O grupo de sem-terra que invadiu o Instituto Lula na zona sul da capital paulista na manhã desta quarta-feira decidiu que permanecerá no local até quinta-feira (24) ao meio-dia. Os líderes do movimento alegaram que precisam consultar os assentados instalados no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de São Paulo e as famílias que estão no assentamento em Americana e Cosmópolis antes de decidir se aceitam a desocupação em troca de uma audiência com a presidência do Incra. "Não vamos sair daqui escorraçados", disse Paulo Albuquerque, um dos coordenadores da ação.
Para a liderança, a ação resultou em um avanço nas negociações com o governo federal, uma vez que 75 famílias devem ser desalojadas por mandado de reintegração de posse estabelecido pela justiça e que deve ser cumprido já na próxima semana. "O que tem de novo é um canal de negociação", comentou. O Incra ofereceu um encontro com os invasores na tarde de quinta. A direção do Instituto Lula já foi comunicada da permanência dos invasores.
Na opinião do advogado do grupo, Vandré Paladini Ferreira, que é também advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, a oferta de reunião do governo não representa avanço para solucionar o problema dos sem-terra, uma vez que a suspensão da reintegração de posse só adiaria o despejo, mas não representaria uma solução definitiva para as famílias. "É mais uma manobra (oferta de reunião em troca das desocupações) para tentar enrolar", avaliou.
Ele também reclamou da ausência de declarações oficiais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. "Eles estão fingindo que não foram afetados", afirmou. Ferreira se mostrou contra a possibilidade dos invasores deixarem o Instituto Lula em troca de uma reunião com o Incra. "A gente não vai abdicar dos nossos instrumentos de pressão, porque a gente perde a força", disse.
O advogado lembrou que a decisão de ocupar o Instituto Lula foi tomada em assembleia pelos assentados e admitiu que a medida teve um cunho político. "É óbvio que é uma ação política, mas não é uma ação partidária", apontou. O representante dos invasores disse considerar legítima a participação de grupos políticos e de movimentos sociais na ação desta quarta, entre elas o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). "Nada é mais natural que continuem nos apoiando."
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