A vitória apertada nas eleições não é obstáculo para que o vencedor faça bom governo, como mostra nossa história. Em 1982, Tancredo Neves, candidato de oposição ao governo estadual e federal, ganhou de Eliseu Resende, o candidato oficial, por 243 mil votos. Na Venezuela, o candidato da situação, Nicolás Maduro, venceu o oposicionista Henrique Capriles com diferença de 235 mil votos.
Mas as duas situações diferem. A diferença mais importante é que, em Minas, o candidato de oposição, vitorioso, podia contar com o apoio de um movimento que se fortalecia desde 1979 entre os eleitores e que o conduziria, em janeiro de 1985, a vencer a eleição indireta para presidente da República. Era crescente em todo o país o desejo de mudanças. Na Venezuela, o candidato da situação é que vai enfrentar, no governo, eleitores divididos, meio a meio, entre os que querem a continuidade do chavismo, no poder há 14 anos, e os que desejam mudanças.
Surfando nessa onda, Capriles se apressou em declarar que só reconhece a vitória de Maduro depois que forem recontados todos os votos. Assim, demonstrou não confiar no Conselho Nacional Eleitoral.
Os governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha e a União Europeia declararam apoio à recontagem, enquanto países que apoiaram fortemente Hugo Chávez, como Argentina, China, Cuba e Rússia, enviavam felicitações ao candidato vitorioso, antecipando-se à decisão sobre a recontagem. À tarde, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, disse que o resultado da eleição é irreversível.
A Casa Branca afirmou, porém, que a recontagem “parece ser um passo importante, prudente e necessário para assegurar que todos os venezuelanos tenham confiança nestes resultados”. Mesma posição do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza.
Essas reações só apressam a posse de Maduro. Mas a polêmica não acaba tão logo, pois a oposição vai tentar colar no governo do sucessor de Hugo Chávez a pecha da ilegitimidade. A acusação de fraude na eleição de George W. Bush somente se amenizou em 2001, devido ao atentado terrorista de 11 de Setembro.
O certo é que Capriles e a oposição ao chavismo saíram das urnas mais fortes. Isso pode levar o governo a intensificar a busca por soluções para seus problemas. Oposição aguerrida dificulta o aumento da corrupção no governo, uma questão vital numa Venezuela governada há muito tempo por um único grupo político.