preconceito

Crianças em tratamento oncológico passam por constrangimento em restaurante de shopping de BH

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
03/04/2022 às 16:18.
Atualizado em 04/04/2022 às 11:13
Algumas das crianças e adolescentes entre 4 e 15 anos nunca tinham entrado num shopping (Renata Medeiros/Divulgação)

Algumas das crianças e adolescentes entre 4 e 15 anos nunca tinham entrado num shopping (Renata Medeiros/Divulgação)

Crianças que são pacientes oncológicos e familiares teriam passado, na tarde de quarta-feira (30), por constrangimento após entrarem em uma loja de fast food no Shopping Boulevard, localizado na região Leste de Belo Horizonte.

Boa parte das crianças reside no interior e é atendida em hospitais públicos da capital mineira. Elas participariam, no espaço interno da loja Burger King, de uma comemoração de aniversário de Renata Medeiros, fundadora do projeto social "Amor que Cura".

"Queria dividir esse dia com elas já que muitas nunca tinham ido a um shopping ou comido um sanduíche (em fast food). Era para ser um momento mágico, mas a gerente parecia estar com um problema (de ordem pessoal), pois estava muito irritada e descontou tudo na gente", relata Renata.

A primeira atitude de maus tratos ocorreu logo após as crianças, que estavam acompanhadas das mães, juntarem as mesas do espaço. "Estava na fila para fazer os pedidos quando vi uma funcionária conversando com as mães. De forma bem grossa, ela disse que não poderíamos ter feito aquilo, que não era a casa delas e que deviam ter perguntado antes", registra.

Renata pediu, então, desculpas à gerente do Burger King, dizendo que não fizeram por mal e que iriam voltar as mesas para o seu lugar anterior.  "Ela não aceitou o meu pedido de perdão e falou para não mudarmos as mesas de lugar. Então, voltei para a fila, peguei os sanduíches e os refrigerantes".

A gerente reapareceu e teria feito um alerta de forma grosseira de que os refrigerantes só seriam liberados para consumo "free" (reposição livre) por 30 minutos. "Do contrário, acabaríamos com o refrigerante da máquina. Aí expliquei que não era a minha primeira vez no shopping e que sabia das regras. Falei para ela que o aviso era desnecessário, porque bastava olhar para as carinhas das crianças para ver que estavam em tratamento oncológico e que mal conseguiriam tomar um copo todo".

Segundo a fundadora do "Amor que Cura", a tristeza de mães e filhos era nítida. "Foi uma situação muito chata. Elas foram tratadas igual bichos. Perguntei se queriam comer em outro lugar, mas elas falaram que aquele era o meu dia e que eu já tinha pago (pela alimentação)", lembra.

Uma amiga chegou, em seguida, com um bolo de aniversário para cantar parabéns, mas Renata achou melhor perguntar à gerente e pedir autorização.

"Ela veio com um balde e um rodo e ficou de costas para mim. Mesmo eu falando com ela com educação, não me respondia. Então peguei o celular e disse que ligaria para a policia e chamaria algum repórter de TV para mostrar que estávamos sendo maltratados sem motivo nenhum. Aí ela se virou e foi muito sarcástica, dizendo que eu poderia fazer o que quisesse".

O passeio pelo shopping continuou numa loja de brinquedos, no andar de baixo, onde não houve nenhum problema com os atendentes. A situação, porém, não ficou bem para Renata.

"Na hora, sou meio devagar, precisando de tempo para digerir. No dia seguinte, resolvi que aquilo não poderia passar batido, não porque fomos ofendidos, mas também porque aquela gerente estava pedindo socorro, com algum problema que ninguém estava enxergando. Tratar crianças daquele jeito não é normal". avaliou.

Ela explica que não quer "cancelar" o Boulevard ou o restaurante, mas chamar a atenção para o fato "de que os funcionários precisaram ter um treinamento para que possam respeitar as diferenças, que a pessoa humilde tem os seus direitos e pode entrar no local para comer", conclui.

À reportagem, a assessoria de comunicação do restaurante enviou nota explicando que "o Burger King está apurando o caso mencionado para as devidas tratativas. O BK reforça que está sempre em busca de oferecer as melhores experiências aos consumidores e que, em seus restaurantes, todos são bem-vindos”.

O Boulevard também se manifestou em nota, informando que "repudia qualquer atitude discriminatória" e que "a abordagem relatada não condiz com a postura adotada pelo shopping, onde todos são bem-vindos". E observa que " a orientação do empreendimento é de que o cliente tenha aqui o sua melhor experiência e, por isso, a administração contato com a cliente para ouvi-la, imediatamente ao ser comunicada, acompanhando o caso de perto".

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