Ana Maria Machado
Ana Maria Machado já ganhou muitos prêmios, como o Hans Christian Andersen, o mais importante do mundo para a literatura infantil, e o Machado de Assis, pelo conjunto da obra. Mas nada repercutiu tanto quanto a derrota que sofreu no Jabuti, no ano passado. Ela era a favorita de dois dos três jurados, mas sua obra perdeu por causa desse terceiro, o famoso jurado C, que deu zero para seu livro.
O título em questão era Infâmia (Alfaguara), e a hora dele finalmente chegou. Terça, 3, na abertura da 15.ª Jornada de Literatura de Passo Fundo (RS), ele foi anunciado como o romance vencedor do 8.º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, no valor de R$ 150 mil - um dos mais altos do País. Concorreram obras escritas em português e publicadas no Brasil nos últimos anos. Ao lado dela, na lista de finalistas, nomes como João Gilberto Noll e Luiz Ruffato.
"Quando soube do prêmio, a sensação de reparação de uma injustiça entrou forte na alegria", comentou ontem, 28, em Passo Fundo. "Na vida, as coisas tendem a seguir um equilíbrio. Talvez a linguagem popular dissesse O que é do homem o bicho não come. Talvez o Zagalo dissesse Tiveram que me engolir", brincou a imortal e presidente da Academia Brasileira de Letras.
Baseado em fatos reais, Infâmia fala do limite entre o verdadeiro e o falso. São dois os personagens principais: um embaixador que recebe um envelope com documentos sobre sua filha morta e um funcionário público falsamente acusado de corrupto.
Ana Maria terminou há pouco um infantil, que está descansando "na nuvem". Entre outubro e novembro lança, pela Objetiva, a novela juvenil Enquanto o Dia Não Chega - uma história que se passa no século 17 e se alterna entre uma aldeia africana e outra portuguesa e um colégio de jesuítas.
Seus leitores adultos, porém, devem esperar um pouco mais por outro romance. "Estava com uma história na cabeça, mas aí alguém publicou um livro sobre o assunto. Desisti do projeto. Mas, com o prêmio, vou poder parar um tempo e financiar um silêncio para mim e ver como dar rumo, ou não, a esse tema que me assombra", conta.
Ela não revela o assunto por medo de perdê-lo. "O momento de escrever é muito próximo do inconsciente. Pôr em palavras, é dar uma forma verbal a certas sensações que são ainda muito difusas e a certas percepções inconscientes. Na hora de botar no papel, ela perde a espontaneidade", conclui.
A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA JORNADA DE PASSO FUNDO
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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