(SONY/DIVULGAÇÃO)
Por ser um terror infantojuvenil, “Goosebumps: Monstros e Arrepios”, com estreia nesta quinta (22), já merece um olhar mais atento. Após a década de 80, quando era mito comum a mescla de gêneros (por exemplo, ficções científicas voltadas para essa faixa etária, como “Viagem ao Mundo dos Sonhos”, “Caravana da Coragem” e “O Milagre que Veio do Espaço”), esse flerte se tornou mais raro no cinema, só retomado recentemente em animações digitais – entre elas “A Casa Monstro” e “Paranorman”.
Os elementos do terror estão lá, garantindo sustos que podem ser inócuos para os adultos, mas que devem funcionar com a garotada. O roteiro parte de um conflito que já rendeu boas histórias, em que o protagonista é um garoto chateado por ter mudado de cidade (“Divertidamente” tem isso) e acaba conhecendo uma vizinha estranha, que só fica dentro de casa, devido ao pai austero (lembra um pouco a menina de “O Pequeno Príncipe”, em sua sede de desvendar o mundo).
“Goosebumps” atrai o espectador mirim por esse sentimento de inadequação, principalmente em relação à família. Zach se fechou para o mundo depois da morte do pai. E Hannah não tem mãe, o que, aparentemente, justifica tanta proteção do pai vivido por Jack Black. Que participarão juntos de uma grande aventura, o subtítulo não deixa dúvidas sobre isso. O interessante é que essa jornada, no fundo, apontará para um entendimento entre pais e filhos.
Essa preocupação pedagógica surpreende, especialmente num gênero em que os efeitos especiais e a maturidade forçada são acentuados. O que nos leva a outro aspecto interessante no filme do diretor Rob Letterman (do desenho “Monstros vs. Alienígenas”): a tecnologia pode estar presente na criação de monstros, mas o que a trama chama a atenção é para o prazer da leitura. O pai de Hannah é um escritor famoso, R. L. Stine, inspirado num personagem real.
O Stine de verdade é autor de centenas de séries juvenis de sucesso - “Goosebumps” é o título de uma delas e foi, na década de 90, o que “Harry Potter” representou nos anos seguintes. Para quem conhece o universo do escritor, será um prato cheio, tomando contato com vários de seus personagens, especialmente os vilões, que saem dos livros para vingar o tempo de reclusão na estante. E para quem não conhece, é um convite e tanto para começar a entrar nesse universo.
Há muitas referências à trajetória de Stine, como quando é comparado a Stephen King, outra sumidade literária no terror. E no instante em que é mostrada uma velha máquina de datilografar, a mesma que ele (o Stine verdadeiro) usava quando começou a escrever, aos nove anos. O próprio aparece no filme, numa cena rápida, atravessando o corredor da escola onde acontece o confronto com os monstros, que, ao final, passa a simbolizar o enfrentamento contra nossos próprios demônios.