Diante da greve dos caminhoneiros, que chegou nesta quarta-feira (23) ao terceiro dia, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) divulgou nota afirmando que já identifica falta de produtos em alguns estados.
"Mesmo com o esforço do setor de supermercados para garantir o perfeito abastecimento da população brasileira, identificamos que alguns estados já começaram a sofrer com o desabastecimento de alimentos, e que isso poderá se estender para todo o Brasil nos próximos dias, se algo não for feito", diz a Abras.
No comunicado, o setor diz que procura "sensibilizar o governo federal para que uma solução seja tomada imediatamente".
A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) informou que a situação da distribuição de alimentos tem se agravado a cada dia. “Ainda não há levantamento completo dos prejuízos, mas apenas uma das empresas associadas relata mais de 1,1 mil toneladas de produtos não entregues a clientes, carregadas em caminhões que não chegam ao destino”, afirma a associação.
Veículos
Outra entidade que também alerta para possíveis prejuízos é a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que considera a situação preocupante e se permanecer, até o fim de semana, poderá levar à paralisação da produção de veículos.
"Muitas fábricas já pararam suas linhas de montagem e, se a greve dos caminhoneiros continuar até o fim de semana, é certo que todas as fábricas pararão. Com isso, teremos uma queda na produção, nas vendas e nas exportações de veículos, tendo como consequência impacto direto na balança comercial brasileira e na arrecadação de tributos”, afirmou o presidente da Anfavea, Antonio Megale, em nota.
Proteína animal
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estimam que a greve dos caminhoneiros poderá interromper 90% da produção de proteína animal no país.
“Mais de 85 mil funcionários das indústrias e cooperativas de proteína animal de diversos portes estão com as atividades suspensas nas unidades produtivas. Da mesma forma, os diversos fornecedores de insumos também estão sendo impactados”, diz a nota das entidades.
A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) informou que todo o setor de matérias primas vivas (boi, suíno, aves) e leite está sendo afetado pela greve. “Recebendo inúmeras queixas de caminhões transportando nossos produtos que são perecíveis e estão parados em várias regiões do país. São centenas de caminhões parados nas estradas com animais vivos, leite e produtos resfriados para serem entregues nos pontos de varejo em todo o país”, diz nota das entidades.
Rio de Janeiro
Na Central de Abastecimento (Ceasa) do Rio de Janeiro, já é possível perceber a falta de alimentos, como batata e cenoura, segundo a chefe da Divisão Técnica da Ceasa, engenheira agrônoma Rosana Moreira. A central recebe muitos produtos de Minas Gerais e São Paulo. Até mesmo carregamentos de alimentos produzidos no estado, como tomate e pimentão, não estão chegando por causa dos bloqueios nas rodovias feitos pelos caminhoneiros, que protestam contra a alta do diesel.
A escassez já tem impactado nos preços. A saca de 50 quilos da batata, por exemplo, na semana passada era vendida a R$ 60 e nesta terça-feira (22) chegou a R$ 350.
Segundo a engenheira, nas quartas-feiras, a central costuma registrar movimento entre 200 e 300 caminhões descarregando. Em função da greve, das 22h de ontem (22) até as 5h de hoje (23), a entrada de carga caiu 70%. Ontem, o movimento já havia diminuído 50%. Até o meio da tarde de hoje, somente 75 caminhões carregados entraram na Ceasa.
Em nota, a Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) informou que o maior reflexo é no abastecimento de itens perecíveis que precisam de reposição diária, como verduras e legumes. “Até o momento, o alimento mais afetado foi a batata; o valor aumentou em 200%”, diz.
Com a paralisação, fornecedores da indústria de laticínios e produtores de aves do estado está descartando a produção por não conseguirem escoar.
Segundo o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Sergio Duarte, empresas têm relatado prejuízos com a greve. Uma fabricante de batata palha, recebe o alimento in natura de Minas Gerais, perdeu toda a carga, avaliada em R$ 50 mil, porque a carreta com o alimento está presa desde segunda-feira (21) em bloqueio na cidade de Barbacena (MG). Outra companhia de Nova Friburgo, que trabalha com legumes e verduras, tem seis caminhões presos em bloqueios e também está descartando os produtos. Para Duarte, o cenário pode "provocar uma correria aos supermercados”.
Para a professora de economia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, Michele Nunes, a tendência é que os preços subam nas prateleiras por causa da escassez dos produtos. “Quanto maior a extensão da greve, maior o impacto nos preços. Isso vai pesar bastante no bolso dos consumidores”, afirmou.
São Paulo
A Associação Paulista de Supermercados (Apas) informa que as paralisações já causam desabastecimento nos supermercados, em especial nos itens de frutas, legumes e verduras, que são perecíveis e de abastecimento diário. A entidade ressalta que também carnes e produtos industrializados, que levam proteínas no processo de fabricação, também estão com as entregas comprometidas pelos atrasos no reabastecimento. Em nota, a diretoria da Apas faz um apelo para que as negociações entre governo federal e caminhoneiros tenham resoluções imediatas para que a "população não sofra com a falta de produtos de necessidade básica".
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