'Indicações' de remédios contra Covid viralizam e preocupam médicos; agora é a vez da ivermectina

Luciano Dias e Renata Galdino
horizontes@hojeemdia.com.br
14/07/2020 às 08:46.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:01
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia )

(Maurício Vieira/Hoje em Dia )

Remédios para prevenir ou curar a Covid-19. Vira e mexe, “indicações” circulam nas redes sociais. A mais recente diz respeito ao ivermectina, vermífugo que, devido ao aumento pela procura nos últimos dias, desapareceu das prateleiras de algumas farmácias de B H. Ainda sem comprovação científica de que o fármaco tenha resultado positivo no tratamento contra o novo coronavírus, especialistas temem que a automedicação acabe intoxicando muitas pessoas por aí.

A alta demanda pela ivermectina levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ontem, a informar sobre a inexistência de estudos que comprovem o uso da fórmula para curar a Covid-19. Porém, também ressaltou que não há pesquisas que refutem o uso para combater a enfermidade.

“Eu compreendo (a procura) porque todo mundo fica buscando a solução. Mas esse medicamento nunca entrou em protocolos (do Ministério da Saúde), não há como chancelar que ele terá algum efeito preventivo e terapêutico no caso da Covid. A hidroxicloroquina é polêmica, mas está autorizada a ser usada desde que o médico diga ao paciente que ela está no âmbito de pesquisa. Mas a ivermectina não entrou (nas diretrizes). Ela mostrou um benefício em laboratório e isso nunca replicou na condução de um caso clínico”, frisa o clínico geral Angelo Pimenta, médico intensivista do Hospital Felício Rocho.

Até o momento, o fármaco é recomendado para tratamento de infecções causadas por vermes e parasitas que se instalam no organismo, além de problemas relacionados a ácaros, como sarna e piolho. 

“Se atendemos dez ligações, todas são perguntando pelos comprimidos. Percebemos esse aumento de procura nos últimos dias, quando os boatos de que o remédio é eficaz contra o coronavírus se espalharam. Mas se tomar de maneira errada, pode até comprometer a saúde"Italo DiasBalconista de uma farmácia no bairro Camargos, região Noroeste de BH

 O consumo de forma errada por trazer sérios problemas à saúde, enfatiza a presidente do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF-MG), Júnia Célia Medeiros. A automedicação preocupa. “Esse medicamento não tem dose estabelecida, não é conhecido como antiviral. Isso não é prevenção”, destacou.

Corrida nas farmácias
Mesmo sem benefícios comprovados no tratamento contra a Covid, tem muita gente querendo garantir o remédio sob a alegação de que “ainda é vendido sem receita”. 

O Hoje em Dia procurou dez farmácias da capital e, em algumas, a substância tem se esgotado rapidamente. “Acabou. A procura tem sido grande. Não estamos achando nem na distribuidora mais”, disse a atendente de uma drogaria.

 Sem evidências científicas

Além da ivermectina, há outros remédios que constantemente ganham espaço nas discussões sobre o combate ao coronavírus. A cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina são os mais citados. Um protocolo do Ministério da Saúde, publicado em maio, indica o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina para todos os casos de Covid-19, dos mais leves aos mais graves. No mês passado, a recomendação incluiu crianças e gestantes. 

Mas o Conselho Regional de Medicina de Minas esclarece que, atualmente, não há evidências científicas para indicação desses fármacos no tratamento contra o novo coronavírus. 

A entidade defende a autonomia do médico, que pode prescrever ou não quaisquer desses medicamentos, preconizando sempre os cuidados protetivos, como isolamento social, higiene rigorosa e uso de máscaras. Ainda segundo o CRM, a prescrição do especialista, neste momento de pandemia, não caracteriza infração ética. “O médico que optar por prescrever tais medicamentos deverá elaborar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, detalhado, compreendido e assinado pelo paciente. A conduta do médico deve ser anotada no prontuário, seja ela de prescrição ou não”, explicou o conselho, em nota.

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