É de grande interesse o caso do norte-americano Edward Snowden, que trabalhou durante quatro anos na Agência Nacional de Segurança (NSA) e vazou para o jornal britânico “The Guardian” informações que o governo dos Estados Unidos gostaria que permanecessem secretas. Agora, o público sabe que agências de segurança e espionagem norte-americanas tornaram realidade a ficção imaginada por George Orwell, em 1949, no livro “1984”.
Snowden revelou um esquema de monitoramento das mensagens eletrônicas do mundo inteiro, montado há seis anos pelos EUA, a pretexto de combater o terrorismo. Para muitos analistas, seria uma versão moderna e ampliada do Big Brother que tudo vê, do livro de Orwell. Por isso, “1984” voltou nesta semana à lista de best-sellers. No clássico de Orwell, todas as pessoas, num país imaginário chamado Oceânia, dominado por um déspota – o Grande Irmão – têm suas vidas filmadas 24 horas por dia, para que os agentes monitorassem qualquer ato que pudesse significar risco para o regime. É irônico que na vida real esse monitoramento esteja sendo feito por agentes dos Estados Unidos, uma república democrática governada por um presidente eleito pelo Partido Democrata.
O presidente Barack Obama, frente à repercussão internacional das notícias do “The Guardian”, saiu em defesa do monitoramento contínuo de ligações telefônicas e atividades na internet iniciado no governo de seu antecessor, o republicano George W. Bush, e incrementado em seu governo. E procurou tranquilizar a todos: “Não vemos o conteúdo das ligações, só a duração e os números”. Ou seja, é menos que filmar tudo que um cidadão faz e diz ao longo do dia.
As revelações do ex-agente podem ser tão desastrosas para a diplomacia dos Estados Unidos como foram os vazamentos do WikiLeaks, que transformaram Julian Assange no mais famoso refugiado dos últimos anos. Uma das frases do fundador do WikiLeaks tem forte impacto neste momento: “A internet, nossa maior ferramenta de emancipação, está sendo transformada no mais perigoso facilitador do totalitarismo que já vimos”. Snowden se encontra em Hong Kong, de onde enviou ao correspondente do “The Guardian” no Brasil, Glenn Greenwald, as informações que repercutiram em todo o mundo. O governo Obama vai tentar a extradição de Snowden, como fez com Assange, para que ele seja julgado nos EUA. É um equívoco: quem está em julgamento é a política de segurança do próprio Obama.