(VITRINE/DIVULGAÇÃO)
Os primeiros reflexos da determinação do governo federal em tirar o cinema da linha de patrocínios da Petrobras já se fazem sentir, com o anúncio da suspensão da parceria da estatal petrolífera com a “Sessão Vitrine”, importante projeto de exibição dedicado a filmes independentes produzidos no país. O documentário “Lembro mais dos Corvos”, de Gustavo Vinagre, que entra em cartaz hoje, encerra um vínculo que beneficiou 16 títulos, entre eles o mineiro “Temporada”, de André Novais de Oliveira. “Estávamos em processo de renovação desde o ano passado, mas fomos informados que não haverá continuidade”, afirma Talita Arruda, coordenadora do projeto.
A parceria começou em 2017 e, ao todo, foram apresentados 25 títulos que, devido ao formato de produção, não teriam a mesma visibilidade (mais de 20 cidades do país) e acessibilidade (os ingressos saem por R$ 12). Os coordenadores ainda não falam em dar um desfecho ao programa, mas sabem que a abrangência será menor. “É um retrocesso a perda deste patrocínio. Por ser uma notícia recente, ainda não sabemos como iremos seguir. Nosso desejo é não parar e vamos pôr o máximo de esforço para que o projeto prossiga, embora o cenário não seja muito promissor”, registra Talita. Um dos filmes que estavam no próximo pacote era “Querência”, do diretor mineiro Helvécio Marins Jr. O longa-metragem será lançado neste ano, a partir de uma verba de distribuição prevista no Fundo Setorial do Audiovisual, mas a coordenadora teme que até mesmo esse programa governamental seja interrompido. Filmes alternativosA “Sessão Vitrine” aconteceu pela primeira vez em 2011 e 2013. A falta de patrocínio levou à suspensão do projeto até 2017, quando retornou com o apoio da Petrobras. Um dos longas-metragens contemplados foi “Baronesa”, vencedor da Mostra de Cinema de Tiradentes de 2016 e dirigido por Juliana Antunes. “A distribuição que fazem é super interessante, pegando filmes que não teriam alcance comercial, como é o caso de ‘Baronesa’, para lançá-los em várias salas do circuito. A gente sabe como é difícil um filme alternativo brasileiro chegar em 20 salas”, analisa Juliana, que destaca o fato de seu primeiro longa ter ficado dois meses em cartaz em alguns cinemas. Ela lembra que “Baronesa” foi feito com um orçamento de R$ 50 mil, metade do valor de um curta-metragem. “É um trabalho de guerrilha. (Com tão poucos recursos) Esse filme só foi possível pela Sessão Vitrine. Dificilmente chegaria de outra maneira, porque não tínhamos um centavo sequer para fazer a distribuição”, assinala. Em seu site, a Petrobras informa que “construiu um forte elo com o cinema nacional” desde 1995, “tornando-se a maior parceira da Retomada do Cinema Brasileiro, tendo patrocinado mais de 500 longas-metragens”. Recentemente, a estatal soltou nota dizendo que “está revisando sua política de patrocínios, em alinhamento ao novo posicionamento da marca da empresa, com foco em ciência e tecnologia e educação, principalmente infantil”.