minas é uma região carente de incentivos quanto à produção profissional de plantas ornamentais. Espera-se que os resultados da pesquisa ajudem a fomentar o setor. Arquivo pessoal
SENSÍVEIS - Rosas e cristântemos estão entre as cultivares mais delicadas, que necessitam de maior cuidado