(Lucas Prates/Hoje em Dia)
“A gente não pode tratar essa pandemia desse jeito, com desdém. É um vírus novo, a gente não sabe como vai se comportar as novas variantes”. O alerta é do infectologista, professor da Universidade Federal de Minas e ex-integrante do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 em Belo Horizonte, Unaí Tupinambás.
O médico afirmou que a decisão do Ministério da Saúde de declarar o fim da emergência de saúde pública relacionada à doença no Brasil, anunciada na noite desse domingo (17), foi temerária.
“Eu acho que é precipitada essa medida do Ministério da Saúde. Mas, vindo desse governo que negou a vacina, negou a pandemia e tratou ela como uma gripezinha mesmo com recordes de morte, não podia ser diferente”, afirmou Unaí.
De acordo com o médico, a pandemia não pode ser encerrada com um decreto. E os cuidados contra o vírus devem ser mantidos, principalmente, o uso de máscaras em locais fechados. “Nós temos que manter os cuidados (...) ampliar a vacinação na faixa etária de 5 a 11 anos de idade, a terceira dose e a quarta, quando for indicado”, afirmou Unaí.
O infectologista declarou ainda que com a retirada do status de emergências de saúde pública o Governo Federal dá um “sinal” para a população de que “a pandemia acabou”.
Ele lembrou que o Comitê de Emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou na última quarta-feira (13) que a pandemia continua, que a doença ainda é um grande risco à saúde pública e insistiu que os países não devem baixar a guarda.
“A Covid não acabou”
Na manhã desta segunda-feira (18), o ministro da saúde Marcelo Queiroga, explicou que existem fatos para embasar a decisão, mas que não significa um relaxamento das medidas sanitárias.
Em coletiva à imprensa, ele elencou três motivos para decisão: queda expressiva dos casos e dos óbitos nos últimos 15 dias, ampla cobertura vacinal da população (cerca de 77% da população brasileira está com esquema vacinal completo) e capacidade de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Queiroga ainda esclareceu que nenhuma política pública de saúde será interrompida. Ele também ressaltou que é responsabilidade da Organização Mundial da Saúde decretar o fim da pandemia.
"Felizmente parece que o vírus tem perdido a força, a letalidade, e, a cada dia, nós vislumbramos um período pós-pandêmico mais próximo de todo mundo", disse.
Mas o que muda a partir de agora?
O fim da emergência muda a maneira como as autoridades lidam com o vírus, já que diversas regras estabelecidas pelo Ministério da Saúde levam em consideração a Espin.
A medida, assinada pelo ministro à época, Luiz Henrique Mandetta, leva em consideração o planejamento, organização e controle de medidas empregadas durante o combate à doença, o financiamento de programas emergenciais, a forma como são divulgadas as informações, além de decisões previstas em quarentena e lockdown, e a requisição de bens e serviços.
Durante o estado de emergência, por exemplo, o governo pôde realizar a compra de insumos sem licitação, determinar o uso obrigatório de máscaras, assim como a contratar temporariamente novos médicos e profissionais de saúde.
Foi dessa forma que as vacinas contra a doença foram aprovadas emergencialmente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e adquiridas pelo governo federal.
Os efeitos da decisão, no entanto, apenas serão vistos após a publicação de um ato normativo, que vai explicar quais serão as medidas adotadas após o fim do estado.