(Reprodução/Pixabay)
Para monitorar possíveis surtos de zoonoses decorrentes do rompimento da barragem em Brumadinho, em 25 de janeiro, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) passou a coletar mosquitos e pernilongos nas matas ao redor do local do rompimento. O objetivo é identificar a presença de vírus que causam febre amarela e também outras arboviroses como dengue, zika e chikungunya.
A medida é importante para relacionar a alteração no ambiente à tragédia da Vale em Brumadinho no caso de aumento das doenças no Estado futuramente, o que não foi possível relacionar em Mariana. No entanto, dados da Secretaria de Saúde de Minas Gerais mostram que o Estado não registrou nenhum caso de febre amarela entre os anos de 2010 e 2015. Já em 2016 e 2017, foram registrados 475 casos confirmados de febre amarela silvestre, e 162 pessoas morreram em decorrência da doença. O rompimento da barragem da Samarco em Mariana aconteceu em 5 de novembro de 2015.
Especialistas afirmam que não é possível relacionar o surto da doença entre 2016 a 2017 à tragédia de Mariana. Mas apontam para a possibilidade do aumento de doenças em decorrência da tragédia de Brumadinho.
"Há uma série de zoonoses, que são doenças que vêm da floresta para o ambiente urbano por meio de vetores animais e que podem vir a se intensificar, como a dengue e a leishmaniose. Porque os predadores naturais dos insetos que as transmitem, como peixes e sapos, estavam no ambiente natural que foi degradado, o rio Paraopeba", explica o professor Adriano Paglia, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, especialista na área de Ecologia e Biologia da Conservação.
Além disso, segundo ele, a eliminação de outros insetos competidores dos mosquitos transmissores das doenças também se torna uma agravante para o aumento de zoonoses. "Nas matas há outros mosquitos que estão competindo com os vetores das doenças pelos recursos ali. Quando existem estes competidores no ambiente, também naturalmente se controla a plorifeção do vetor da doença", observa.
Já o pesquisador Mariano Andrade da Silva, membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) da Fiocruz, está mais otimista em relação à estrutura para o atendimento de saúde em Brumadinho.
"Não temos como confirmar se a causa do aumento de febre amarela tem a ver com o rompimento da barragem em Mariana, mas a resposta do Estado no desastre ali não estava tão estruturada como está agora. Em Brumadinho, por exemplo, há 100% de cobertura de atendimento de saúde à família, há um SUS muito bem estruturado. Então caso venha a ocorrer algum evento epidemiológico, o município vai conseguir responder em tempo hábil", detalha.
Doenças crônicas
Mais do que o risco de aumento de zoonoses, há a tendência do surgimento de doenças crônicas nas pessoas que foram afetadas pelo rompimento da barragem, expõe o professor do departamento de Medicina Preventiva e Social da faculdade de Medicina da UFMG, Apolo Heringer, membro do Projeto Manuelzão e especialista em Pneumologia Sanitária e Epidemiologia.
"O risco é o aumento de doenças crônicas degenerativas agravadas pelo estresse que a tragédia causou. As pessoas não dormem, ficam se lembrando dos familiares que perderam, estão convivendo com o barulho dos helicópteros dia e noite, há trabalhadores terceirizados que ficaram desempregados, donos de propriedades na região terão seus imóveis desvalorizados, há a preocupação, o medo, a ansiedade. Tudo isso adoece as pessoas", comenta.
Monitoramento
A Funed informou que, entre os dias 11 e 15 deste mês, foi realizado um inquérito entomológico por meio da captura dos Culicídeos – família de insetos habitualmente chamados de muriçoca, mosquito ou pernilongo – na área de mata no entorno do rompimento da barragem em Brumadinho pelo Núcleo de Entomologia do LACEN/MG – Funed.
"Esta ação resultará na identificação das espécies de vetores circulantes naquela área com posterior análise molecular, visando identificar a presença de vírus que causam febre amarela e também outras arboviroses como dengue, zika e chikungunya, no município de Brumadinho/MG. O objetivo é entender o ecossistema do local e monitorar possíveis alterações no ambiente", disse o órgão.
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