Georgino de Souza Neto: - Prefeito realmente segue na contramão do que o povo precisa

Jornal O Norte
12/02/2007 às 09:55.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:57

Entrevista concedida a Eduardo Brasil


Fotos: Wilson Medeiros

Ex-secretário de Esportes, Georgino de Souza Neto – Gino – fala com exclusividade a O Norte sobre a sua saída da administração de Athos Avelino, do impacto que a reforma administrativa (que eliminou o seu partido, o PCdoB, do cerne do governo que apóia), medida que pode abalar o relacionamento do partido com o executivo municipal, e confirma recursos para a construção do Mocão. Gino também revela frustração pelo fato de a política ter atrapalhado sua gestão de dois anos à frente do segmento esportivo da cidade.

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· O que o levou a pedir demissão?

Diversos fatores contribuíram para que eu pedisse demissão. O fato de a secretaria de Esportes e Lazer perder a sua identidade, passando a ser uma secretaria adjunta, subordinada à de Educação, talvez tenha sido o principal deles. Só isso determinaria a minha saída, independentemente de outros motivos, ainda que as questões de caráter pessoal tenham influenciado na minha decisão. Não foi, porém, uma decisão unilateral, só minha, uma vez que a administração municipal também entendia que era o momento de minha saída.

· Você lamenta interromper um trabalho ao deixar a pasta de Esportes e Lazer?

Vejo a minha saída num momento em que eu poderia dar maior contribuição ao setor de esportes e lazer de Montes Claros, com a realização de vários projetos que ainda colocaríamos em ação. Por isso, lamento, sim. Mas não tive outra opção.

· Você era um técnico na condução da pasta de Esportes. A política atrapalhou sua gestão?

De fato me desgastei ocupando a secretaria de Esportes e Lazer nos últimos dois anos por conta da política. O envolvimento com a política é algo que não se consegue evitar, por mais que se tente. E esse envolvimento me desgastou, não nego. Mas, ocupando o cargo exclusivamente como um técnico da área, eu penso que realizamos um trabalho que trouxe avanços significativos ao segmento. É verdade que tivemos os entraves burocráticos, a questão de a administração municipal ainda não estar engrenada no sentido de corresponder às nossas demandas, a questão da política. Todos esses elementos atrapalharam na consecução de vários projetos.

· O que pensa das novas medidas contidas na reforma administrativa?

Sinceramente, torço para que sejam vitoriosas. Torço para que a reforma dê certo. Mas, em relação à extinção da secretaria de Esportes e Lazer, já deixei isso público e continuo pensando ser um erro. Ela deveria ser mantida, independentemente de seu condutor, ainda que não fosse eu, já que Montes Claros precisa de uma secretaria específica para o setor de esportes e lazer.

· Lipa Xavier, colega de partido, quer discutir a extinção da pasta com o prefeito Athos Avelino. Não uma discussão de temas fisiológicos, mas a respeito de uma medida que, segundo ele, coloca a administração municipal, da qual o PCdoB é aliado, na contramão da política nacional de incentivo ao esporte e lazer preconizada pelo governo Lula.

Lipa colocou muito bem essa questão, porque não se trata de discutir cargos do partido na administração municipal. Trata-se de manter nessa administração municipal uma política de incentivo ao esporte e lazer que o município tem buscado e até avançado nesse aspecto. Com a extinção da pasta, o prefeito realmente segue contrariando o que o povo quer e precisa em relação a esporte e lazer. Portanto, a extinção é um ato antidemocrático. Quer dizer, ao longo dos últimos dois anos construímos, com as conferências municipal, estadual e nacional, em conjunto com o ministério do Esporte toda uma expectativa em relação aos avanços no setor de esporte e lazer, listando nossas principais demandas. Montes Claros, através de nosso trabalho na secretaria, foi o município mineiro que mais demonstrou interesse em promover as ações previstas pelo governo federal, levando à convenção estadual a maior delegação do evento, composta por 18 delegados, e à Brasília a maior delegação entre todos os estados que enviaram representantes, de sete delegados. Ou seja, toda essa discussão, todo o caminho que já foi percorrido buscando consolidar essa política de incentivo ao esporte e lazer sofre um impacto em Montes Claros com a extinção da secretaria. É uma medida que de fato contraria tudo que estava sendo feito e que segue na contramão. O próprio governo Aécio Neves acaba de separar a Sedese, que é a secretaria de Desenvolvimento Social e Esportes, criando a pasta de Esportes e Juventude, exatamente colocando em prática mais uma das ações definidas nas conferências.

