Gary Allan lança novo álbum 'Set You Free'

Agencia Estado
29/01/2013 às 11:54.
Atualizado em 21/11/2021 às 21:22

Lirismo de macho ferido é commodity em Nashville. Toque qualquer disco de country contemporâneo, e certamente ouvirás um caubói solitário, garrafa de uísque em mãos, a lamentar a perda de sua amada. A receita é tão rentável quanto imitada, e serve de base para dezenas de carreiras, a maioria das quais não convence, pois sensibilidade calejada, no fim das contas, não se adquire no estúdio. Acaba por ser confundida com romantismo meloso.

Quando funciona, no entanto, ouvimos confissões e dramas de consciência vestidos por belos refrões que dão brilho pop ao pop country com densidade emocional, por mais absurda que seja a noção para quem acompanha a atual versão brasileira do gênero. Entre o punhado de caubóis com viés autoral em atividade, encontra-se Gary Allan, estrela há quase duas décadas, que acaba de lançar o nono disco, "Set You Free", pela MCA Nashville. Allan trilha entre o mainstream contemporâneo e os lamentos do country tradicional, mas sua música flerta cada vez mais com rock e pop.

É conhecido por escolher especificamente letras doloridas, que interpreta, nos discos, com um tenor estoico, sem excessos, embora o novo trabalho tenha amenizado suas dores. Um dos destaques é "Ain’t The Whiskey", que retrata uma reunião de alcoólatras anônimos em uma igreja. No refrão, o narrador levanta-se de sua cadeira e diz: "Não é o uísque, não são os cigarros, não é aquilo que eu fumo, são as minhas memórias". Em "Tough Goodbye", a faixa de abertura, o cantor reflete sobre uma longa noite, e confessa que a memória de sua amante deve ter atravessado, no mínimo, dez divisas estaduais.

São frases que remodelam a boa e velha dor de cotovelo, mas também cutucam feridas de uma alma agoniada. Tais letras são uma constante na obra de Allan, e, nos últimos anos, tornaram-se ainda mais escuras ao espelhar uma tragédia em sua vida pessoal.

Em 2004, sua terceira mulher se matou com um tiro de revólver enquanto o cantor buscava para ela um refrigerante na cozinha. Allan ficou parado por um ano. A tragédia ameaçou forçá-lo a se aposentar, mas o cantor voltou no ano seguinte com um sombrio e tristonho disco, "Tough All Over". Um dos destaques, "Best I Ever Had", é uma canção da banda Vertical Horizon. No verso, Allan indaga, "Então você partiu em meio a uma manhã cinzenta. Agora estou aqui, entediado. Era isso que você queria?", se apossando da canção. Se sua carreira segue a velha máxima de que o artista cria para se libertar da dor, isto acontecia antes mesmo do incidente.

"See If I Care", seu belíssimo álbum de 2003, a faixa título observa uma ex-namorada trocando carícias com um novo homem: "Passe os dedos pelo cabelo dele. Deite ao seu lado. Envolva-o em sua entrega sombria, e suas tenras mentiras", canta Gary, até a punhalada do refrão: "Veja se eu ligo". Em outros relatos do disco, Gary descobre que sua amada tem um novo sobrenome, e é perseguido por um rádio que só toca canções que o lembram dela.

Embora tenha canções no mesmo nível, "Set You Free", o novo álbum, não tem a consistência de "See If I Care". A segunda metade do álbum tende a afrouxar a precisão do primeiro grupo de faixas. Isto talvez seja porque, em uma época de singles e iTunes, Allan ainda está determinado a fazer um disco completo, mesmo que isso signifique adicionar canções mornas à mistura. Isto inclui flertes com o reggae, em "No Worries", e com o soul, em "Hungover Heart". Allan injeta um pouco de adrenalina em "Set You Free" com "No Bones", e um pouco de esperança em "Every Storm" (Runs Out of Rain). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

GARY ALLAN
Set You Free
US$ 9,99 (iTunes)
http://www.estadao.com.br

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