DAMASCO - O Hezbollah libanês lutava nesta segunda-feira (20) na linha de frente de combate junto com o Exército sírio contra os rebeldes em Qousseir, uma cidade estratégica onde o movimento xiita perdeu nesta batalha ao menos 28 de seus combatentes.
No norte de Damasco, o Exército avançou em parte do bairro de Barzé, sob controle rebelde, que foi bombardeado sem cessar pela artilharia.
As forças de Bashar al-Assad e de seu aliado xiita Hezbollah lançaram no domingo um ataque a Qousseir, localidade estratégica para o regime, já que liga a capital Damasco com o litoral, mas também para os rebeldes, porque serve de passagem para as armas e combatentes do Líbano.
Segundo uma fonte militar síria, o Exército se apoderou do sul, do leste e do centro da cidade, e se dirigia ao norte, onde os rebeldes se entrincheiraram.
Os rebeldes, que controlam a área há mais de um ano, negaram esse avanço.
Segundo a rede de televisão oficial, "o Exército persegue os terroristas (rebeldes) nos setores norte e oeste de Qousseir".
O jornal Al-Watan, ligado ao regime, indicou que o Exército tem o controle da "maioria dos locais vitais" da cidade e "destruiu o quartel-general dos rebeldes". Muitos comandantes rebeldes retiraram-se em direção a Trípoli, grande cidade do norte do Líbano, segundo o jornal.
Fortemente presente nos combates de rua, o Hezbollah libanês, que se envolveu em guerras contra Israel, tem um papel importante nos combates na Síria, onde perdeu 28 "membros de elite" no domingo, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Uma fonte do partido xiita libanês indicou 20 mortos e 30 feridos nos combates.
"Foram eles que começaram o ataque no domingo, entraram na frente e por isso perderam 28 homens", explicou Rami Abdel Rahman, presidente do OSDH, ONG próxima aos insurgentes e que se baseia em uma rede de fontes militares e médicas na Síria.
O corpo de um deles, Fadi Jazar, que já havia sido preso por Israel antes de ser libertado em 2004 durante uma troca de prisioneiros, foi levado para Beirute, onde um funeral foi organizado nesta segunda, segundo um fotógrafo da AFP.
"Ataque asfixiante"
Os rebeldes de Qousseir denunciaram "um ataque asfixiante efetuado pelo regime e pelo Hezbollah libanês". "Qousseir era bombardeada por todos os lados", afirmou via Skype à AFP Hadi Abdullah, um insurgente na frente de batalha.
"Ao contrário do que o regime diz, não há saída para os civis. Cada vez que tentamos retirar alguém, atiradores emboscados disparam contra nós, inclusive contra crianças e mulheres", acrescentou.
"O Exército controla a parte leste e o Hezbollah tenta avançar para o interior da cidade", indicou, acrescentando que "as pessoas dormem no chão. Se escondem porque tentar deixar a cidade é suicídio".
"A água foi cortada e não há eletricidade há quatro meses. Só resta mato para comer. O estado dos feridos é dramático. Hoje, quarenta pessoas foram feridas e nós não temos medicamentos, nem equipamentos, para tratá-los", relatou.
Na mesma província de Homs, a artilharia síria bombardeou a cidade rebelde de Rastan, segundo o OSDH.
Na cidade de Raqqa, no norte do país, um ataque aéreo causou a morte de uma mulher e de oito crianças.
A batalha decisiva de Qousseir é travada dois dias antes da reunião na quarta-feira em Amã do grupo "Amigos da Síria", formado por países hostis ao regime de Assad. Onze ministros participarão da reunião, entre eles o secretário americano de Estado, John Kerry.
Outra reunião será realizada posteriormente em Istambul com a participação dos grupos opositores sírios, e nela se decidirá se estes participarão da conferência internacional que os Estados Unidos e a Rússia pretendem organizar em junho para tentar acabar com dois anos de uma guerra civil que já deixou ao menos 94.000 mortos, de acordo com o OSDH.
No domingo, 164 pessoas -- 27 civis, 102 rebeldes, 35 soldados-- morreram em meio à violência na Síria.
No plano humanitário, a organização Oxfam lançou um apelo urgente por doações, alertando que o verão aumentará os problemas de saúde entre os milhares de refugiados sírios, particularmente na Jordânia e no Líbano, devido às más condições de higiene nos locais.