· Você deixou a secretaria sem que pudesse iniciar, ou reiniciar, as obras do Mocão, serviços para os quais conseguiu recursos federais, além dos que os cofres municipais já defendiam desde a administração de Jairo Ataíde. Por que esse dinheiro não foi aplicado?

Ressalto que na oportunidade em que solicitamos a verba ao ministério do Esporte, também conseguimos do governo federal 600 mil reais para o Programa Segundo Tempo, que hoje conta com vinte núcleos funcionando em Montes Claros, com esses recursos federais. Bem, quanto ao Mocão, a não aplicação dos recursos, eu acredito se deve à complexidade que cerca a sua construção. Sabemos que o projeto do estádio municipal de futebol sofreu diversas alterações ao longo dos anos, desde que foi concebida a sua planta original, até que chegássemos ao projeto atual, mais modesto em relação ao primeiro. Isso demandou a uma série de procedimentos burocráticos, de adequação, que envolve questões de engenharia, Caixa Econômica Federal... Enfim, há todo um processo que retarda o reinício das obras.

· A prefeitura pretende inaugurar o estádio ainda neste ano, em julho, nas comemorações dos 150 anos da cidade. Tem tempo para construí-lo?

Só mesmo o tempo poderá responder. Mas, a verdade é que a administração tem de terminar a obra. O custo que ela teria para concluir o trabalho é o mesmo para devolver os recursos ao governo federal. Portanto, ou ela gasta mais um milhão de reais para ficar com um buraco, porque o Mocão hoje não passa de um imenso buraco, ou gasta um milhão para concluir o estádio. Sim, porque, se o município não faz as obras, terá que devolver o dinheiro ao governo federal, incluindo o dinheiro das obras feitas desde que o projeto foi lançado. Então, entendo que, por uma questão óbvia, as obras têm de ser feitas. Agora, não sei, realmente, se até julho será possível conclui-las, considerando que o seu início está previsto para o mês que vem.

· Com a sua saída, o seu partido, o PCdoB, perde o único espaço que defendia na administração municipal. Como a legenda, que foi aliada de primeira hora do atual executivo na campanha de 2004 está resistindo à ameaça da marginalidade?

O partido ainda está analisando a questão. Repito, não pela ótica fisiológica, mas com base nos seus princípios, nos seus programas, sobretudo na sua estreita relação com as políticas públicas voltadas para o esporte e para o lazer da população de Montes Claros. Na verdade, a minha saída passa ao largo das questões políticas, mas o episódio não deixa de estremecer, de abalar um pouco a relação do partido com a administração municipal. Mas, tudo está indefinido. A executiva do PCdoB vai se reunir com o prefeito para debater o assunto, uma reunião que não deve tardar, até porque não se sustenta uma situação como essa por muito tempo. O PCdoB, a principio, entende, lógico, que perdeu espaço na administração pública com a reforma administrativa. Mas isso pode ser reconstruído. Ou não.

· Você chegou a ser convidado para permanecer na administração municipal, até mesmo exercendo a função de secretário-adjunto de Esportes e Lazer?

Não. Minha continuidade no governo não foi aventada.

· Alguma mágoa, frustração?

Não tenho mágoa, apesar de ter sido obrigado a engolir determinadas situações que a política impôs. Agora, quanto à frustração, há um sentimento de que poderíamos ter feito mais pelo esporte e lazer do povo de Montes Claros. Mas tivemos os entraves, as torcidas que jogaram contra, um ambiente desfavorável para implantarmos nossos projetos. Parte de nosso projeto foi executada. A frustração fica por conta daquilo que ainda iríamos realizar pelo segmento nos próximos anos.

· Você é um professor universitário de Educação Física, um técnico no setor esportivo e que nos últimos dois anos conviveu com o mundo político. Essa convivência, apesar do desgaste que você aponta, ainda assim, o incentiva a ingressar definitivamente na política? Ou seja, em uma só palavra - sim ou não -, você pensa em ser candidato a vereador, em 2008?

Posso responder com mais uma palavra?

· Vamos lá...

Hoje, não.

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