Relatório da FAO propõe contabilizar gastos para orientar políticas
Países de baixo rendimento são proporcionalmente os mais atingidos pelos custos ocultos (Ricardo Bastos)
Análise realizada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), integrada por 154 países, concluiu que os atuais sistemas agroalimentares impõem enormes custos ocultos à saúde da população, ao ambiente e à sociedade. Segundo a FAO, o custo equivale a pelo menos US$ 10 bilhões por ano, quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) global.
A nova edição do relatório O Estado da Alimentação e da Agricultura 2023 mostra que os maiores custos ocultos, mais de 70%, são impulsionados por dietas pouco saudáveis, ricas em alimentos ultraprocessados, gorduras e açúcares, o que leva à obesidade e a doenças crônicas. A situação provoca ainda perdas de produtividade no trabalho, que são particularmente elevadas nos países de rendimento alto e médio alto.
Cerca de 20%, ou seja, um quinto dos custos totais, estão relacionados ao ambiente, incluindo as emissões de gases do efeito estufa, alteração do uso do solo e utilização da água. Segundo a FAO, este é um problema que afeta todos os países, e a escala pode estar subestimada devido à limitação de dados.
De acordo com o relatório, é preciso travar a degradação florestal para inverter os fatores de alterações climáticas, a perda de biodiversidade, a degradação dos solos e a desertificação, que são ameaças à saúde humana.
Os países de baixo rendimento são proporcionalmente os mais atingidos pelos custos ocultos dos sistemas agroalimentares, que equivalem a mais de um quarto do seu PIB. Nos países de rendimento médio, tais custos representam menos de 12% e são interiores a 8% nos de rendimento elevado.
“Perante os crescentes desafios globais: disponibilidade de alimentos, acessibilidade aos alimentos e crise climática; perda de biodiversidade; desacelerações e recessões econômicas; agravamento da pobreza; e outras crises sobrepostas, o futuro dos nossos sistemas agroalimentares depende da nossa vontade de valorizar todos os produtores de alimentos, grandes ou pequenos, de reconhecer estes verdadeiros custos e de compreender como todos contribuímos para eles e que ações precisamos de tomar”, disse, em nota, o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu.
O documento defende uma análise regular e detalhada dos governos e do setor privado sobre os custos desses sistemas, além de ações para diminuir os danos relacionados. Segundo a análise, os governos podem utilizar mecanismos como impostos, subsídios, legislação e regulamentação para ajustar tais sistemas e ter melhores resultados.
“Espero que este relatório sirva como um apelo à ação para todos os parceiros – desde os decisores políticos e do setor privado até os investigadores e consumidores – e inspire um compromisso coletivo para transformar os nossos sistemas agroalimentares para a melhoria de todos”, acrescentou Qu Dongyu.