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Neste 2 de abril, Dia Mundial da Conscientização do Autismo, uma mãe reflete sobre falta de empatia dos adolescentes ao se aproximar dos portadores com o transtorno e uma psicóloga diz que discriminação ainda persiste no mercado de trabalho.
Vivian Franco tinha apenas 13 anos quando se apaixonou pelo balé. A jovem, que hoje tem 19, fazia aulas em Campinas, interior de São Paulo, onde logo cedo descobriu o que é ser discriminada por ter autismo. Devido ao distúrbio, sua professora a excluiu num canto do palco, onde a menina apenas levantava e abaixava as mãos enquanto as outras crianças ensaiavam.
O preconceito e a desinformação ganhava cada vez mais espaço na vida de Vivian conforme a garota crescia. A diretora da escola onde ela estudou por quase dez anos dizia que a menina não iria se alfabetizar, por mais que especialistas dissessem que ela era capaz de ler e escrever. "Eu chamava os profissionais que a acompanhavam e nunca se fazia nada. Só hoje que ela está melhorando com a leitura e a escrita", recorda a mãe, Rosana Franco.
A falta de preparo dos educadores para lidar com o autismo de Vivian e a dificuldade que a pequena tinha com o aprendizado levaram a mulher a tirá-la da escola quando a menina estava na oitava série. "Os adolescentes podem ser cruéis entre os 14 e os 17 anos. Não queria ver minha filha sofrendo bullying. Ela é muito emotiva", explicou. Desde então, a jovem faz natação, fisioterapia, fonoaudiologia, treinamento ABA, Kumon (método que desenvolve o autodidatismo em estudantes) e lida mais com adultos do que pessoas da idade dela.
Solidão
Rosana não recrimina os adolescentes, porque acredita que eles têm o próprio mundo, assim como os autistas. Mas a falta de iniciativa da juventude em se aproximar desse público a incomoda. "O autista é muito solitário nessa fase. Seria uma maravilha se os colegas que ela teve no colégio por anos ligassem para ela com um 'oi, Vivian. Estamos juntando uma turminha, vamos ao cinema. Você quer ir?'", diz.
"Nunca vi adolescentes sem deficiências ou distúrbios acompanhados de alguém especial. O autista está sempre com a família, com pessoas mais velhas", afirma.
A psicóloga e especialista em autismo Marina Ramos afirma que os indivíduos com autismo sente dificuldades em se adequar aos assuntos da juventude, o que leva muitos adolescentes a os excluírem do convívio. "A adolescência é um período em que a gente começa a sair, paquerar, e os autistas têm dificuldades em acompanhar isso, então não é muito reforçador para essa faixa etária tê-los por perto", lamenta.
"Isso sem contar a questão do bullying e das 'zoações', o que pode causar muita insegurança, baixa autoestima, transtornos de ansiedade e depressão neles".
Marina diz também que o despreparo ao lidar com uma pessoa com autismo parte, muita vezes, da desinformação sobre o assunto. Segundo ela, o primeiro passo é ter empatia e julgar menos as dificuldades e atitudes do outro.
"Quando falamos de um autista com um quadro mais grave, as pessoas tendem a se sensibilizar mais. Mas, quando é moderado ou leve, não fica evidente que ele tem o espectro, o que pode causar um certo estranhamento. É necessário se atentar a isso", explica.
Autistas têm muito a oferecer para as empresas. Mas a falta de empatia também atravessa o mundo corporativo. Vivian está se preparando para o mercado de trabalho em um estágio no Grupo Conduzir, uma clínica de intervenção no comportamento infantil, onde desenvolve habilidades sociais para lidar com o mercado de trabalho real.
Apesar da iniciativa inclusiva, as empresas ainda são relutantes em contratar autistas e apoiar esse tipo de projeto. Marina Ramos explica que isso se dá porque o portador do espectro concorre, pela Lei de Cotas (nº 8213/91) ao lado de pessoas com outros transtornos, síndromes e deficiências. Assim, as companhias abrem pouco espaço para quem tem déficits cognitivos por, muitas vezes, receio de perderem produtividade.
"Não existem oportunidades. O que está acontecendo no Brasil é que algumas empresas de tecnologia estão abrindo espaço para autistas de grande funcionamento. Ou seja, aqueles que têm dificuldades sociais, mas possuem habilidades com softwares e computadores", conta. "Apesar de promover a inclusão, esse grupo é muito pequeno e não representa a realidade da maioria dos autistas", pondera.
A psicóloga diz ainda que é vantajoso para a empresa contratar autistas, pois eles apresentam qualidades que muitos não têm. "Eles são pontuais e não vão atrasar e nem sair mais cedo. Além disso, gostam de cumprir regras e rotinas, não saem da rota e cumprem os compromissos piamente, porque têm um alto poder de concentração", afirma. "Os autistas também são sempre honestos, porque sentem dificuldade em mentir", pontua.
Diante disso, Marina Ramos destaca que um dos pontos principais do Dia Mundial da Conscientização do Autismo é mostrar que as empresas podem empregar o autista tradicional, e não só o gênio ou o que tem características leves.
Diferente dos Estados Unidos, não há estatísticas no Brasil de quantas pessoas autistas existem no País, mas a especialista alerta que o preconceito e falta de informação das corporações podem deixar muitas pessoas à margem da sociedade, diminuindo a geração de renda e a produção.
Pesquisadores de todo o mundo ainda estão procurando a cura do espectro. Diferente da síndrome de Down, na qual uma alteração genética se dá no cromossomo 21, ainda não se sabe qual questão genética gera o distúrbio. Existem pessoas que são diagnosticadas na fase adulta, mas Marina explica que a partir dos 18 meses de vida já é possível identificar sinais. Confira abaixo:
1. Contato visual: essa é a primeira forma de criar uma interação, sobretudo quando a criança está no colo da mãe. No entanto, as pessoas com autismo sentem dificuldades com isso.
2. Atenção compartilhada: essa é a habilidade de repartir tarefas e experiências com uma outra pessoa, desde colocar um papel sobre uma prateleira até ter a percepção de que uma conversa está chata ou se está sendo inconveniente. O portador do autismo foca muito nele mesmo e não consegue captar a emoção do outro, ter empatia e lidar com os estímulos externos a ele.
3. Atraso na fala: espera-se que a criança se comunique com o ambiente por fala ou sinais até os dois anos. Pessoas com autismo podem demorar mais.
Vivian Franco tem dificuldades na fala e foi diagnosticada com autismo aos 11 anos, apesar de Rosana sentir os déficits da filha desde cedo. Hoje, os cuidados da terapia ABA e seu acompanhamento no trabalho criam perspectivas de conquistar a independência. Apaixonada por moda e beleza, ela sonha em trabalhar numa marca de sapatos e tem o desejo de crescer na sociedade como qualquer outra pessoa.
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