HÁ ESPAÇO PARA OTIMISMO?

22/12/2016 às 16:39.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:11

Tanto empresários do comércio atacadista quanto empresários do comércio varejista têm indagado sobre as perspectivas da economia brasileira ao longo dos próximos meses. A resposta a esta indagação é fundamental para que possam definir as estratégias de seus negócios. Essas estratégias exigem que prevejam com a menor incerteza possível a demanda dos consumidores e o custo do dinheiro no curso do tempo.

Entre agosto e setembro de 1921, Keynes já alertava, em uma série de artigos para o jornal britânico Sunday Times, que, num contexto recessivo, quando os empresários se enganam em grande escala nas suas previsões e antecipações “energia é desperdiçada, fortunas são perdidas, empresas se desorganizam e, enfim, o comércio declina”. 

As estatísticas sobre o número de empreendimentos comerciais que têm fracassado, desde o início da atual recessão, no segundo trimestre de 2014, são assustadoras. As causas da atual recessão são múltiplas e complexas e impactam negativamente as atividades comerciais que acabam vendendo e estocando menos, desempregando mais e se descapitalizando ainda mais.

Assim, diante do atual trimestre que é tradicionalmente de um ciclo especial de vendas mais elevadas ao longo do ano, fica a indagação: haverá uma recuperação das vendas neste final de ano? Não resta dúvida de que a mudança da equipe econômica, de um grupo adepto a um Keynesianismo ingênuo e voluntarista para outro grupo mais sólido teoricamente e mais experiente operacionalmente, conseguiu inflexionar a curva de pessimismo crônico que dominava até então produtores, consumidores e investidores. Mas essa inflexão não é suficiente, ainda, para propulsionar as decisões desses protagonistas no sentido de conduzir à retomada do crescimento da economia brasileira.

As principais decisões de política econômica do Governo Federal estão centradas na fixação de um teto para os seus gastos e, complementarmente, na reforma da Previdência. Medidas absolutamente indispensáveis que estão, contudo, gerando controvérsias, críticas e dissidências. Mas, para resposta à indagação que nos interessa de imediato, relativa ao impacto dessas medidas ao longo dos próximos meses, ou seja, no curto prazo, são decisões pouco significativas.

Se quisermos resolver problemas de curto prazo, como os que estamos vivendo no presente, com ajustes e reformas que são eficazes no longo prazo, as políticas econômicas podem não ter sucesso.

Particularmente em situações críticas de inconsistências macroeconômicas, com déficits nominais muito acentuados e crescente relação de endividamento público, a sociedade inclina-se a considerar políticas de médio e de longo prazo como supérfluas e residuais. Pressionada pelo desemprego em alta, pela perda de poder aquisitivo e pela escassez dos serviços públicos de qualidade, a opinião pública passa a ter um tempo de paciência e tolerância política mais curto, que não resiste à cronologia do tempo econômico necessário para as soluções de problemas críticos. 

A alternativa mais adequada para sair deste impasse, superando as tensões e conflitos recorrentes, está na gestão da política monetária de curto prazo. A conjugação simultânea de uma ampla capacidade produtiva ociosa no parque industrial, de altos índices de desemprego da mão de obra, de uma taxa de juros nominais em profundo descompasso com as projeções de inflação declinante, abre espaço para uma expressiva e persistente queda nos juros reais da economia brasileira. O que poderá rapidamente induzir um ciclo de crescimento não inflacionário, abrindo espaço para mais otimismo e mais confiança no progresso econômico do País. 

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