Violência

Desde 2002, Brasil já registrou 23 ataques a escolas, com 45 mortos, revela Instituto Sou da Paz

Agência Brasil
Publicado em 22/05/2023 às 17:54.

O primeiro ataque a escolas de que se tem notícia no Brasil ocorreu 21 anos atrás e, desde então, foram registrados outros 23 casos parecidos. Esse tipo de violência deixou 137 vítimas e 45 mortos. Os dados foram apurados pelo Instituto Sou da Paz, em mapeamento inédito divulgado nesta segunda-feira (22).

O levantamento evidencia o maior potencial destrutivo de armas de fogo, que se tornaram mais acessíveis com a flexibilização de regras promovida em 2019. Revólveres e pistolas foram usados em 11 dos ataques e causaram três vezes mais mortes do que armas brancas, como facas, que apareceram em 10 ocorrências. As armas de fogo foram responsáveis pela morte de 34 pessoas (76%) nos ataques a escolas, enquanto as brancas deixaram 11 mortos (24%).

Segundo os dados, a arma mais empregada foi o revólver .38, apontada pelo instituto como a mais vendida no mercado brasileiro, há décadas e, até hoje, largamente usada por empresas de segurança privada. De acordo com a entidade, o revólver apareceu em 53% dos ataques. Outras armas de fogo utilizadas foram pistola .40 (20%), revólver .32 (13%), garrucha .38 (7%) e garrucha .22 (7%). A garrucha se assemelha ao revólver e à pistola, também tendo como característica o cano curto.

Ao todo, 80% das armas se enquadram nas categorias que, até maio de 2019, eram de uso permitido para civis. Das três pistolas de calibre .40, que antes de 2019 eram de uso restrito, duas eram de propriedade de parentes que trabalhavam nas forças de segurança e uma delas era registrada por uma pessoa com certificado de Colecionador, Atirador e Caçador (CAC).

Em pelo menos dois dos ataques envolvendo armas de fogo, há relatos de que o pai do agressor o havia ensinado a atirar, mesmo ele sendo menor de idade, segundo o Sou da Paz.

Em seis de cada 10 casos, os autores dos crimes já tinham à mão as armas de fogo usadas nos ataques, já que pertenciam a familiares que residiam na mesma casa deles. Em 40% das ocorrências, as armas pertenciam a um agente de segurança e, em 20%, foram roubadas do proprietário e revendidas ou vendidas diretamente por ele.

Em relação ao período dos ataques, o mapeamento do instituto mostra um aumento das ocorrências a partir de 2019. Entre 2002 e 2019, foram registrados sete atentados e, nos últimos quatro anos, de 2019 até agora, o número mais do que dobrou, passando para 17. Somente nos primeiros quatro meses deste ano, foram seis ataques, mesmo número registrado em todo o ano passado.

Gênero
Outra revelação do levantamento diz respeito à identidade de gênero dos autores dos ataques. Todos os atos tiveram como responsáveis homens ou meninos, o que sugere, para diretora executiva do Sou da Paz, Carolina Ricardo, a necessidade de mobilização para desassociar a noção de masculinidade da de imposição e demonstração de força.

"A gente sabe que, claro, a arma, sozinha, não é um grande motivador, mas é um catalisador e, em alguns casos, a gente identificou também que o agressor buscou, tentou adquirir a arma. Nesse caso dos ataques, ela é muito mais letal, gera muito mais mortes, é um artefato de interesse dos agressores, porque, justamente, aumenta o potencial letal e torna esses agressores mais poderosos, se é que assim dá pra se dizer", disse.

Ela afirmou ainda que a arma, na mão de um civil, "muito mais do que garantir uma legítima defesa, acaba sendo usada para fins equivocados, errados".

Ainda sobre o perfil dos autores dos atentados, 88% foram cometidos por apenas uma pessoa, com média de 16 anos e que era aluno ou ex-aluno da escola alvo do ataque.

Além disso, ao durante os atentados, os agressores usaram como alvos as pessoas com quem tinham algum vínculo, como alunos (59%).

Recomendações
Como sugestões para se enfrentar a gravidade e a complexidade de fatores que permeiam os atentados a escolas, o Instituto Sou da Paz sugere:

  • Corresponsabilizar plataformas digitais
  • Criar equipes policiais treinadas em monitoramento de redes sociais com capacidade de realização de análise de risco, para triagem e atuação preventiva
  • Fortalecer a ronda escolar, e os vínculos entre a direção da escola e batalhões locais
  • Treinar e estabelecer um protocolo de ação para que policiais militares possam responder a estes eventos de modo a eliminar a ameaça mais rapidamente possível, preparar socorro e evacuação das vítimas
  • Estabelecer programas específicos para a saúde mental dos estudantes e de mediação e justiça restaurativa nas escolas para lidar com conflitos e bullying, que devem ser conduzidos por profissionais dedicados a esta atividade, sem sobrecarregar professores com mais estas atribuições
  • Treinar professores e funcionários para conseguirem identificar comportamentos que precisam despertar ações da comunidade escolar
  • Criar ações para instruir as pessoas a evitarem repassar boatos e mensagens sem procedência identificada, para evitar pânico
  • Endurecer o controle e fiscalização da compra de armas de fogo e munições para restringir o acesso a instrumentos mais letais por parte dos agressores
  • Rever facilitações dadas para permissão de adolescentes (a partir de 14 anos) a clubes de tiro, ainda que acompanhados de um responsável

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