A Gol pagará indenização de R$ 4 milhões por danos ambientais, materiais e imateriais ao povo Mebengokre Kayapó, da Terra Indígena Capoto/Jarina, em Peixoto de Azevedo, a 629 quilômetros de Cuiabá, por causa da queda de um Boeing da companhia, em setembro de 2006, que deixou 154 mortos. Segundo as crenças e tradições do povo Kayapó, a área tornou-se uma "casa dos espíritos" após a tragédia.
O acordo foi fechado em 28 de outubro, intermediado pelo Ministério Público Federal, e veio a público ontem. O avião da Gol fazia a linha do voo 1907, entre Manaus e Rio, e caiu após se chocar com um jato Legacy que seguia para os Estados Unidos, com sete pessoas a bordo. Os pilotos e ocupantes do Legacy conseguiram pousar, sem sofrer maiores danos. Passageiros e tripulação da Gol morreram na queda do Boeing.
Após a tragédia, a área afetada pelo acidente tornou-se "imprópria para o uso da comunidade, por razões de ordem religiosa e cultural". Segundo as crenças e tradições do povo Kayapó, passou a existir ali uma "casa dos espíritos". "Naquele lugar nós não vamos caçar, não vamos fazer roça, não vamos pescar. Nós respeitamos os espíritos que moram lá", explicou o cacique Bedjai Txucarramãe.
A Gol definiu que cabia aos índios discutirem a indenização pela terra perdida. "Para a sociedade branca ainda é difícil entender a vida religiosa e espiritual dos povos indígenas. A conclusão da empresa, após diversas reuniões, é que somente a própria etnia Kayapó poderia valorar os danos passados e futuros sofridos.
Entenda-se esse acordo como gesto de respeito para com a comunidade e a cultura do povo Kayapó, pelo qual a empresa, com absoluta boa-fé, busca realizar a reparação integral dos danos decorrentes do acidente aéreo", ressaltou um representante da Gol.
Uso dos recursos
A proposta de indenização aceita pelos índios também recebeu aval do diretor de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Fundação Nacional do Índio (Funai), Artur Nobre Mendes, durante a reunião do dia 28. O uso dos recursos será gerido pelo Instituto Raoni, que também deverá prestar contas à Procuradoria da República em Barra do Garças, comprovando que a quantia resultou em melhorias ou benefícios para o povo Mebengokre Kayapó.
O procurador da República Wilson Rocha Fernandes Assis, que atuou na intermediação da negociação, ressaltou no site oficial do MPF o protagonismo da comunidade indígena na celebração do acordo. Segundo ele, caberá ao MPF a elaboração de um laudo antropológico para esclarecer quais lideranças vão formalizar o acordo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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